domingo, 15 de março de 2015

Armênio Guedes, por J.R. Guedes

O ARMÊNIO GUEDES


                                                                                      J. R. Guedes de Oliveira


          Qualquer semelhança de sobrenome é mera coincidência.

          Conheci Armênio Guedes num congresso do PPS, em Belo Horizonte. Depois, numa reunião da Fundação Astrojildo Pereira, em Brasília e, a última vez, no lançamento do meu livro “Astrojildo Pereira – in Memoriam”, no Rio de Janeiro.

          Homem de fala mansa, aquilo que classificamos de “super-educado”, atencioso e de uma convicção inabalável sobre a sua ideologia democrática-socialista, tinha, por assim dizer, um magnetismo, pela sua história de vida, pelo seu exemplo edificante.

          Aprendi, com este homem falecido no dia 12 passado, aos 96 anos de idade, muita coisa sobre assuntos variados. Não era um homem bitolado a apenas um assunto. Discorria sobre política, esporte, história, heroísmos de figuras grandiosas, turismo, amizades, jornalismo, livros, etc.

          Vi, nos olhos do Armênio, o brilho de um homem que pensava o Brasil a todos os momentos e compartilhava, com todos, de uma amizade sincera, sem se sobrepor a ninguém. O que mais lhe destacava, era a sua figura distante dos holofotes e das badalações cotidiana. Vivia uma vida simples, cheia de entusiasmo e de brilho. Era assim o velho Armênio Guedes, ao lado de sua inseparável companheira Cecília Comegno.

         Em Belo Horizonte, quando o conheci, fomos lanchar: eu, ele e o estimado amigo Ivan Alves Filho. Terminado, fizemos uma vaquinha para pagar as despesas da pequena refeição. Cada qual, com dinheiro contado, deu a sua parte. Para o Armênio, a fraterna distribuição tanto do dever como do direito (e ele o sabia muito bem) era equitativo. Não significava, segundo suas observações, dar o seu prato de comida para quem estava necessitando, mas, contudo, repartir este prato ao meio. Afinal se um tem fome,  o outro também. E as despesas, no lanche, foram repartidas 33,3% para cada um.

          Sobre a sua atuação, por mais de cinco décadas nas fileiras do PCB, foi um contestador irredutível da ação da imposição. Democrata por excelência, sem perder o seu sentido socialista, experimento o amargor do “é assim e não se discute” dentro das fileiras do seu partido. Não é de se estranhar que tanto ele, como Astrojildo Pereira e Octavio Brandão, tiveram rígidas divergências no ceio do PCB e, por conseguinte, sofreram as duras penas, mas não perderam a sua doçura. É que Prestes não era flor de se cheirar. Centralista e cheio de poder, como assim ele se sentia, não delegava poderes e qualquer desaponto contrário ao seu pensamento, já o enfurecia e manietava os seus oponentes, mesmo que estes apenas apresentassem algum ponto de discordância.

          Armênio Guedes colecionou uma enorme lista de amigos. Se teve alguns inimigos, estes são unânimes em declará-lo autêntico. Foram poucos os que, pela linha ideológica, fizeram reparos à sua caminhada política.

          Guardo, pois, enorme apreço e subida honra em tê-lo conhecido e desfrutado de sua amizade. Guardo, também, o seu rosto sempre sorridente, olhos de criança, cabeça de homem de enorme brasilidade. Mas, se foi. Aliás, bem dizendo, não se foi; ausentou-se. E Guimarães Rosa foi muito apropriado em dizer: “O mundo é mágico. As pessoas não morrem, ficam encantadas”.

          J. R. Guedes de Oliveira, ensaísta, biógrafo e historiador.
     
          
          Em tempo:  Na foto: Armênio Guedes, Ivan Alves Filho, Francisco Inácio de Almeida, J. R. Guedes de Oliveira e Martin Cezar Feijó.