Jobim pede exoneração de general que atacou Comissão da Verdade
Publicada em 10/02/2010 às 15h24m
SÃO PAULO - O ministro da Defesa, Nelson Jobim, pediu nesta quarta-feira ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a exoneração do general Maynard Marques de Santa Rosa, chefe do Departamento-Geral do Pessoal do Exército. Nota atribuída ao general que circula na internet diz que a Comissão da Verdade - criada para investigar crimes contra direitos humanos durante a ditadura (1964-1985) - seria formada por "fanáticos" e acabaria se transformando em uma "comissão da calúnia".
" Acabei de enviar ao presidente da República a exoneração do general Santa Rosa "
- Acabei de enviar ao presidente da República a exoneração do general Santa Rosa da chefia do Departamento-Geral do Pessoal. Pela manhã, conversei com o comandante do Exército, general Enzo (Martins Peri), e pedi a ele providências imediatas tendo em vista as notícias que haviam circulado. Ele confirmou a notícia e disse que sugeria a exoneração, o que foi enviado agora para o presidente - disse Jobim, após sair da posse do novo ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto .
Em nota divulgada nesta quarta, o Ministério da Defesa afirma que o texto é, segundo o comandante do Exército, uma "correspondência pessoal do referido oficial-general indevidamente propagada pela Internet, sendo, portanto, uma opinião particular".
" Confiar a fanáticos a busca da verdade é o mesmo que entregar o galinheiro aos cuidados da raposa "
Na nota, o general ataca a intenção contida no Programa Nacional de Direitos Humanos - que inclui iniciativas em praticamente todas as áreas de governo - de criar uma "comissão da verdade" para investigar crimes contra os direitos humanos cometidos durante o período do regime militar (1964-1985).
"Confiar a fanáticos a busca da verdade é o mesmo que entregar o galinheiro aos cuidados da raposa. A história da inquisição espanhola espelha o perigo do poder concedido a fanáticos", afirmou o general.
"Essa excêntrica comissão, incapaz por origem de encontrar a verdade, será, no máximo, uma 'comissão da calúnia'", completou.
A base governista não conseguiu barrar nesta quarta-feira a aprovação de convocação da ministra da Casa Civil , Dilma Rousseff, para falar na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado sobre os pontos polêmicos do Programa Nacional de Direitos Humanos. Apesar de o texto ter passado pela Casa Civil e ter provocado uma crise entre diferentes setores do governo, a pré-candidata do PT não se manifestou sobre o tema até agora.
No início do ano, a criação da Comissão da Verdade abriu uma crise entre Jobim e Paulo Vannuchi (Direitos Humanos). As críticas levaram o presidente Lula a editar um novo decreto mudando o texto sobre a Comissão da Verdade, sem os termos "repressão política" e "apuração de violações", pontos de atrito com os militares. O novo texto estabelece que a comissão "vai examinar" as violações de direitos humanos ocorridas durante o regime militar.
O governo também se comprometeu a alterar o texto que trata da descriminalização do aborto, que gerou críticas da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Mas outros pontos polêmicos ainda não foram alterados, como os que tratam dos meios de comunicação e da reforma agrária.