quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012


Quarta-feira, 8 de Fevereiro de 2012

O que significa "ideologia"?

Em comentário ao texto Não sacrifica as elites, o leitor Carlos Lopes Pires, co-autor do blogue Dúvida Metódica, faculta-nos o esclarecimento equívoca noção de Ideologia. Agradecendo a atenção e com sua autorização, adaptámos o texto que publicou aqui.


A palavra ideologia não assume sempre a mesma conotação: por vezea é utilizada com um sentido positivo, outras vezes com um sentido negativo.
Pode remeter para um conjunto de ideais e princípios, ou seja, ideias acerca do modo como as coisas deveriam ser, nomeadamente na política. Por exemplo: o socialismo e o liberalismo são ideologias políticas. Dito por outras palavras: “qualquer sistema abrangente de crenças, categorias e maneiras de pensar que possa constituir o fundamento de projectos de acção política e social é uma ideologia: um esquema conceptual com uma aplicação prática” (Blackburn, 1997, 219).
Mas pode remeter também para um conjunto de preconceitos, de ideias anteriores à experiência e à análise crítica e racional e que, nas palavras de Blackburn (1997, 219), funcionam como “uma espécie de óculos que distorcem e dissimulam” a realidade. Nesta acepção, a ideologia leva a ajustar os factos à teoria e não a teoria aos factos, ou seja, é uma maneira de pensar que deturpa e ilude.
Nem sempre é óbvio se estamos perante o primeiro ou no segundo sentido de ideologia. Sucede por vezes que os adversários de uma ideologia no primeiro sentido (por exemplo, alguns socialistas quando criticam o liberalismo ou alguns liberais quando criticam o socialismo) a tentam reduzir ao segundo sentido.
E, em certos casos, são os próprios defensores de uma ideologia a fazer essa redução do primeiro ao segundo sentido: agarram-se tão cega e teimosamente aos seus ideais que estes se tornam meros preconceitos - ideias cristalizadas incapazes de explicar o mundo e as suas mudanças, repetidas com convicção e paixão mas de modo acrítico.
Poderemos dizer que “a marca segura de ideologia, tanto na ciência e filosofia como na política, é a negação de factos óbvios” (McGinn, 2007, 63).

Carlos Lopes Pires
Obras referidas:
- Blackburn, Simon (1997). Dicionário de Filosofia. Lisboa: Gradiva
- McGinn, Colin (2007). Como se faz um filósofo. Lisboa: Bizâncio.