Foto de parte da Biblioteca do IFCH, que adquiriu quantidade inédita de livros nos últimos anos. Os nazistas queimaram livros, os fascistas festeiros atacam bibliotecas. Mundo terrível o nosso!
2012/12/7 John M. Monteiro :
Caros Membros da Comunidade do IFCH:
Queria saudá-los com notícias mais alentadoras mas não
posso deixar de trazer para a atenção de toda a comunidade a minha consternação
com mais um ato de vandalismo. Ontem o IFCH amanheceu manchado. Pela
segunda vez desde a conclusão do novo prédio da Biblioteca e mais uma vez
no contexto de uma festa realizada nas dependências do Instituto, a grande
superfície branca e limpa do novo prédio foi atraente demais para as
pessoas que trouxeram tinta e deixaram a sua marca (veja as capturas em
anexo). É impossível saber quem fez ou quais foram as suas motivações, mas
as inscrições dão margem para especulação. Não se sabe, por exemplo, se as
frases foram escritas em inglês para o benefício dos nossos visitantes
estrangeiros ou se os autores já aderiram, por antecipação, ao movimento
de adotar esse idioma na sala de aula e na elaboração de teses, como nas
outras grandes universidades do mundo.
Mas não é nada disso. É muito pior. A primeira frase, à esquerda, simplesmente copia a letra de uma música do Pink Floyd. Consegue, de uma só vez, cometer duas transgressões que gostaria de ver eliminadas do nosso meio: o plágio, que não pára de crescer, e o desrespeito ao patrimônio público que é de todos nós. A frase à direita requer mais cuidado, talvez. O autor nos lança um desafio, ao pleitear o estatuto de arte para a sua garatuja e ao assinar a obra. Queria que este artista, ao invés de agir no calor da festa ou na calada da noite, defendesse publicamente a sua obra e sua mensagem. Quem sabe a maioria de nós aprovaria esta forma de adornar o espaço público. Nesse caso, deixaria de me queixar. Falando sério, gente, isso tem que parar.
Esta é uma universidade pública e é a responsabilidade de todos nós – administradores,
docentes, funcionários e alunos – zelar por sua integridade, sua conservação,
seu aprimoramento. Ao ver a nova
biblioteca, que deveria ser o orgulho de todos nós, maculada, confesso que não
senti raiva, nem fiquei com vontade de punir o responsável. Senti vergonha e senti que todos nós somos responsáveis
de uma maneira ou outra. Senti vergonha
porque o nosso instituto reúne um grande contingente de pessoas cujas pesquisas e ensinamentos ajudam
a entender o que é arte, o que é
vandalismo, o que é liberdade de expressão, o que é espaço público, o que é cidadania, entre tantas outras coisas que
sinalizam o quanto este tipo de atitude
é agressivo, desrespeitoso, inaceitável. Espero que na próxima festa tanto os anfitriões quanto os convidados
reconheçam que não estão numa terra de
ninguém e sim estão em casa, a casa de todos nós.
Saudações a todos,John Monteiro