OCTAVIO
BRANDÃO – TAMBÉM POETA
J. R. Guedes de Oliveira
No dia 15 passado, lembramos dos 35 anos de ausência do alagoano
da histórica Viçosa Octavio Brandão (1896-1980).
Figura polêmica, traçado
para uma vida de constantes embates, jamais perdeu as esperanças por um Brasil
que tanto amou e sonhou.
Poeta, revolucionário,
tradutor, pesquisador, escritor, somam-se, ainda, duas iniciativas suas,
consideráveis e relevantes: a de ser o primeiro (pioneiro do petróleo no
Brasil) a pesquisar e dizer onde se encontrava estas nossas reservas e a de ser
o primeiro a tratar, como seriedade e conhecimento, as questões do nosso maio
ambiente. Tanto assim, que sucessivas edições do “Prêmio Octavio Brandão de
Jornalismo Ambienta” se concretizam na capital alagoana de Maceió.
No início do século XX,
pelas suas atividades na zona canavieira de Alagoas, é expulso do seu Estado
natal. Posteriormente, vivendo no Rio de Janeiro, é exilado para a Europa,
juntamente com a sua esposa poeta Laura Brandão e três filhas ainda pequenas.
Vive na então União Soviética, mas não se esquece de suas raízes brasileiras.
Após a morte de sua esposa, volta ao Brasil, em 1946, cheio de ideias e de uma
produção literária de tantos anos, das
mais célebres, entre as quais “Agrarismo e Industrialismo” e “Canais e Lagoas”
– obras primas da pesquisa agrária em nosso país e a sua contribuição ao
conhecimento da nossa mineralogia e geologia.
Foi, Octavio Brandão,
acima de tudo, um visionário que acreditava num país gigante. Sonhava, no
dia-a-dia, com a clareza de uma terra desenvolvida, rica e farta – acalentado
pelas suas ideias de um socialismo científico, de cunho marxista.
Viveu pobre e assim
morreu, deixando um exemplo edificante de brasilidade, contada a todos os
recantos do país.
Dentro das nossas
pesquisas sobre esta emblemática figura, tivemos a feliz oportunidade de editar
dois livros: Cartas de Octavio Brandão – Memória, em 2005, pela Editora da
UFSC, com prefácio do Prof. Fernando Henrique Cardoso e Octavio Brandão –
Dispersos e Inéditos, em 2008, pela Editora Brascolar, com prefácio de Vitor Montenegro Wanderley, do Grupo
Coruripe, de Alagoas. Representam, estres fatos, a nossa parcela de
contribuição à perene memória desse
homem que respirou Brasil a todo momento, mesmo nas mais acaloradas
dificuldades e penúrias que passou: mais de 18 prisões, humilhação, deportação
e ostracismo até entre o partido que abraçara |(PCB), após a sua renúncia ao
Anarquismo.
Combateu o combate e
deixou à posteridade, uma folha-corrida de realizações literárias, exemplo de
grandeza pessoal, humildade sem igual e ensinamentos sobre política,
sociologia, ciências, filosofia, etc.
Na poesia, escolhemos
esta, para a homenagem a Octavio Brandão, da lavra do próprio alagoano
(publicado em 18.08.1918), com o título de “À Pintora Patrícia“ (dedicado a
Anna Sampaio Duarte, nascida em 1870, em Palmeira dos Índios. Foi, ainda,
advogada, formada pela Faculdade de Direito do Recife, sendo, assim, a primeira
mulher alagoana a concluir um curso superior).
Artista! Seja o teu pincel um poema
de sol, de luz, de amor e de carinho
feito para cantar a alta e suprema
natureza natal em desalinho.
Seja a tua Arte como linda gema
a iluminar do pária o pobre ninho.
Seja a tua palheta um diadema
a coroar a dor do pobrezinho.
Tu deves colocar o teu pincel
divino em prol de todos deserdados!
Ó que ele seja como um Deus revel
A clamar contra todas as misérias
e que haja em ti fulgores sublimados
de
ideais, de coisas altas e siderais!
Eis, pois, em singelas linhas, o que apresentamos em memória de Octavio
Brandão, pelo muito que o admiramos e pelo mais que ele foi para o nosso país.