domingo, 22 de março de 2015

J. R. Guedes de Oliveira

                         OCTAVIO BRANDÃO – TAMBÉM POETA

                                                                                      J. R. Guedes de Oliveira

          No dia 15 passado,  lembramos dos 35 anos de ausência do alagoano da histórica Viçosa Octavio Brandão (1896-1980).
          Figura polêmica, traçado para uma vida de constantes embates, jamais perdeu as esperanças por um Brasil que tanto amou e sonhou.
          Poeta, revolucionário, tradutor, pesquisador, escritor, somam-se, ainda, duas iniciativas suas, consideráveis e relevantes: a de ser o primeiro (pioneiro do petróleo no Brasil) a pesquisar e dizer onde se encontrava estas nossas reservas e a de ser o primeiro a tratar, como seriedade e conhecimento, as questões do nosso maio ambiente. Tanto assim, que sucessivas edições do “Prêmio Octavio Brandão de Jornalismo Ambienta” se concretizam na capital alagoana de Maceió.
          No início do século XX, pelas suas atividades na zona canavieira de Alagoas, é expulso do seu Estado natal. Posteriormente, vivendo no Rio de Janeiro, é exilado para a Europa, juntamente com a sua esposa poeta Laura Brandão e três filhas ainda pequenas. Vive na então União Soviética, mas não se esquece de suas raízes brasileiras. Após a morte de sua esposa, volta ao Brasil, em 1946, cheio de ideias e de uma produção literária  de tantos anos, das mais célebres, entre as quais “Agrarismo e Industrialismo” e “Canais e Lagoas” – obras primas da pesquisa agrária em nosso país e a sua contribuição ao conhecimento da nossa mineralogia e geologia.
          Foi, Octavio Brandão, acima de tudo, um visionário que acreditava num país gigante. Sonhava, no dia-a-dia, com a clareza de uma terra desenvolvida, rica e farta – acalentado pelas suas ideias de um socialismo científico, de cunho marxista.
          Viveu pobre e assim morreu, deixando um exemplo edificante de brasilidade, contada a todos os recantos do país.
          Dentro das nossas pesquisas sobre esta emblemática figura, tivemos a feliz oportunidade de editar dois livros: Cartas de Octavio Brandão – Memória, em 2005, pela Editora da UFSC, com prefácio do Prof. Fernando Henrique Cardoso e Octavio Brandão – Dispersos e Inéditos, em 2008, pela Editora Brascolar, com prefácio  de Vitor Montenegro Wanderley, do Grupo Coruripe, de Alagoas. Representam, estres fatos, a nossa parcela de contribuição à perene memória desse  homem que respirou Brasil a todo momento, mesmo nas mais acaloradas dificuldades e penúrias que passou: mais de 18 prisões, humilhação, deportação e ostracismo até entre o partido que abraçara |(PCB), após a sua renúncia ao Anarquismo.
          Combateu o combate e deixou à posteridade, uma folha-corrida de realizações literárias, exemplo de grandeza pessoal, humildade sem igual e ensinamentos sobre política, sociologia, ciências, filosofia, etc.
          Na poesia, escolhemos esta, para a homenagem a Octavio Brandão, da lavra do próprio alagoano (publicado em 18.08.1918), com o título de “À Pintora Patrícia“ (dedicado a Anna Sampaio Duarte, nascida em 1870, em Palmeira dos Índios. Foi, ainda, advogada, formada pela Faculdade de Direito do Recife, sendo, assim, a primeira mulher alagoana a concluir um curso superior).    
          Artista! Seja o teu pincel um poema
          de sol, de luz, de amor e de carinho
          feito para cantar a alta e suprema
          natureza natal em desalinho.

          Seja a tua Arte como linda gema
          a iluminar do pária o pobre ninho.
          Seja a tua palheta um diadema
          a coroar a dor do pobrezinho.

          Tu deves colocar o teu pincel
          divino em prol de todos deserdados!
          Ó que ele seja como um Deus revel

          A clamar contra todas as misérias
          e que haja em ti fulgores sublimados
          de ideais, de coisas altas e siderais!

          Eis, pois, em singelas linhas, o que apresentamos em memória de Octavio Brandão, pelo muito que o admiramos e pelo mais que ele foi para o nosso país.