quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O calvário de um adolescente brasileiro nos porões da ditadura chilena

© Foto de Evandro Teixeira. Os presos eram levados ao Estádio Nacional após o golpe militar do Chile, 1973.

Após o sangrento golpe militar de 11 de setembro de 1973 no Chile, milhares de presos políticos foram encarcerados no Estádio Nacional, que serviu de campo de concentração. Na época o meu irmão Pedro (Didi), com apenas 17 anos, foi preso e encaminhado ao estádio onde sofreu topo tipo de tortura física e moral. “Caí preso por azar, estava na casa de amigos chilenos quando chegou um pelotão do Exército, que fazia uma operação pente fino no bairro. Como o meu pai integrava a lista das primeiras pessoas procuradas pela Junta Militar, fui levado imediatamente para o ônibus estacionado na frente da casa, aos socos e pontapés. Passei uma semana esquecido num porão. Logo após, teria uma nova surpresa. Na tribuna de honra do estádio, havia um grupo de policiais brasileiros que foram enviados para lá para interrogar e torturar os presos provenientes do Brasil”, assim o meu irmão definiu o calvário vivido após a sua prisão. Durante os três meses em que o meu irmão ficou preso, minha mãe recebeu um bilhete dele trazido por pessoas da ONU, com um auto-retrato que ele desenhou e até hoje me faz chorar: “Mãe, te mando esta caricatura minha para que você possa ficar perto de mim, mas não chore, porque você é a mãe mais valente que vi em minha vida”.