quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Estado

Não creia em bruxas, mas que as há, ah há!

19 de dezembro de 2012 | 2h 05
JOSÉ NÊUMANNE
 
Em Paris, cenário favorito para desabafos de presidentes petistas, Dilma Rousseff fez uma digressão interessante sobre suas convicções pessoais a respeito de corrupção de agentes públicos: ela é a favor de tolerância zero para pôr fim aos malfeitos dos larápios, mas contra a "caça às bruxas". O combate sem trégua é dirigido indiscriminadamente contra quem desafiar seu indômito espírito republicano e a vigilância que ela anuncia para evitar malversação do erário. A exceção refere-se a seu ex-chefe, padrinho e antecessor Luiz Inácio Lula da Silva, sobre quem quaisquer suspeitas, por mais que apoiadas em provas ou evidências, são por ela consideradas uma "indignidade".

A tolerância zero da presidente não garante lisura na gestão do dinheiro público, mas revela seu estilo de mando. É de todos conhecida a curtíssima extensão do pavio da chefe de governo: suas explosões de mau gênio são tão estridentes que os impropérios atravessaram os geralmente indevassáveis salões e corredores palacianos, tornando-se famigerados. Quanto à corrupção propriamente dita, sua reação é, sem nenhuma intenção de desrespeitá-la, pavloviana: cada auxiliar de alto escalão que não tenha a proteção de sua benquerença, ao ser denunciado, é logo demitido. Os que habitam os desvãos secretos de seus afetos não recebem tratamento isonômico. É notório o caso do ministro Fernando Pimentel, cujo cargo foi mantido sem que nunca tivesse sido esclarecido de que sabença dispõe para justificar os altíssimos preços pagos por suas palestras. Para poupá-lo a chefe chegou a levar um ícone da antiga moral petista, o ex-ministro Sepúlveda Pertence, a renunciar à Comissão de Ética da Presidência da República, após não reconduzir membros interessados na contabilidade da consultoria de seu auxiliar do peito.