A verdadeira operação abafa
17 de abril de 2012 | 3h 05
O Estado de S.Paulo
A tática dos lulopetistas de acusar os adversários
políticos de praticar as malfeitorias que eles próprios cometem é
sobejamente conhecida, mas chega a ser desconcertante o caradurismo da
operação abafa que suas lideranças estão tentando instaurar diante da
iminência do julgamento do processo do mensalão pelo Supremo Tribunal
Federal (STF). Temerosa de que a Suprema Corte venha a confirmar a
existência do maior escândalo de corrupção da história da República, a
cúpula petista tenta por todos os meios - inclusive a pressão sobre os
ministros do STF - desqualificar as acusações que pesam sobre os 38 réus
do processo e, por meio das mais deslavadas chicanas, provocar a
postergação do julgamento para 2013. Com isso estariam os petistas, no
mínimo, se poupando de maior desgaste político em ano eleitoral e
permitindo a prescrição de muitas das denúncias.
A operação abafa lulopetista se desenvolve em dois planos: o
político, com a tentativa de desqualificar perante a opinião pública as
acusações que pesam sobre os mensaleiros, sob o argumento cínico de que
eles fizeram o que "todo mundo faz"; e o jurídico, técnico, no qual
procuram demonstrar tanto a existência de vícios processuais que
precisam ser corrigidos quanto a inexistência de provas suficientes
contra réus como o notório José Dirceu.
Para demonstrar o que todo mundo sabe - que corruptos existem em todo
canto - os petistas assumiram até mesmo o risco de apoiar a CPI do
Cachoeira, que está sendo constituída para investigar o envolvimento do
contraventor goiano Carlinhos Cachoeira com governantes e políticos.
Pretendem, é claro, atingir o governador tucano de Goiás, Marconi
Perillo, e fazer barulho em torno do envolvimento do senador
oposicionista Demóstenes Torres com os negócios do bicheiro. E não se
pejam de alegar que os principais veículos de comunicação do País estão
envolvidos - ora vejam - numa operação abafa destinada a acobertar os
malfeitos do desmoralizado senador goiano.
A direção do partido foi muito longe, muito depressa. Tanto que a
presidente Dilma Rousseff, na sexta-feira, queixou-se da precipitação e
dos termos da nota oficial do PT e chegou a pedir a Lula que não jogue
mais lenha na fogueira. Como se sabe, Lula não vê a hora de destruir
politicamente o seu desafeto Marconi Perillo. Dilma, no entanto, se
preocupa com os respingos de lama que a CPI certamente jogará no governo
que preside.
Os petistas apressados tentam confundir delitos diferentes cometidos
por gente da mesma espécie. O caso Demóstenes é uma coisa - e os
culpados precisam ser punidos -, enquanto o mensalão é outra coisa - e
os culpados precisam ser igualmente punidos. Os dois casos têm origem na
mesma cultura que leva à apropriação indébita dos bens públicos e à
desmoralização das instituições. Mas são delitos que precisam ser
examinados e julgados, cada um a seu turno.
No que diz respeito ao STF, os petistas confiam, sempre movidos por
seu enraizado sentimento de patota, no fato de que a maioria dos atuais
ministros foi nomeada por Lula e Dilma. É uma expectativa que não honra a
tradição de absoluta isenção partidária com que os juízes da Suprema
Corte historicamente se comportam no desempenho de suas altas
responsabilidades. Mas, a julgar pelo que circula na área do partido do
governo, o próprio Lula estaria empenhado em fazer pressão sobre os
ministros, já que é o maior interessado em evitar que a existência do
maior escândalo de corrupção de seu governo seja confirmada pela Suprema
Corte.
De qualquer modo, se já não bastassem os reiterados exemplos de rigor
lógico e técnico em seus julgamentos - como destacamos recentemente em
editorial sobre a decisão de que não constitui crime o aborto de fetos
anencéfalos -, tudo indica que o STF está convencido de que é mais do
que chegada a hora de se pronunciar sobre o escândalo do mensalão,
conforme revelou o ministro Carlos Ayres Britto, que na próxima
quinta-feira assume a presidência do STF. "É preciso julgar com
brevidade, porque há o risco de prescrição", disse ele. Para tanto, o
processo precisa ser julgado até o dia 6 de julho, para evitar que a
decisão final da Corte só venha a ser proferida no próximo ano