Propaganda do Metrô diz que lotação é boa para 'xavecar mulherada'
Ação publicitária foi ao ar em uma rádio da capital paulista; spot é divulgado em momento em que vêm à tona casos de assédio sexual na rede
25 de março de 2014 | 16h 05
Bruno Ribeiro e Caio do Valle - O Estado de S. Paulo
Atualizado às 17h10.
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Plataforma lotada do Metrô de São Paulo
SÃO PAULO - Uma inserção publicitária do Metrô de São Paulo está
provocando polêmica na internet. O material, que foi ao ar em um
programa da Rádio Transamérica FM, da capital paulista, dá a entender
que a lotação dos trens é um bom lugar para "xavecar a mulherada". O
texto vai ao ar em um momento em que surgem diversas denúncias de
molestadores sexuais atacando mulheres na rede. Até a semana passsada, a
polícia havia registrado 23 casos neste ano.
Lido pelo locutor como se estivesse confidenciando sua própria
história ao ouvinte, e de propósito com diversos erros gramaticais, o
texto diz: "Nos horários de pico, é normal trem e metrô ficar lotado. É
assim também nas grandes metrópoles espalhadas pelo mundo. Pra falar a
verdade, até gosto do trem lotado, é bom pra xavecar a mulherada, né,
mano? Foi assim que eu conheci a Giscreuza. Muito já foi feito e o
governo sabe que ainda tem muito pra fazer. Governo do Estado de São
Paulo."
O spot levou passageiros inconformados com o material a questionarem o
Metrô pelo Twitter. Em sua conta oficial na rede social, a empresa, que
é controlada pelo governo do Estado, informou que "assim que tomou
conhecimento do referido comercial, totalmente inapropriado, o Metrô
consultou a agência responsável pela publicidade e foi informado de que
seu conteúdo não só estava em desacordo com o briefing passado como
também não fora aprovado - nem pela agência tampouco pelo Metrô.
Advertida, a Rádio Transamérica FM tirou o comercial do ar e informou
que a produção desse infeliz comercial é de sua inteira
responsabilidade".
Repercussão. A bancada do PT na Assembleia
Legislativa encaminhou uma representação contra o secretário da Casa
Civil do governo do Estado, Edson Aparecido, o presidente da CPTM, Mário
Bandeira e o presidente do Metrô, Luiz Antonio Carvalho Pacheco,
pedindo abertura de um inquérito civil sobre o caso.
"A cultura do assédio que não respeita a mulher e seu corpo no espaço
público, e que aceita a 'cantada' e o 'xaveco' como algo natural,
independentemente da vontade da mulher é uma cultura opressora que
envergonha, constrange a mulher e limita seu direito de ir e vir
livremente", diz trecho da representação, assinada pelos deputados Luiz
Claudio Marcolino e Alencar Santana Braga, ambos petistas.
Resposta. O Metrô foi procurado na tarde desta
terça-feira, 25, para falar sobre o caso. Por escrito, a reportagem
perguntou qual agência publicitária foi contratada para redigir esse
texto, quem dentro da companhia é responsável por aprovar esses textos,
qual é o valor do contrato e a data de vigência do acordo e,
principalmente, quais seriam as medidas tomadas pela empresa pública
diante dessa situação.
A nota da companhia, enviada 25 minutos depois do contato do Estado, não respondeu nenhuma dessas dúvidas, e se limitou a reescrever a resposta enviada pela companhia para sua conta no Twitter.
Por sua vez, a assessoria de imprensa da Rádio Transamérica FM
informou por telefone apenas que "toda propaganda que a rádio veicula é
aprovada pelo contratante". A empresa também divulgou que a inserção não
é feita desde 20 de março.