J. R. Guedes de Oliveira
Qualquer semelhança de sobrenome é mera coincidência.
Conheci Armênio Guedes num congresso do PPS, em Belo Horizonte. Depois,
numa reunião da Fundação Astrojildo Pereira, em Brasília e, a última
vez, no lançamento do meu livro “Astrojildo Pereira – in Memoriam”, no
Rio de Janeiro.
Homem de fala mansa, aquilo que classificamos de “super-educado”,
atencioso e de uma convicção inabalável sobre a sua ideologia
democrática-socialista, tinha, por assim dizer, um magnetismo, pela sua
história de vida, pelo seu exemplo edificante.
Aprendi, com este homem falecido no dia 12 passado, aos 96 anos de
idade, muita coisa sobre assuntos variados. Não era um homem bitolado a
apenas um assunto. Discorria sobre política, esporte, história,
heroísmos de figuras grandiosas, turismo, amizades, jornalismo, livros,
etc.
Vi, nos olhos do Armênio, o brilho de um homem que pensava o Brasil a
todos os momentos e compartilhava, com todos, de uma amizade sincera,
sem se sobrepor a ninguém. O que mais lhe destacava, era a sua figura
distante dos holofotes e das badalações cotidiana. Vivia uma vida
simples, cheia de entusiasmo e de brilho. Era assim o velho Armênio
Guedes, ao lado de sua inseparável companheira Cecília Comegno.
Em Belo Horizonte, quando o conheci, fomos lanchar: eu, ele e o
estimado amigo Ivan Alves Filho. Terminado, fizemos uma vaquinha para
pagar as despesas da pequena refeição. Cada qual, com dinheiro contado,
deu a sua parte. Para o Armênio, a fraterna distribuição tanto do dever
como do direito (e ele o sabia muito bem) era equitativo. Não
significava, segundo suas observações, dar o seu prato de comida para
quem estava necessitando, mas, contudo, repartir este prato ao meio.
Afinal se um tem fome, o outro também. E as despesas, no lanche, foram
repartidas 33,3% para cada um.
Sobre a sua atuação, por mais de cinco décadas nas fileiras do PCB, foi
um contestador irredutível da ação da imposição. Democrata por
excelência, sem perder o seu sentido socialista, experimento o amargor
do “é assim e não se discute” dentro das fileiras do seu partido. Não é
de se estranhar que tanto ele, como Astrojildo Pereira e Octavio
Brandão, tiveram rígidas divergências no ceio do PCB e, por conseguinte,
sofreram as duras penas, mas não perderam a sua doçura. É que Prestes
não era flor de se cheirar. Centralista e cheio de poder, como assim ele
se sentia, não delegava poderes e qualquer desaponto contrário ao seu
pensamento, já o enfurecia e manietava os seus oponentes, mesmo que
estes apenas apresentassem algum ponto de discordância.
Armênio Guedes colecionou uma enorme lista de amigos. Se teve alguns
inimigos, estes são unânimes em declará-lo autêntico. Foram poucos os
que, pela linha ideológica, fizeram reparos à sua caminhada política.
Guardo, pois, enorme apreço e subida honra em tê-lo conhecido e
desfrutado de sua amizade. Guardo, também, o seu rosto sempre
sorridente, olhos de criança, cabeça de homem de enorme brasilidade.
Mas, se foi. Aliás, bem dizendo, não se foi; ausentou-se. E Guimarães
Rosa foi muito apropriado em dizer: “O mundo é mágico. As pessoas não morrem, ficam encantadas”.
J. R. Guedes de Oliveira, ensaísta, biógrafo e historiador.
Em
tempo: Na foto: Armênio Guedes, Ivan Alves Filho, Francisco Inácio de
Almeida, J. R. Guedes de Oliveira e Martin Cezar Feijó.