Uma nota de três reais
11 de dezembro de 2012 | 2h 07
O Estado de S.Paulo
A cada nova manifestação oficial do PT a respeito da
situação política nacional fica mais evidente seu desapreço à verdade e à
coerência, das quais, desde sempre, o lulopetismo se autoproclama
monopolista. Não fugiram à regra as declarações do presidente nacional
da legenda após a reunião da Executiva nacional, na semana passada. Rui
Falcão repetiu basicamente as mesmas bravatas, as mesmas mistificações e
as mesmas promessas que o PT proclama há mais de 30 anos, sem mudar
nada de essencial num discurso que omite, é claro, o fato de que há pelo
menos uma década, desde que chegou ao governo da União, mudou
essencialmente sua prática política. Em outras palavras, o partido "dos
trabalhadores", que nasceu com o alardeado compromisso de reformular
profundamente um sistema político armado para beneficiar as "elites",
aliou-se ao que há de pior no coronelismo brasileiro. Em nome da
"governabilidade" loteou a administração federal e arquitetou um
atrevido plano de compra do apoio dos "300 picaretas" do Congresso.
Abriu espaço para seus próprios picaretas atuarem livremente na tarefa
de colocar o governo a serviço de interesses privados. Em resumo: o PT
prega uma coisa e faz outra.
Encontra, porém, uma justificativa para malfeitos, como a corrupção
de parlamentares condenada pelo STF: tudo é parte da "missão histórica"
de lutar pelos oprimidos. Assim, por se colocar do lado do Bem, o PT tem
moral para cometer atos que só parecem condenáveis aos olhos do
verdadeiro Mal: as elites opressoras e a burguesia egoísta. Aí vem Rui
Falcão e protesta: querem destruir o PT numa campanha que "estimula o
preconceito contra a política". Como se o PT já não se tivesse
encarregado de estimular vivamente o preconceito contra a política,
primeiro, ao descrevê-la como dominada por "picaretas"; depois, já no
poder, em vez de tentar acabar com os "picaretas", ao escolher o caminho
mais fácil de pura e simplesmente suborná-los.
É claro que as falácias lulopetistas só prosperam porque plantadas no
campo fértil da ignorância e da desinformação. Assim, uma vez
denunciadas, parece mais impressionante do que elas o sentimento de
progresso material de um importante contingente de brasileiros antes
mantidos à margem do consumo. É inegável essa conquista social dos
governos petistas e impõem-se, a todos, o dever de lutar para ampliá-la.
O que não se pode admitir é que o mérito dessa e outras realizações
seja usado como pretexto para elidir o enorme demérito que significa
atrelar o projeto de poder do PT à depreciação de valores democráticos e
verdadeiramente republicanos, como a independência da representação
popular (que não pode ser comprada); o respeito às prerrogativas
constitucionais dos poderes (que não podem ser contestadas conforme as
conveniências); e a impessoalidade da administração pública (que não
pode ser transformada em repasto de companheiros e companheiras e mero
instrumento de poder).
No exercício do poder, o lulopetismo aproveita-se cinicamente do fato
de a massa popular estar mais preocupada com o próprio bolso do que com
questões republicanas. É somente a partir de níveis mínimos de
educação, de informação e da consequente conscientização política que o
simples consumidor se transforma em cidadão capaz de ter o domínio de
seu próprio destino. Se a educação não encontra nos governos o nível
mínimo de prioridade que a verdadeira consciência democrática exige,
pelo menos a informação precisa continuar circulando. E é exatamente por
essa razão - por temer os efeitos que, mais cedo ou mais tarde, a
informação sobre suas falácias e mistificações cale na consciência dos
brasileiros - que os petistas odeiam a imprensa livre e, mais uma vez,
proclamam a necessidade de "regulamentá-la". De novo, dissimulam sua
verdadeira intenção: aplicar aqui, em maior ou menor grau, a censura
praticada pelo decrépito regime cubano, pelos regimes "bolivarianos" da
Venezuela, Equador e Bolívia e pelo regime sui generis da Argentina. Em
resumo, o discurso petista é falso como uma nota de três reais.