Nem corte de salário mínimo na Grécia satisfaz europeus.
Atenas espera aprovação de acordo para receber pacote de € 130 bilhões
Taxa de desemprego no país sobe para 20,9% da população economicamente
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| Thanassis Stavrakis/Associated Press |
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Manifestantes protestam em Atenas contra cortes do governo |
RODRIGO RUSSO DE LONDRES
O drama da Grécia ainda não chegou ao fim. No dia em que os líderes
partidários anunciaram um acordo sobre novas e duras medidas de
austeridade, a agência grega de estatísticas divulgou que o país
alcançou nível recorde de desemprego.
Para agravar o cenário, as autoridades europeias receberam com
desconfiança as medidas, que incluem demissões e redução no valor do
salário mínimo. Para os ministros das Finanças da zona do euro, reunidos
em Bruxelas, nada disso foi suficiente.
"As negociações ainda não cumprem as condições que descrevemos
claramente no Conselho Europeu", disse o ministro das Finanças da
Alemanha, Wolfgang Schäuble.
O número de desempregados na Grécia chegou ao recorde de 20,9% da
população economicamente ativa em novembro de 2011 -mais de 1 milhão de
pessoas.
O resultado pode ser atribuído à aplicação de políticas de austeridade
nos últimos dois anos: em novembro de 2010, 13,4% da população estava
sem emprego.
Ainda assim, a coalizão política do primeiro-ministro Lucas Papademos,
que inclui socialistas, conservadores e ultradireitistas, acerta novas
medidas restritivas com o Banco Central Europeu, a Comissão Europeia e o
Fundo Monetário Internacional.
Os credores sabem da posição delicada da Grécia: sem o acordo, o país
não terá acesso a um novo empréstimo, de € 130 bilhões, fundamental para
o pagamento de uma dívida de € 14,5 bilhões que vence em março. Um
calote agravaria a situação e poria em risco a permanência do país na
zona do euro.
Dessa maneira, a Europa consegue impor à Grécia medidas bastante
impopulares, como um corte de 22% no salário mínimo (hoje de € 751), com
redução adicional de 10% nos salários de menores de 25 anos, e a
demissão, até 2015, de 15 mil funcionários públicos.
O salário mínimo ficará congelado por três anos. Para os demais níveis
de renda, o congelamento dura até que o desemprego alcance o índice de
10%. Para preservar a Previdência, o ponto que travou as discussões, o
país fará cortes adicionais de € 300 milhões em Defesa e outras áreas.
No total, os cortes chegarão a € 3,3 bilhões.
A Grécia precisa reduzir sua dívida, hoje em 160% do PIB, para 120% até
2020. Para isso, o FMI e agências de classificação de risco consideram
que apenas o acordo com os credores privados será insuficiente, e cobram
maior participação do BCE.
Mario Draghi, presidente do banco, o maior credor individual do país,
descartou a possibilidade de perder dinheiro para chegar a um acordo,
mas deixou aberta a opção de abrir mão dos lucros que os títulos
gerariam.
Os sindicatos locais convocaram uma nova greve geral para hoje e amanhã,
além de manifestações contrárias às medidas de austeridade. O
Parlamento deve votar o plano neste fim de semana.
Com eleições nos próximos meses, o governo já teve sua primeira baixa:
Yannis Koutsoukos, vice-ministro do Trabalho, renunciou ao cargo e
afirmou que o pacote é "muito doloroso para a classe trabalhadora" da
Grécia.
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