O ADVOGADO E A ÉTICA
J. R. Guedes de Oliveira
Há algum tempo, um jornal da capital
fez uma pesquisa para saber qual seria o tipo de profissional mais inconfiável.
Não deu outra: advogado.
Esta pesquisa revelou que a população
não confia neste profissional. Com isso, surgiram piadinhas de mau-gosto de
toda forma. A internet está cheia delas, como, por exemplo:
- De dois
herdeiros, o advogado é o terceiro.
- O casal que
estava em separação, faleceu e foi para o céu. Lá, ainda desejava continuar o
processo de separação. Mas São Pedro confidenciou que, infelizmente, não havia
advogados no céu.
Historicamente, há uma explicação
desse estigma ou pecha que nos impingiram. É que, com o famigerado Golpe de 64,
ficamos até 1985 atrelados ao império do militarismo. O regime de exceção
imposto ao país, levou os exercitores do Direito a um total desespero, com um
evidente retrocesso. Relegados a um plano secundário os advogados tiveram que
procurar outros afazeres, para não morrer de fome.
É claro que com a abertura política,
reativou-se os valores jurídicos e se iniciou uma nova era, a de prosperidade
para o advogado. É claro que, com isto surgiram os inescrupulosos e
aproveitadores da reabertura. Uma parte desse número de profissionais, praticou
a anti-ética, cobrando altos honorários e, assim, criou-se este estigma.
Mas ninguém falou de outros
profissionais. Não houve, ainda, uma pesquisa para falar de engenheiros
incompetentes, de médicos inescrupulosos, de economistas picaretas, de químicos
pérfidos, de políticos safados, de contadores desonestos, de professores
enganadores, e aí vai.
Portanto, não somos a “laranja podre”
desta sociedade que cobra propinas para tudo. Cobramos valores e lutamos pelos
nossos clientes, como os novos Sobrais Pintos do país.
Mas, para falarmos sobre este tema,
teremos que, primeiramente, descrever o que significa ética.
Assim, temos:
“Ética, parte da filosofia que estuda
os atos humanos do ponto de vista de apreciação quanto à distinção do bem e do
mal”.
“Ética é a investigação geral sobre
aquilo que é bom”.
“Ética é o objetivo de facilitar a
realização das pessoas”.
“Ética é a ciência da moral”.
“Ética é o conjunto de princípios e regras morais
que regulam o comportamento e as relações humanas”.
Na Filosofia do Direito, temos:
“1º - Estudo dos valores
morais e dos princípios ideais do comportamento humano.
2º - Deontologia – estudo dos deveres
profissionais.
3º - Ciência dos costumes.
4º - Conjunto de prescrições admitidas por uma sociedade,
num determinado tempo.
5o - Ciência que tem por objeto a conduta humana.
6º
- Juízo de valor relativo à
conduta humana.
7º
- Ciência do comportamento moral
do ser humano no convívio social.
8º
- Teoria ou investigação de uma forma
de comportamento humano”.
E, ainda, na Ética do Advogado,
temos:
“Preceitos regulamentadores da
conduta do advogado, no exercício da profissão”.
A Ética chega a se confundir com a Moral, se
observarmos a afirmativa de Durkheim, quando ele nos diz:
“Tudo que é relativo aos bons
costumes ou às normas de comportamento admitidas e observadas, em certa época,
numa dada sociedade”.
Mas fiquemos tão somente com a Ética,
descrevendo-a tal como ela deve existir no campo do profissional do Direito,
especificamente ao Advogado.
Então, temos:
Código de Ética da OAB – conjunto de
preceitos fundamentais para o exercício profissional e o comportamento da
classe, em razão do seu dever para consigo mesmo e à sociedade.
Aqui salientamos, além dos deveres
para consigo mesmo, os deveres para com o seu cliente, para com os seus
colegas, para com o juiz, para com o Ministério Público, para com a polícia,
para com os peritos e para com os cartorários.
Além de toda uma gama de preceitos e
condutas, incluí-se o sigilo profissional, uma forma de suma importância para a
relação advogado-cliente.
De uma forma geral, a ética é algo,
muitas vezes, utópica. É fácil explicarmos esta afirmativa, quando encontramos
(e não muito!) em nosso meio, profissionais inescrupulosos, que se utilizam do
direito e de suas prerrogativas para praticar, descaradamente, a antiética,
como falamos no início.
Num universo de 400 mil advogados no
Brasil, inescrupulosos são poucos. Uma estatística, por exemplo, diz que dos
160 mil advogados só no Estado de São Paulo, apenas 2% não aplicam a ética. No
entanto, os outros 98% seguem rigorosamente a prática da ética, mesmo porque o
Tribunal de Ética da OAB é algo implacável.
Foi o filósofo Aristóteles, aluno e
discípulo de Sócrates, quem primeiro falou sobre este tema, escrevendo,
inclusive, três obras com o título de “Ética”. Dizia ele ser o comportamento do
homem perante o seu meio, dentro da moral necessária neste mesmo meio e no seu
devido tempo.
Mas a dinâmica do mundo, após a
revolução industrial, trouxe novos paradigmas da concepção de ética e moral, e,
com isso, as divergências claras e evidentes do que seria ética e do que seria
antiética.
Vamos, aqui, colocar um exemplo
interessante, passado há alguns anos, que
reproduzimos na íntegra e que foi inserido no Jornal do Senado de então:
Título: Jefferson
renuncia a verba para despesas.
“O senador Jefferson Péres (PDT-AM)
comunicou ao Plenário ter enviado ofício ao presidente do Senado, renunciando a
verba indenizatória de R$ 12 mil mensais, fixada como teto no final do ano passado
para os senadores arcarem com gastos em seus estados. O parlamentar enfatizou
que a aprovação dessa verba pela Comissão Diretora não constitui ilegalidade e
que seu gesto não continha censura a nenhum senador que aceite o benefício, já
concedido há algum tempo na Câmara dos Deputados.
No entender de Jefferson Péres, se a Comissão Diretora que
dirigiu o Senado até o início deste ano tivesse submetido o ato à deliberação
do Plenário, apenas para legitimá-lo, “porque legal ele é”, ele teria votado
contra. Daí por que considerou que seria hipocresia, sendo contra a instituição
desse benefício, usufruir do mesmo.
- Não seria uma atitude correta da minha
parte – lembrou, acrescentando que não utilizará essa verba até o final do seu
mandato”.
Com isto, observamos o lado
ético/moral do ilustre senador pelo Amazonas, numa época em que os cofres
públicos andam abalados e pedindo arrego pelo descaso anterior.
Finalizando, não poderíamos deixar de
registrar a nossa grande preocupação concernente aos escritórios de advocacias
que estão se instalando no país, vindo, principalmente, dos Estados Unidos. São
poderosas organizações que utilizam de advogados brasileiros para levar nome de
fachada mas que, por detrás, tomam o nosso serviço e se espalham de maneira
avassaladora, mormente quando se trata de seguros, propriedade intelectual,
propriedade industrial, agora em perdas e danos. Enfim, invadem o nosso mercado
e nos colocam numa posição de submissão. É isto que chamamos, também, de antiética
desgraçadamente.
Era só o que tinha de minha parte.
J.R. Guedes de Oliveira – E-mail:
guedes.idt@terra.com.br