Sábado, 15 de março de 2014
Oásis de água dentro da Terra: talvez 10 vezes maior do que o Oceano Pacífico
Foi publicado na revista Nature um estudo que abre novos cenários sobre a evolução do magmatismo terrestre e da tectônica das placas.
A reportagem é publicada pelo jornal La Repubblica, 13-03-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Se as estimativas do estudo forem confirmadas, a ideia da formação
geral do nosso planeta deveria ser completamente revista: dentro da
Terra haveria um oásis de água cuja extensão total poderia ser igual a
10 vezes a do Oceano Pacífico, que cobre 1/5 da superfície do planeta.'
A estimativa é de uma equipe de pesquisadores, da qual também faz parte Fabrizio Nestola, da Universidade de Pádua, que publicou na Nature
um estudo que abre novos cenários sobre a evolução do magmatismo
terrestre e da tectônica das placas. O trabalho dos pesquisadores parte
da olivina, um mineral que compõe 60% do interior da Terra, desde a
superfície até 410 quilômetros. E que, com o aumento da pressão e da
temperatura, se transforma em minerais com a mesma fórmula, mas com uma
disposição espacial diferente dos seus átomos, tornando-se antes
wadsleyita e ringwoodita, que deveriam se encontrar entre o manto
superior e o manto inferior, isto é, naquela zona chamada de transição
entre os 410 e os 660 quilômetros de profundidade.
Analisando a propagação das ondas sísmicas em profundidade, no
entanto, os cientistas consideravam que, naquela faixa, deveria se
encontrar algo de densidade inferior: criando em laboratório os dois
minerais com uma densidade menor, os pesquisadores geraram
artificialmente a wadsleyita e a ringwoodita capazes de hospedar até
2,5% de água, aproximando assim a densidade dos dois materiais à da
olivina e sugerindo que a faixa é realmente um oásis de água dentro da
Terra.
A equipe de pesquisa identificou pela primeira vez uma amostra de
ringwoodita terrestre ainda encapsulada dentro de um diamante encontrado
em uma jazida brasileira do distrito de Juína, e essa amostra contém
cerca de 1,4% de água.
"A descoberta – explica Nestola – não só permite
finalmente explicar as anomalias observadas por meio da tomografia
sísmica profunda, mas também abre um cenário completamente novo sobre o
interior do nosso planeta. De fato, 1,4% de água na ringwoodita permite
estimar um conteúdo médio de 1% de água na zona de transição. Tal
percentual corresponde a uma espessura de água líquida de cerca de oito
quilômetros sobre toda a superfície terrestre.
Considerando que o Oceano Pacífico cobre cerca de
1/5 de toda a superfície terrestre e tem em média 4,2 quilômetros de
profundidade, por comparação, é como se tivéssemos bem 'escondida'
dentro da Terra uma quantidade de água igual a cerca de 10 oceanos tão
profundos quanto o Pacífico".