O povo na rua: a culpa é de quem?
Semana promete protestos nas principais capitais do país, da CUT a movimentos
anti-Dilma
- Chico Marés
Publicada em 08/03/2015 às 17:35
O povo na rua: a culpa é de quem? - Por Chico Marés
Semana promete protestos nas principais capitais do país, da CUT a movimentos
anti-Dilma
A próxima semana promete gente na rua no
Paraná e no Brasil. Grupos de militantes antipetistas organizam
protestos de grandes proporções para o dia 15, nas principais capitais
do país. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) também deve realizar
atos nas capitais, no dia 13. Curitiba convive com a possibilidade de
greve de motoristas e cobradores de ônibus – e os professores continuam
acampados em frente ao Palácio Iguaçu.
Por trás da insatisfação generalizada,
há um componente bastante preocupante: as instituições políticas do
Brasil perdem credibilidade a cada dia. O custo de uma crise permanente
no país, causada em grande parte pela classe política, pode colocar em
risco a lenta construção do estado democrático.
Dois fatores ajudam a colocar lenha na
fogueira. O primeiro é a economia. Desde 2011, o país passa por um
processo de desaceleração econômica – e chega a 2015 em um cenário de
custo de vida crescente aliado a retração da economia. O segundo é a
Operação Lava Jato, que colocou sob investigação a nata da classe
política brasileira por desvios na Petrobras.
Na rua
Veja 10 motivos pelos quais o Paraná e o Brasil estão protestando em 2015
Esses fatores conjunturais, entretanto,
se somam a uma queda de confiança geral nas instituições que é bem mais
profunda. O Índice de Confiança Social (ICS) das instituições
brasileiras, medido pelo Ibope para avaliar a credibilidade das
instituições no Brasil, caiu de 58 para 49 entre 2009 e 2014. As
instituições mais mal avaliadas são os partidos políticos e o Congresso –
justamente a base do sistema democrático.
Adversários devem ir às ruas
CUT pede que governo de Dilma Rousseff “volte à esquerda”; Revoltados On-Line quer impeachment da presidente e do seu vice
Para o professor de filosofia política
da Unicamp Roberto Romano, as ações da classe política, como as
“mentiras absolutamente puras” sobre direitos trabalhistas usadas por
Dilma Rousseff na campanha eleitoral, e os crimes revelados pela
Operação Lava Jato, colaboraram para recrudescer um processo de
deterioração da imagem institucional brasileira. Isso leva a um clima de
contestação legítima, nas ruas, dessas instituições.
Entretanto, Romano acredita que há o
risco de que esse clima de desconfiança generalizada esteja favorecendo o
discurso autoritarista no país. Nos últimos meses, foram realizados
diversos atos pedindo a intervenção militar no país. Para o professor, a
situação é preocupante. Segundo ele, contextos similares levaram a
ditaduras violentas no país no século passado. “Os que dizem que nunca
mais o Brasil sofrerá um golpe devem pensar três vezes”, afirma.
Protestos
A realização de manifestações nesta
semana não será uma exceção no cenário da política atual. Em 2013,
manifestações gigantes cobraram melhores serviços e reforma política no
país. Desde o final do ano passado, a vida política do país, e
especialmente do Paraná, vem sendo marcada por uma sequência de
protestos – na maioria dos casos, democráticos. No mês passado, por
exemplo, professores e servidores públicos tomaram as ruas de Curitiba
para reclamar contra “calotes” e medidas de austeridade do governo
estadual. Caminhoneiros paralisaram estradas para protestar contra
medidas do governo federal.
A mobilização da população tem trazido
alguns resultados importantes – pelo menos sob a ótica dos
manifestantes. No caso da greve dos professores e servidores, os
manifestantes forçaram a retirada de projeto que extinguia benefícios e
unia fundos do Paranáprevidência. A pressão popular decretou, também, a
morte das votações em comissão geral – o popular “tratoraço” na
Assembleia. Os caminhoneiros também conseguiram forçar o governo a ceder
a algumas demandas da categoria.
Na Rua
Veja 10 motivos pelos quais o Paraná e o Brasil estão protestando em 2015
1 Crise Econômica: A
situação econômica do país é o fator que ajuda a unir todos os outros
fatores. Nos últimos anos, o país passa por um processo de desaceleração
econômica e crescimento da inflação. Os reflexos dessa crise foram
responsáveis por engatilhar os principais protestos contra o poder
público até o momento.
2 Aumento do custo de vida: Mais
inflação significa que fica cada vez mais difícil pagar as contas do
mês. Como se isso não fosse suficiente, os governos federal, estadual e
municipal aumentaram tributos, taxas e tarifas para compensar a crise.
Esse cenário mobiliza as pessoas a saírem às ruas para questionar os
governos por “pagar o pato” da crise econômica – a greve dos
caminhoneiros é um exemplo.
3 Medidas de austeridade: Os
impostos não são a única forma de desagradar a população. O governo
federal colocou no seu “pacote de austeridade” medidas que restringem
acesso ao seguro-desemprego. O estadual apresentou propostas que
prejudicam a carreira de servidores, especialmente os professores. Isso
colabora para piorar a imagem dos governos.
4 Irresponsabilidade administrativa: A
população avalia que a crise econômica e a crise de caixa dos governos
federal e estadual são fruto da própria incompetência dos governantes
reeleitos – e foram escondidas durante a campanha. Um exemplo é o fato
de que a arrecadação cresceu 56% em quatro anos no Paraná, e mesmo assim
o governo não consegue arcar com suas obrigações. Outro exemplo são as
dificuldades na gestão elétrica causadas pelo governo federal.
5 Estelionato eleitoral: Dilma
Rousseff (PT) se elegeu dizendo que não mexeria em direitos dos
trabalhadores, mas tomou medidas na direção oposta. Beto Richa (PSDB),
por outro lado, disse que pôs “as finanças do estado em ordem” e começou
seu governo tendo que admitir que as finanças não estavam em ordem.
Assim, o eleitor se sente enganado e convidado a protestar.
6 Insensibilidade política: A
falta de tato político tem jogado instituições no olho do furacão. Um
exemplo foi o Tribunal de Contas (TC): no auge das manifestações dos
professores, os conselheiros decidiram conceder a eles próprios o
benefício do auxílio-moradia. Na reação à crise estadual, o governo
optou por um “tratoraço” que acabou se provando desastroso para sua
própria imagem.
7 Calotes: Sem
dinheiro, governos tem deixado de pagar suas obrigações. Em Curitiba,
entre janeiro e fevereiro, servidores municipais da saúde e motoristas e
cobradores de ônibus entraram em greve por falta de pagamento de
benefícios já adquiridos. Isso também foi um dos motivos para a greve
dos professores.
8 Crise ética: A
Operação Lava Jato expôs o grau de envolvimento de políticos e
empresários com diretores da Petrobras. A dimensão dos desvios ocorridos
na estatal e a quantidade de políticos envolvidos com o caso contribuiu
para uma piora linear da imagem das instituições políticas no país, e
serviu como combustível para que as pessoas questionassem o governo
federal.
9 A era da informação: Com
a internet, nunca circulou tanta informação no mundo. Somando isso ao
amadurecimento da democracia, o poder público nunca foi tão transparente
no Brasil. Assim, informações que teriam ficado em uma gaveta escondida
no passado chegaram à população. E a população parece não estar
gostando do que está ouvindo.
10 Instituições em crise: O
grau de confiança da população nas instituições diminui a cada dia – e,
pior, quem puxa a queda são justamente as instituições mais importantes
da democracia, como os partidos, o Congresso e o sistema eleitoral. Por
um lado, pode servir de incentivo para a mudança na classe política.
Por outro, pode ser um convite ao pior: a própria democracia em risco.
Autor: Chico Marés
Fonte: Gazeta do Povo
Fonte: Gazeta do Povo