terça-feira, 25 de março de 2014

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Propaganda do Metrô diz que lotação é boa para 'xavecar mulherada'

Ação publicitária foi ao ar em uma rádio da capital paulista; spot é divulgado em momento em que vêm à tona casos de assédio sexual na rede

25 de março de 2014 | 16h 05

Bruno Ribeiro e Caio do Valle - O Estado de S. Paulo
 
Atualizado às 17h10.
 
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Plataforma lotada do Metrô de São Paulo - Helvio Romero/Estadão
 
Helvio Romero/Estadão
 
Plataforma lotada do Metrô de São Paulo

SÃO PAULO - Uma inserção publicitária do Metrô de São Paulo está provocando polêmica na internet. O material, que foi ao ar em um programa da Rádio Transamérica FM, da capital paulista, dá a entender que a lotação dos trens é um bom lugar para "xavecar a mulherada". O texto vai ao ar em um momento em que surgem diversas denúncias de molestadores sexuais atacando mulheres na rede. Até a semana passsada, a polícia havia registrado 23 casos neste ano.

Lido pelo locutor como se estivesse confidenciando sua própria história ao ouvinte, e de propósito com diversos erros gramaticais, o texto diz: "Nos horários de pico, é normal trem e metrô ficar lotado. É assim também nas grandes metrópoles espalhadas pelo mundo. Pra falar a verdade, até gosto do trem lotado, é bom pra xavecar a mulherada, né, mano? Foi assim que eu conheci a Giscreuza. Muito já foi feito e o governo sabe que ainda tem muito pra fazer. Governo do Estado de São Paulo." 

O spot levou passageiros inconformados com o material a questionarem o Metrô pelo Twitter. Em sua conta oficial na rede social, a empresa, que é controlada pelo governo do Estado, informou que "assim que tomou conhecimento do referido comercial, totalmente inapropriado, o Metrô consultou a agência responsável pela publicidade e foi informado de que seu conteúdo não só estava em desacordo com o briefing passado como também não fora aprovado - nem pela agência tampouco pelo Metrô. Advertida, a Rádio Transamérica FM tirou o comercial do ar e informou que a produção desse infeliz comercial é de sua inteira responsabilidade".

Repercussão. A bancada do PT na Assembleia Legislativa encaminhou uma representação contra o secretário da Casa Civil do governo do Estado, Edson Aparecido, o presidente da CPTM, Mário Bandeira e o presidente do Metrô, Luiz Antonio Carvalho Pacheco, pedindo abertura de um inquérito civil sobre o caso.

"A cultura do assédio que não respeita a mulher e seu corpo no espaço público, e que aceita a 'cantada' e o 'xaveco' como algo natural, independentemente da vontade da mulher é uma cultura opressora que envergonha, constrange a mulher e limita seu direito de ir e vir livremente", diz trecho da representação, assinada pelos deputados Luiz Claudio Marcolino e Alencar Santana Braga, ambos petistas.

Resposta. O Metrô foi procurado na tarde desta terça-feira, 25, para falar sobre o caso. Por escrito, a reportagem perguntou qual agência publicitária foi contratada para redigir esse texto, quem dentro da companhia é responsável por aprovar esses textos, qual é o valor do contrato e a data de vigência do acordo e, principalmente, quais seriam as medidas tomadas pela empresa pública diante dessa situação. 

A nota da companhia, enviada 25 minutos depois do contato do Estado, não respondeu nenhuma dessas dúvidas, e se limitou a reescrever a resposta enviada pela companhia para sua conta no Twitter.
Por sua vez, a assessoria de imprensa da Rádio Transamérica FM informou por telefone apenas que "toda propaganda que a rádio veicula é aprovada pelo contratante". A empresa também divulgou que a inserção não é feita desde 20 de março.