sexta-feira, 7 de março de 2014

Estado. O racismo fascita, larvar na "sociedade" brasileira.


Arouca é chamado de 'macaco' após goleada do Santos em Mogi Mirim

Árbitro Vinicius Gonçalves Dias Araújo não relata o fato na súmula da partida

07 de março de 2014 | 8h 24

O Estado de S. Paulo
MOGI MIRIM - Menos de um mês depois do volante Tinga sofrer com ofensas racistas em Huancayo, em jogo contra o Real Garcilaso, válido pela Libertadores, o caso volta a se repetir, mas desta vez no Brasil. O também volante Arouca, do Santos, foi chamado de 'macaco' por torcedores após a vitória de sua equipe contra o Mogi Mirim, no Estádio Romildão, em Mogi.

Arouca é um dos principais jogadores do Santos em 2014 - Ricardo Saibun/Divulgação
Ricardo Saibun/Divulgação
 
Arouca é um dos principais jogadores do Santos em 2014
 
"Isso é bom nem ouvir, né, nem dar ouvidos a esses pessoas, se é que dá para chamar isso de pessoas. Situação hoje em dia é difícil comentar, isso não acontece só no meio do futebol. Espero que alguém possa tomar uma providência muito severa, porque isso é lamentável", disse Arouca à rádio ESPN, logo após ser ofendido.

O técnico Oswaldo de Oliveira protestou contra a situação durante a coletiva. "A minha resposta para isso é o silêncio. Não farei mais nada". O treinador cobrou uma ação maior das entidades que organizam o futebol brasileiro.

"Não vou me prender ao problema do Arouca, mas à questão da súmula. Nem tudo que se passa no jogo só pode dar relevância se estiver na súmula. Isso tem que ser coibido, como a violência, brigas e uma série de outras coisas. Tem gente que gosta de aparecer negativamente, acho isso baixo, e isso tem que ser severamente punido, como tantos outros eventos que temos acompanhado recentemente. A euforia da Copa do Mundo tem nos contagiado para o evento, mas deveríamos ser mais severos".
O árbitro Vinicius Gonçalves Dias Araújo, que apitou o jogo com placar de 5 a 2 para a equipe da baixada santista, não relatou nada na súmula da partida.

Por meio de sua assessoria, o jogador santista divulgou uma nota oficial:

"Na saída do jogo desta quinta-feira, contra o Mogi Mirim, fui alvo de insultos racistas de um torcedor do time adversário. É lamentável e inaceitável que ainda haja espaço para esse tipo de coisa hoje em dia. Isso só mostra que o ser humano ainda tem muito a evoluir e a crescer, que não estamos nem perto de um mundo que viva a harmonia entre as pessoas e todas as suas diferenças. 

Tenho muito orgulho das minhas origens africanas, que foi o que o sujeito tentou usar para me ofender, dizendo que eu deveria procurar alguma seleção de lá para jogar. Dando a entender que um negro igual a mim não serve para defender a seleção brasileira. Como se algumas das páginas mais bonitas da história da nossa seleção não tivessem sido escritas por jogadores como Leônidas, Romário e pelo Rei Pelé, também negros. Não ouvi os gritos de 'macaco' que alguns repórteres disseram ouvir, mas, caso tenha realmente acontecido, é ainda mais triste.

Eu sei muito bem de onde venho e de toda a minha luta para chegar onde cheguei. Por isso, sentir na pele o que aconteceu comigo hoje - logo depois do que fizeram com o Tinga outro dia e também do caso do juiz no Rio Grande do Sul - me deixa muito decepcionado. Acabou com a alegria pela boa atuação do nosso time, pelo belo gol que fiz, ou seja, pelo que deveria ser a essência do esporte.
O futebol é um espelho da nossa realidade, e isso não se resume apenas a xingamentos racistas. 

Continuam matando e morrendo por torcerem por um time diferente do outro. Espero, sinceramente, que casos como esse sejam severamente punidos, pois, enquanto isso não acontecer, nada vai mudar. A impunidade e a conivência das autoridades com as pessoas que fazem esse tipo de coisa são tão graves quanto os próprios atos em si. Somente discursos e promessas não resolvem a falta de educação e de humanidade de alguns"