Faixas e gritos de ordem contra o Judiciário
Por William MaiaSão Paulo
Nos protestos de ontem (15/03) contra o governo federal e a corrupção, muitos dedicaram cartazes ao Poder Judiciário e seus operadores. A pedido do JOTA, o filósofo Roberto Romano, da Unicamp, analisou algumas dessas mensagens. Confira:
Poder menos distante
“Os juízes tem uma dificuldade enorme de se relacionar com o cidadão comum. O Judiciário, via de regra, é o poder mais distante, e, não raro, o mais arrogante. Quando surgem esses casos de maior apelo popular, como o Mensalão e o Petrolão, há esse choque, entre esse poder encastelado e o povo.”
Vidraça: “O Judiciário como um todo e, em particular, o Supremo tendem a reiterar esse comportamento imperial. Mas o que acontece agora é que eles se deparam com um cidadão comum cada vez mais informado e inconformado. Se as críticas não chegavam ao Supremo, vão começar a chegar. A fiscalização dos poderes está aumentando e a capacidade de compreensão dos problemas por parte da população também está aumentando. No caso do mensalão, houve maior exposição do Judiciário perante à população leiga, algo que já vinha acontecendo com as transmissões da TV Justiça. Isso é muito bom porque aumenta a transparência e o interesse das pessoas pela Justiça. Essa reação de hoje, com as críticas ao Supremo é um sinal dessa decepção. Venderam o julgamento do mensalão como uma nova era da Justiça e a realidade não é tão simples assim”.
‘Vilão': “Esse encontro enigmático do ministro Dias Toffoli com a presidente da República, em qualquer país sério, seria visto com uma atitude imprudente, no mínimo. Trata-se de uma pessoa que será decisiva num julgamento no qual o partido do governo não é neutro. Essa desculpa de que se tratou de uma visita institucional, para tratar de assuntos relacionados à Justiça Eleitoral, soa como uma ofensa à inteligência do cidadão comum. É compreensível essa reação popular”.
‘Heróis': “O personagem central do mensalão, o ministro Joaquim Barbosa, foi cantado em prosa e verso como o único juiz íntegro do Brasil. Mas em outros casos ele reproduziu esse mesmo comportamento tradicional do Judiciário, defendendo os interesses do governo em detrimento dos interesses da população. A reforma da Previdência, quando foi questionada no Supremo, é um exemplo. Indicado pelo ex-presidente Lula, Barbosa votou dizendo que não existiam direitos adquiridos, porque se eles existissem ainda haveriam escravos no Brasil. O que não passa de um sofisma. Ali ele estava pagando sua nomeação. É um falso herói. Agora no caso no Petrolão, podemos ter um novo Joaquim Barbosa, que é o juiz Sérgio Moro, alçado à condição de salvador da pátria. Mas precisamos ter cuidado com esse endeusamento, porque a decepção de uma população iludida pode ser muito perigosa.