06 de março, 2015 - 08h10 - Política
Escândalos na Petrobras: Crise já afeta os três Poderes
Para especialistas, políticos envolvidos no esquema criam desconfiança na população
Por: O Globo
Rio - Na véspera da divulgação completa da lista do
procurador-geral, Rodrigo Janot, que relaciona políticos envolvidos no
esquema de corrupção da Petrobras e foi entregue ao Supremo Tribunal
Federal (STF), uma fonte da Procuradoria afirmou ao GLOBO que 10% do
Senado - oito senadores dos 81 parlamentares - deve ser investigado.
Dias antes, já havia vazado que o presidente da Casa, Renan Calheiros
(PMDB-AL), e o também peemedebista Eduardo Cunha (RJ), que preside a
Câmara, estavam entre os listados e ainda nomes de ex-ministros,
governadores e ex-governadores. Para Roberto Romano, cientista político
da Unicamp, mesmo que a íntegra da lista não seja conhecida, a crise por
conta dos desvios na estatal já afeta os três Poderes e não mais só os
partidos.
'Há desconfiança do eleitorado em relação aos três Poderes e às
instituições do Estado. O Executivo tem hegemonia com a compra de votos,
com uma espécie de é dando que se recebe na relação com o Congresso,
que, por sua vez, coloca os interesses nacionais abaixo dos regionais e
trabalha com a ideia de que se tiver recurso não importa de onde vem.
Mesmo o Judiciário vem aparecendo por conta de situações complicadas,
como a do juiz que era responsável pelo processo envolvendo o Eike
Batista. Agora, o preocupante é que essa crise não é só perda de
prestígio da presidente, que aparece mal avaliada, ou dos políticos e
dos juízes. É o desprestígio do regime democrático', diz Romano.
A situação delicada entre o Executivo e o Legislativo, que vem
fazendo o Planalto ter uma derrota atrás da outra neste segundo mandato
da presidente Dilma, contribui, segundo Romano, para que "a crise seja
de longo prazo". Ele lembra que o PMDB, que preside a Câmara e o Senado e
é o principal aliado do PT, tem bases em todo o Brasil, o que o torna
imprescindível para qualquer sigla que chegue ao poder. Para ele, mesmo
que os nomes de Renan e Cunha sejam confirmados na lista de Janot, o
partido não perderá o poder nas duas Casas e continuará mostrando sua
insatisfação com o Planalto.
Cientista político da PUC-RS, Emil Sobottka
também avalia que o governo não conseguirá "faturar em cima" mesmo que
Cunha e Renan sejam investigados pelo STF e diz ser necessário buscar
uma saída para o impasse:
'O Planalto já não tem encontrado amparo também no Judiciário. No
Legislativo, chegou a um nível de rompimento, e mesmo os ministros do
Supremo, que de modo geral são mais contidos, já demonstram em público o
descontentamento com a presidente. Fora isso, tem ainda a crise
econômica, e agora parece difícil o ajuste fiscal passar no Congresso.
Talvez Dilma tenha que propor uma aliança dos afogados, com aqueles
aliados que estiverem na lista. Mas aí é sabendo que não é na base da
confiança e sim até a próxima oportunidade de aplicar mais um golpe, de
impor nova derrota'.