FORÇA DAS RUAS
Atos pressionam governo a mudança de rumos
Vozes de mais de 1 milhão de pessoas nas ruas de todo o País, no domingo (15), pressionam o governo da presidente Dilma Rousseff (PT) a uma mudança de rumos
16/03/2015 - 05h00
- Atualizado em 15/03/2015 - 21h14
| Adriana Leite
aleite@rac.com.br
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Foto: Leandro Ferreira/ AAN
Valeriano Mendes Ferreira da Costa, da Unicamp: governo precisa reagir e acompanhar a dinâmica das ruas
As vozes de mais de 1 milhão de pessoas nas ruas de todo o
País, no domingo (15), pressionam o governo da presidente Dilma Rousseff
(PT) a uma mudança de rumos.
Analistas ouvidos pela reportagem do Correio Popular afirmam que o
número de brasileiros nas manifestações impressionou e mostrou a força
do movimento de oposição. O ato reforçou a insatisfação com a atual
situação política e econômica do País e a corrupção. Para eles, o
governo terá trabalho para reverter esse quadro e deverá mostrar reação
rápida com uma agenda positiva para o Brasil.
Os atos também colocariam o governo em uma situação de fragilidade diante do Congresso. A relação da gestão Dilma com os parlamentares não é amistosa, nem mesmo com os que compõem a base de apoio.
Os atos também colocariam o governo em uma situação de fragilidade diante do Congresso. A relação da gestão Dilma com os parlamentares não é amistosa, nem mesmo com os que compõem a base de apoio.
Votações recentes importantes na Câmara dos Deputados e no Senado
já indicaram que a articulação política do governo está desgastada. As
manifestações populares dão força para a oposição e a administração terá
de agir para buscar sustentação na base aliada.
Na opinião do professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Valeriano Mendes Ferreira Costa, os protestos de ontem pressionam o governo.
“Ele terá que apresentar uma agenda positiva para o Brasil. Também
será necessário, daqui em diante, ver a dinâmica das ruas e se o
movimento terá continuidade”, avaliou. Costa salientou que Dilma
precisará mostrar força e apresentar medidas que mobilizem ao menos seu
eleitorado em favor da administração.
“O governo precisa reagir para não cair em um quadro de paralisia e
também dialogar com o Congresso. Se a situação degringolar, existe o
risco de esvaziamento da base e um movimento de impeachment pode,
realmente, ganhar força”, analisou.
O professor disse, ainda, que a sociedade precisa definir uma pauta concreta e cobrar todos os agentes políticos.
Elite
A professora do Departamento de Antropologia, Política e Filosofia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Araraquara Maria Teresa Miceli Kerbauy afirmou que o número de cidadãos que saíram às ruas ontem superou as expectativas dos organizadores e também do governo.
O professor disse, ainda, que a sociedade precisa definir uma pauta concreta e cobrar todos os agentes políticos.
Elite
A professora do Departamento de Antropologia, Política e Filosofia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Araraquara Maria Teresa Miceli Kerbauy afirmou que o número de cidadãos que saíram às ruas ontem superou as expectativas dos organizadores e também do governo.
“As manifestações mostraram fôlego e pressionaram o governo da
presidente Dilma Rousseff”, disse. A especialista observou que a
tranquilidade foi um traço que marcou os atos. “O cenário foi bem
diferente do de 2013, quando eles foram marcados pela violência”,
comentou.
Maria Teresa frisou que o fato de haver mais de 1 milhão de pessoas nas ruas apenas em São Paulo mostrou que não é só a elite, como os apoiadores de Dilma ventilam na disputa política, que está descontente com a situação atual.
“Havia pessoas de diferentes classes sociais criticando o governo e
pedindo mudanças”, ressaltou. Ela salientou que o governo precisa parar
de tentar colar a pecha de “manifestação da elite” nesse movimento e
tomar ações concretas para reverter o quadro econômico e político.
“O governo deve parar de falar, a população quer ação. Todos os
cidadãos estão sentindo no bolso o impacto da crise econômica e também
da política”, falou.
Para a professora, a manifestação fragiliza ainda mais uma administração que vive hoje uma relação complicada com o Congresso. Segundo a especialista, a presidente Dilma deverá tomar medidas urgentes que, realmente, promovam mudanças no governo e efeito nos quadros econômico e político.
“Uma dessas medidas pode ser a mudança ministerial. Há uma pressão
da sociedade que exige transformações e espera por uma resposta do
governo. Os protestos mostram que há uma insatisfação muito grande”,
ressaltou.
Ato simbólico
Um ato que nasceu virtual, tornou-se físico e configurou-se simbólico. Em síntese, “o basta” que se viu ontem no País pode assim ser definido, segundo Roberto Romano, professor de ética da Unicamp. O especialista apontou que o caminho que a nação tomou foi pela saída do torpor.
“Sobretudo com as novas formas de comunicação, há uma população
informada e com condições de se mobilizar. Vale ressaltar que as
manifestações populares fazem parte da história do País. Podemos citar
as mobilizações decorrentes da morte de Getúlio Vargas, a favor da
resistência ao Golpe Militar, pelo fim da ditadura, pela democracia e
muitas outras”, pontuou.
Paralelamente a essas manifestações anteriores, Romano lembrou que houve uma interiorização das urbes no País, marcadamente após a década de 1960 — ou seja, o aumento do número de cidades e, consequentemente, a constituição de novas metrópoles, hoje mobilizadas.
“Contudo,
o Estado brasileiro, apesar de seu gigantismo, ainda não consegue
organizar suas políticas públicas. Cerca de 60% dos municípios não têm
sequer saneamento básico. Isso faz com que as populações, que não estão
mais esparsas e têm acesso aos meios de comunicação, apresentem esse
fenômeno inédito, essa radicalização cada vez maior em grandes massas”,
situou.
A aprovação da Lei da Ficha Limpa e a reprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 37, por exemplo, foram reflexos da mobilização popular.
“Há massa quando preteja de gente, quando o espaço físico é todo
tomado. As manifestações virtuais independem do espaço físico mas,
quando não se traduzem em ocupação das ruas, perdem a possibilidade da
conquista de modificações estruturais”, conjecturou.
O #vemprarua, nesse sentido, assenta a compreensão das massas de
que a manifestação popular tem força. “Tivemos uma passagem do virtual
para o simbólico e a passagem para uma mudança ainda maior”.
Romano lembrou, ainda, que a configuração das instituições públicas, tal como há hoje no Brasil, tende a se modificar pouquíssimo se houver um impeachment.
“Temos um sistema presidencialista, quando temos uma constituição
em vigor preparada para um governo parlamentarista. Houve um plebiscito
cujo resultado foi favorável ao presidencialismo. Contudo, no meu
entender e de uns poucos, se não houver a convocação de uma assembleia
nacional constituinte concertânea com o que é necessário para a nova
estrutura física do poder, não haverá mudança e solução da crise nunca.
Haverá uma troca de indivíduos e partidos, mas não uma reforma do Estado
brasileiro. Seguirá o imperialismo do Poder Executivo que é pago, quer
seja em recursos ou em cargos para os partidos que têm maioria no
Congresso, caso do PMDB. O Executivo é refém de alianças e, nesse
modelo, não há saída”, definiu.