Unicamp
Jornal da Unicamp
Baixar versão em PDF Campinas, 10 de dezembro de 2012 a 16 de dezembro de 2012 – ANO 2012 – Nº 549
Aparelho indica local exato
para aplicação de anestesia
Equipamento, que emite sinal sonoro, atenua riscose efeitos colaterais causados pelo procedimento
Um
pequeno aparelho digital desenvolvido na Unicamp traz nova perspectiva
para atenuar riscos e efeitos colaterais das anestesias regionais,
amplamente empregadas em pequenas e médias cirurgias de membros.
Trata-se de um estimulador de nervos, controlado por um microprocessador
e conectado a uma agulha. O equipamento emite um sinal sonoro, que
indica ao médico o local exato a ser anestesiado.
Nas
cirurgias de membros, quando se faz o uso da técnica regional, o
anestésico é injetado próximo ao conjunto de nervos, inibindo o estímulo
de dor. A imprecisão nestes casos pode levar desde a perfuração do
nervo em condições extremas, até a sensações de formigamento e paralisia
parcial, devido a altas quantidades de anestésicos.
O
protótipo, ainda em fase de testes, foi criado pelo engenheiro
eletricista Carlos Alexandre Ferri como parte de seu estudo de mestrado
defendido junto ao programa de pós-graduação da Faculdade de Engenharia
Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp.
O
aparelho foi desenvolvido no laboratório do Centro de Engenharia
Biomédica (CEB), sob a orientação do professor da FEEC Antônio Augusto
Fasolo Quevedo. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes) financiou a pesquisa. Houve também apoio da
multinacional Freescale, que cedeu os microprocessadores usados no
projeto.
Diferenças
Já
existem aparelhos comerciais de estimulação de nervos para o auxílio em
anestesias regionais, informa o pesquisador da Unicamp, Carlos
Alexandre Ferri. Assim como o equipamento proposto, eles são usados
alternativamente ao método tradicional, cuja localização dos nervos é
realizada manualmente, pelo tato.
A
diferença entre eles é que, pela primeira vez, o sistema foi criado de
modo totalmente automatizado. Isto permite, segundo o engenheiro, que o
equipamento tenha uma precisão dez vezes maior quando comparado aos
convencionais. Além disso, a praticidade obtida com a automatização é
essencial ao anestesiologista, salienta.
“Médicos
que já usaram estes estimuladores disponíveis no mercado abandonaram os
equipamentos porque eles não são práticos. Nos aparelhos já
comercializados, além do anestesiologista se preocupar em introduzir a
agulha, ele precisa também ajustar, manualmente, os parâmetros do
estimulador no decorrer do processo de localização do nervo que ele quer
bloquear”, explica.
Isso acaba sendo
inviável no ambiente cirúrgico, onde é necessário precisão, rapidez e
praticidade, complementa. “Portanto, quando apresentamos este
equipamento automatizado, em que o médico tem que se preocupar somente
em introduzir a agulha, o seu uso se torna mais aceitável”, argumenta.
Outra
vantagem é a redução de custos. Enquanto os valores dos aparelhos
existentes, geralmente importados, chegam a cerca de R$ 4 mil, os custos
de montagem do instrumento criado ficou na ordem de R$ 300,00. As
diferenças também são significativas em relação ao custo de
operacionalização, aponta o estudioso da Unicamp.
Ele
explica que a utilização dos aparelhos comerciais requer um assistente
ao lado do anestesiologista para efetuar os ajustes enquanto se localiza
o nervo. Por ser automático, o equipamento desenvolvido na Unicamp
dispensa este tipo de apoio. Neste ponto, o orientador do trabalho
completa que existem outras formas de identificação do conjunto de
nervos, mas também inviáveis financeiramente.
“Pode-se
usar, por exemplo, um equipamento de ultrassom de imagem para
visualizar o conjunto de nervos. Mas, além de trabalhoso, seria
necessário um aparelho deste porte dedicado exclusivamente para aquele
fim, acarretando um custo muito alto. Os equipamentos de ultrassom devem
ser utilizados para diagnósticos clínicos. Nestes casos o seu uso será
muito mais vantajoso ao paciente”, acrescenta Antônio Quevedo, do
Departamento de Engenharia Biomédica da FEEC.
Futuro
O
docente da Unicamp também avalia como promissor o potencial da pesquisa
que resultou no estimulador. “É fundamental transferir esta tecnologia
para a indústria. De imediato, o equipamento criado já mostra soluções
que podem melhorar os aparelhos comerciais”, considera.
“Este
tipo de técnica é importante para a qualidade da aplicação anestésica
regional, bastante utilizada, mas que apresenta riscos de complicações
por ser ainda imprecisa. Com estes mecanismos de localização, o ganho de
qualidade do serviço de saúde é muito grande. E a um baixo custo”,
analisa Antônio Quevedo. Ele informou ainda que o pedido de patente já
está sendo sistematizado junto à Agência de Inovação Inova Unicamp.
Funcionamento
O
equipamento projetado, à semelhança dos já comercializados, estima a
distância entre a ponta da agulha e o local a ser anestesiado. Isso
acontece por meio de estimulação nervosa. A extremidade da agulha,
ligada por um fio, emite uma determinada corrente elétrica que gera, por
sua vez, uma contração muscular visível. Assim, o profissional
identifica o melhor local para infiltrar a solução anestésica.
Este
processo envolve níveis de estimulação, segundo o orientador do
trabalho. “Ele começa mais forte e, na medida em que a agulha é
aproximada, a estimulação vai sendo reduzida para se obter uma
localização mais precisa. O médico vai aplicando estímulo e verificando a
resposta, que vem pela contração dos músculos”, detalha Antônio
Quevedo.
Deste modo, o
anestesiologista sabe que há certa proximidade, explica o docente. “Ele
continua reduzindo a intensidade para conseguir chegar mais perto. E
cada vez mais perto… O médico precisa, às vezes, fazer isso oito vezes.
Este processo de ficar reduzindo exige manipulação dos controles nos
aparelhos convencionais. É bastante trabalhoso e demanda um assistente
para fazer isso. Com o nosso equipamento, este processo passa a ser
automático, portanto, mais prático e preciso”, distingui o professor da
FEEC.
Testes
O
anestesiologista Francisco Carlos Pena Siqueira efetuou testes clínicos
com o estimulador. Os experimentos aconteceram no Hospital e
Maternidade Madre Theodora, localizado no Parque das Universidades, em
Campinas. Todos os testes foram realizados com pacientes em cirurgias de
mãos por meio da técnica de bloqueio de plexo braquial.
O
Comitê de Ética em Pesquisa Médica da Faculdade de Ciências Médicas
(FCM) da Unicamp aprovou os ensaios, bastante promissores, conforme
revela o engenheiro Carlos Alexandre Ferri. “Após os testes, o doutor
Francisco Pena relatou que o bloqueio com o uso do estimulador foi
realizado com melhor qualidade em relação ao método convencional, sem o
uso do aparelho. Isso quer dizer que o efeito desejado foi obtido em um
período de tempo menor.”
Prêmio internacional
A
originalidade e aplicação de pesquisa para resolver um problema médico
real rendeu ao estudioso da Unicamp o prêmio internacional em concurso
promovido pela empresa Freecale. O anúncio do concurso aconteceu no
final de outubro deste ano. A proposta era empregar tecnologia
desenvolvida pela fabricante de sensores e microprocessadores.
“A
Freecale colabora com a Unicamp por meio de programa universitário,
cedendo placas de circuitos e componentes para atividades de ensino e
pesquisa na Universidade. Quanto ao concurso é um reconhecimento,
principalmente, porque os jurados foram unânimes ao concederem o prêmio à
Unicamp”, celebrou o orientador.
Publicação
Dissertação: “Estimulador automático de nervos em auxílio à realização de bloqueio plexo nervoso”
Autor: Carlos Alexandre Ferri
Orientador: Antônio Augusto Fasolo Quevedo
Unidade: Faculdade de Engenharia Elétrica de Computação (FEEC)
Financiamento: Capes
Autor: Carlos Alexandre Ferri
Orientador: Antônio Augusto Fasolo Quevedo
Unidade: Faculdade de Engenharia Elétrica de Computação (FEEC)
Financiamento: Capes