CIENTISTAS ESCRAVIZAM PÓS-GRADUANDOS E OBSTRUEM A CIÊNCIA, DIZ NOBEL DE MEDICINA DE 2002
CIENTISTAS ESCRAVIZAM PÓS-GRADUANDOS E OBSTRUEM A CIÊNCIA, DIZ NOBEL DE MEDICINA DE 2002
As novas ideias na ciência são obstruídas por burocratas do
financiamento de pesquisas e por professores que impedem seus alunos de
pós-graduação de seguirem suas próprias propostas de investigação. E há
revistas de artigos científicos que estão corrompendo a ciência, pois
empregam editores que não passam de cientistas fracassados que atuam de
modo semelhante ao dos agentes doDepartamento de Segurança Interna dos EUA e são pequenos ladrões do trabalho alheio. Quem diz isso é um do maiores nomes da biologia molecular, o sul-africano Sydney Brenner, de 87 anos, ganhador do Prêmio Nobel de Medicina de 2002, em uma entrevista publicada em 24 de fevereiropela revista eletrônica The Kings’s Review, do King’s College da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.
Brenner recebeu o Nobel de Fisiologia e Medicina de 2002 com outros dois colegas por
suas descobertas sobre o mecanismo de regulação genética do
desenvolvimento de organismos e da morte das células. Formado em
medicina na Universidade de Witwatersrand, na África do Sul, ele se
doutorou em química na Universidade de Oxford, no Reino Unido, país onde
trabalhou no Laboratório de Biologia Molecular, em Cambridge, com
Francis Crick (1916-2004), um dos descobridores da estrutura e do
funcionamento do DNA. Depois de se aposentar, Brenner se vinculou ao
Instituto Salk para Estudos Biológicos, em La Jolla, na Califórnia, nos
Estados Unidos.
Ia ser só uma homenagem
A entrevista em que Brenner fez suas declarações bombásticas havia sido
pautada inicialmente para ser uma homenagem a outro cientista com o qual
ele havia trabalhado, o bioquímico britânicoFrederick Sanger (1918-2013), premiado com o Nobel em 1958 e também em 1980, que havia morrido em novembro do ano passado.
Seguem alguns dos trechos mais quentes da longa entrevista.
Brenner certamente erra ao fazer afirmações
genéricas que, em princípio, atingem não só todos os orientadores de
pós-graduandos, mas também todos os periódicos e seus editores. Não é
possível que toda a produção científica esteja contaminada da forma
apontada por ele. Mas suas acusações não podem ser varridas para baixo
do tapete.
Pouca repercussão
As afirmações de Brenner à King’s Review tiveram pouca repercussão. O blog Retraction Watch, que monitora as retratações de publicações científicas, publicou uma nota na segunda-feira (3/mar), mas seu tom foi muito mais suave do que o das palavras ditas por Brenner.
É habitual na comunidade científica um certo silêncio em situações
constrangedoras provocadas por integrantes em idade avançada. Um
silêncio que por parte de uns funciona não só como uma demonstração de
respeito pela carreira, mas também, por parte de outros, como um certo
desdém do tipo “isso não passa de excentricidade de celebridade que já
deveria estar de pijama”.
Corda em casa de enforcado
Mas certamente Brenner não está só. Essa mesma cultura que ele acusa de
ser corrupta é dissecada impiedosamente pelo norte-americano Lindsay Waters, editor de humanidades da Harvard University Press, em seu livro Inimigos da Esperança: Publicar, perecer e o eclipse da erudição,
publicado no Brasil em 2006 pela Editora Unesp. Para Waters, a
relevância é um atributo que deixou de ser considerado na produção
acadêmica contemporânea, dando lugar à competência para produzir mais,
publicar mais, substituindo a qualidade pela quantidade. Segundo Waters
(pág. 53),
Passados 10 dias desde a publicação online dessa entrevista, não é por
menos o silêncio sobre ela na internet por parte de publicações
científicas. A situação se aplica perfeitamente à máxima segundo a qual
não se fala sobre corda em casa de enforcado.
FONTE: http://ucablog.com/2014/03/05/sydney-brenner/