Yoga atenua
dores de gestantes
Mulheres submetidas a tratamento com a práticase sentiram mais confortáveis e confiantes
Ter
dores na coluna vertebral durante a gestação é um sintoma mais comum do
que se pensa, mas não se trata de algo normal como julgam muitas
grávidas. Foi o que mostrou a tese de doutorado da fisioterapeuta Roseny
Flávia Martins – um estudo clínico –, defendida na Faculdade de
Ciências Médicas (FCM). Em 80% da amostra estudada foram relatados
episódios de dor em particular na região lombopélvica (situada no final
da coluna vertebral).
Como estratégia
para combatê-la, a pesquisadora propôs o método Hatha Yoga (que usa uma
metodologia baseada em posturas psicofísicas, exercícios respiratórios e
relaxamento) que, no estudo, conseguiu reduzir as dores nessa região em
71,4% das 60 gestantes. Segundo relatos dessas mulheres, ao final do
tratamento, elas se sentiram mais confortáveis para desenvolver as
atividades diárias e laborais, com maior tranquilidade, menos estresse,
melhora do autocontrole e da consciência corporal.
O
estudo foi dividido em duas partes: na primeira houve verificação da
prevalência e fatores de risco para as algias lombopélvicas de 245
gestantes, que foram ouvidas na sala de espera de consulta do pré-natal;
e na segunda foi feito o ensaio clínico com 60 grávidas, realizado em
quatro Unidades Básicas de Saúde (UBS) da cidade de Paulínia. Essas
mulheres foram tratadas por dez semanas, seguidas com o Hatha Yoga.
A
tese de Roseny Flávia foi orientada pelo obstetra e docente da FCM João
Luiz Carvalho Pinto e Silva, no período entre 2009 e 2011.
Os
motivos para esse tipo de dor avançar na gravidez, expõe a autora,
estão associados a vários fatores de risco. Um deles, controverso, é que
a dor aumenta com o avanço da idade gestacional e com o ganho de peso
ao longo dos meses.
Mas Roseny Flávia
observou que muitos dos fatores de risco ainda provinham de dor
anterior à gestação, paridade, tipo de atividade laboral, presença de
traumas, situação emocional ou algum tipo de alteração postural prévia.
“Verificamos que o período da noite, da tarde e a posição em pé também
eram fatores preditivos para o aparecimento da dor”, revela.
Campo
No
estudo de prevalência, a pesquisadora pedia às gestantes que
assinalassem, em um desenho do corpo humano, na região da coluna
vertebral, o local onde sentiam dor. Se assinalassem a região
lombopélvica, eram convidadas para o ensaio clínico.
As
mulheres que aceitaram participar do estudo foram sorteadas
aleatoriamente pela pesquisadora, para serem submetidas ao tratamento
pelo método do Hatha Yoga, ou ainda receberam um folheto contendo
orientações posturais (nas posições sentada, deitada e em pé) para serem
feitos durante as atividades diárias.
Nas
sessões de Hatha Yoga, elas dimensionaram a dor em uma escala
análogo-visual (EAV), cuja classificação foi de zero (ausência de dor) a
dez (dor insuportável), para quantificar a grandeza de seu desconforto.
Em todos os encontros, as mulheres marcaram o quanto tinham de dor antes e após as sessões. Um gráfico apontou que a dor foi diminuindo ao longo do tratamento. No início, ninguém tinha nota zero e, ao final, 71,4% referiram ausência de dor, e eram reavaliadas.
Em todos os encontros, as mulheres marcaram o quanto tinham de dor antes e após as sessões. Um gráfico apontou que a dor foi diminuindo ao longo do tratamento. No início, ninguém tinha nota zero e, ao final, 71,4% referiram ausência de dor, e eram reavaliadas.
O
ideal, ressalta a pesquisadora, é que a grávida comece a prática do
Hatha Yoga supervisionada por profissional capacitado por volta da 12ª
semana (três meses), por um critério de segurança, não havendo
inconvenientes que seja praticada até perto do desfecho – o parto. “Nada
contraindica que a gestante faça exercícios respiratórios, relaxamento e
meditação, orientada durante todo o ciclo gestatório.”
Publicações
Os
resultados da pesquisa redundaram em alguns artigos publicados em
revistas científicas. Roseny Flávia já tinha apurado no seu mestrado, em
2002, que cerca de 80% das gestantes sofriam algias posturais, a
maioria na região lombopélvica, e à época se beneficiaram com outro
método, o Stretching Global Ativo.
Esse
método foi realizado também em grupos, o qual se mostrou mais eficiente
do que as recomendações médicas convencionais, como o uso de
analgésicos, anti-inflamatórios e repouso, entre outros.
Agora
no doutorado de novo, ao investigar também a prevalência dessas dores
na coluna vertebral, notou o mesmo achado: por volta de 80%, sendo que
70% na região lombopélvica.
Como a
prevalência de dor foi alta, assinala Roseny Flávia, entendeu-se que o
problema tem uma dimensão de saúde pública que merece uma maior atenção,
já que, a cada dez gestantes, sete declararam ter dores justamente
nessa região.
Ela explica que a
gravidez por si já exige alguns cuidados especiais, entre eles o fato de
não ser conveniente a gestante ingerir medicação analgésica de rotina,
para evitar prejuízos eventuais para o feto e o desenvolvimento seguro
da gravidez.
Outro fato é que a
gestante muitas vezes requer um atendimento terapêutico mais ágil,
lamentavelmente nem sempre presente na realidade dos serviços públicos
brasileiros – e tampouco no privado.
Apesar
desses entraves, Roseny Flávia viu que, grande parte dos fatores de
risco envolvidos na geração da dor, têm um potencial preventivo graças a
uma melhor compreensão da gênese do problema e da rápida atuação
profissional, que busca interferir nestes aspectos como por exemplo o
posicionamento adotado pela gestante enquanto dorme ou quando executa
seu trabalho diário.
Os recursos
ergonômicos, também efetivos no momento para a postura deitada, conta a
autora, são os travesseiros para apoio (da cabeça, embaixo da barriga e
entre as pernas, com a mulher ficando em decúbito lateral).
Para
que a gestante fique sentada de modo confortável, é necessário o apoio
da região lombar e dos pés para melhorar o retorno venoso das pernas,
bem como ter o apoio alternado de um dos pés durante sua permanência em
pé, ao efetuar atividades domésticas ou laborais.
No
ensaio clínico, a pesquisadora comprovou que o Hatha Yoga é uma
alternativa de tratamento de baixo custo, eficaz, pode ser praticada em
grupo, em salões comunitários (próximos das UBS), e propicia um
atendimento imediato às queixas da gestante.
“Esse
estudo foi o primeiro randomizado e controlado que conhecemos no mundo a
descrever os benefícios do Hatha Yoga para a abordagem das dores
lombares e pélvicas em gestantes”, comenta a autora.
Como trabalho inédito, ela acabou comparando seus resultados com trabalho cujos sujeitos tinham lombalgias, porém não eram gestantes, por ainda não se dispor de parâmetros na literatura.
Como trabalho inédito, ela acabou comparando seus resultados com trabalho cujos sujeitos tinham lombalgias, porém não eram gestantes, por ainda não se dispor de parâmetros na literatura.
A
justificativa da fisioterapeuta para isso foi de que há apenas dez anos
a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu quais são as terapias
complementares disponíveis e que tem encontrado resultados consistentes
para serem considerados úteis para pessoas com diferentes tipos de
doenças e dificuldades.
Assim, agora é
que começaram a ser delineados os estudos aleatorizados para a
caracterização de sua real utilidade. O conjunto destas terapias
alternativas chama-se Complementary Alternative Medicine (CAM). No
Brasil, é denominado Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares, através da portaria do Ministério da Saúde nº 971/2006.
Essa
portaria reconhece como práticas a Medicina Tradicional Chinesa através
da acupuntura, de práticas corporais como o tai chi chuan e o lian
gong, da homeopatia e da fitoterapia, etc. O Yoga foi instituído no
Sistema Único de Saúde (SUS) mediante a portaria nº 719/2011, que criou o
Programa da Academia de Saúde.
Essa
iniciativa visa contribuir para a promoção da saúde a partir da
implantação de polos com infraestrutura, equipamentos e quadro de
pessoal qualificado para orientar práticas corporais e atividade física e
de lazer, além de modos de vida saudáveis.
Avanços
A
fisioterapeuta focalizou no mestrado o Stretching Global Ativo, uma
derivação da Reeducação Postural Global (RPG). Não foi à toa que esse
trabalho de Roseny Flávia é o mais acessado da FCM desde 2002, ano de
sua conclusão.
Foram mais de 34 mil
acessos e cerca de sete mil downloads, o que significa o quanto o tema é
emergente e o quanto as pessoas têm procurado conhecer sobre as algias
posturais na gestação.
Pelo que a sua
autora percebeu, o Brasil é um país que está aberto para receber as
práticas alternativas e complementares. No mundo, também há alguns
estudos sobre a sua aceitação. Um estudo australiano indicou que as
gestantes aceitariam se tratar com yoga e que o método foi o segundo
mais lembrado pelos médicos de lá, atrás somente da acupuntura.
Ficou
claro, enfatiza a fisioterapeuta, que a equipe de saúde o aceita bem,
embora seja também consenso a necessidade de haver profissionais
capacitados para fazerem esse trabalho com qualidade.
A
sua expectativa é de que, com esse primeiro estudo no mundo, surjam
outros ensaios clínicos a fim de estabelecer comparações que se prestam a
mostrar os métodos de maior aplicabilidade. Terá sido um grande avanço,
acentua Roseny Flávia, uma vez que este é apenas um primeiro passo,
ainda que o Hatha Yoga seja uma técnica milenar.
O
conselho da pesquisadora para as gestantes é que elas então não pensem
que a dor nas costas é normal durante a gravidez e que recorram às
diversas possibilidades de tratamento disponíveis. O Stretching Global
Ativo e o Hatha Yoga, nos seus dois estudos, foram exitosos.
Somado
a isso, a autora salientou que as Orientações Posturais, mesmo não
tendo diminuído efetivamente as dores nas gestantes, atuam como um
importante coadjuvante para a gestante ter uma melhor qualidade de vida.
Publicações
-
Martins RF, Pinto e Silva JL. Algias posturais na gestação:
prevalência, aspectos biomecânicos e tratamento. Femina, 31(2):163-7,
2003.
- Martins RF, Pinto e Silva JL. Back pain is a major problem for many pregnant women. Rev. Assoc. Med. Bras. 51(3):144-7, 2005a.
- Martins RF, Pinto e Silva JL. Tratamento da lombalgia e dor pélvica posterior na gestação por um método de exercícios. Rev. Bras. Ginecol. Obstet., 51(3):144-7, 2005b.
- Martins RF, Pinto e Silva JL. Back pain is a major problem for many pregnant women. Rev. Assoc. Med. Bras. 51(3):144-7, 2005a.
- Martins RF, Pinto e Silva JL. Tratamento da lombalgia e dor pélvica posterior na gestação por um método de exercícios. Rev. Bras. Ginecol. Obstet., 51(3):144-7, 2005b.
Tese:
“Algias posturais na gestação: prevalência, fatores de risco e
tratamento das algias lombares e pélvicas pelo método do Hatha Yoga”
(10/10/2012)
Autora: Roseny Flávia Martins
Orientador: João Luiz Carvalho Pinto e Silva
Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)
Autora: Roseny Flávia Martins
Orientador: João Luiz Carvalho Pinto e Silva
Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)