Na cruel-ritiba ...ou no país do cacete ou no faroeste caboclo
Pérolas de cidadania retroativa
do blog CATATAU aqui
O Brasil está muito curioso. Basta ver o que ocorreu só em Curitiba no espaço de uma semana:
Devido a um fato isolado, um grupo de policiais generaliza a palavra “bandido” e acabacom um carnaval inteiro, expulsando a pauladas e balas de borracha transeuntes e foliões (gente comum, eu e você).
Por
alguma omissão básica de engenharia, devido ao calor o concreto de uma
avenida (colocado não faz muito tempo) simplesmente se acavalou e ergueu a rua inteira, pondo em risco muita gente.
Semana passada um torcedor voltava de um estádio quando foi atropelado por um carro que chegava na cidade a 140 Km/h. Outro descuidado.
E hoje outro ciclista – profissional – foi morto por
imprudência. Um caminhão desgovernado simplesmente invadiu o
acostamento da BR – em trecho costumeiro de treino, lazer e deslocamento
de ciclistas – e matou o ciclista, fugindo sem prestar socorro.
Junte lé com cré e tem-se:
A
polícia não fez um esquema apropriado para o evento e, para reagir, não
reagiu apropriadamente: a falta de planejamento e medida só se revela publicamente depois de uma desmedida descabida como essa.
A obra da rua não recebeu a devida atenção de engenharia: a falta de planejamento e má aplicação da verba pública só se revelaram com o concreto brotando do solo.
A
concessionária responsável pela BR 277, próxima ao estádio, não
construiu uma passarela solicitada publicamente há meses. E a rodovia
não recebe fiscalização frequente de qualquer órgão de trânsito. A
omissão de compromisso, a imprudência diária dos motoristas (140km/h…) e
o descaso só se revelaram depois de morrer alguém.
No
caso do caminhão, dizem que o motorista pode ter cochilado no volante.
Novo caso de falta de fiscalização (se existisse alguma os motoristas
teriam mais atenção etc.), só revelado depois de outra morte.
Moral da história?
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Homens bons da polícia colocam ordem, agora no próprio carnaval
Os
homens bons da polícia militar curitibana novamente acabaram com uma
terrível manifestação de bandidos, vagabundos e desordeiros ocorrida no
afamado “Garibaldis e Sacis”, pré-carnaval da cidade já em sua 13ª
edição.
Filmagens mostram a movimentação da marginalia durante
o dia e seu sórdido complô de pular carnaval. Os marginais
criminosamente diziam que aquela festança mostrava ao curitibano que na
capital paranaense realmente há carnaval.
Carnaval em Curitiba?
Diz-se
que uma garrafa lançada contra uma viatura começou o tumulto. Incapaz
de detectar o meliante, a inteligência policial foi ágil na conclusão:
todos são meliantes! Grávidas, crianças, transeuntes, foliões, se
estiver na frente do cacete é culpado.
Os próprios policiais se manifestaram no Facebook:
Batemos pouco….. pra quem nao sabe festar….. a polícia sabe ‘educar’” (sic), postou. “Quem é enfrenta a polícia….. é bandido”
, isto é, o sarrafo é a lei – uma vez empregado é correto, incontestável. Ou
Defendo meu estado com unhas e dentes, no meu caso, com borrachada e BOMBAA!
,
declaração de que o carnaval era uma grave afronta ao Estado de direito
e os homens bons da polícia estavam no Largo para preservar a famosa
ordem, tão facilmente constatável no mesmo autocontrole da polícia.
Avante homens bons da polícia! Vocês têm mostrado certa linha de ação bastante curiosa, baixando a crista a certo tipo de “autoridade” – especialmente corrupta – e descendo desmesuradamente o cacete em famílias, foliões e viciados. Quem quer mesmo pular carnaval, extravasar as energias de modo festivo? Afinal, no exemplo de Curitiba os resultados mostram muito bem onde os bandidos não estão (para tanta desmedida policial repentina, imaginemos onde ela se ausenta).
Lembrem
apenas dos bombeiros no Rio de Janeiro ou do descontentamento geral dos
policiais brasileiros. Acreditando que há de fato “ordem” e não se
enxergando como parte do povo, vocês verão bem o que acontecerá quando
não corresponderem mais aos interesses de quem protegem tanto. Se
olharem bem, talvez descubram que o mesmo “Estado” que balança o
cassetete contra o povo balança também contra vocês
(basta ver como a perigosa discussão sobre o direito dos policiais à
greve agora se esconde atrás de outra, a do piso nacional). Mas e então,
vocês estão aí para quê, mesmo?