|
| |
Lula e petistas aumentam pressões sobre ministros do STF no mensalão
Ex-presidente diz a aliados preferir adiamento do julgamento para evitar prejuízo a candidatos do PT
Presença de Toffoli, que trabalhou para o PT e no governo, e proximidade da eleição preocupam o partido
CATIA SEABRA
FELIPE SELIGMAN
NATUZA NERY
DE BRASÍLIA
Sob a supervisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, integrantes
do PT se lançaram numa ofensiva para aumentar a pressão sobre os
ministros do Supremo Tribunal Federal que julgarão o processo do
mensalão.
Parlamentares e petistas com trânsito no Judiciário foram destacados
para apresentar aos ministros a tese de que o julgamento não deve ser
político, mas uma análise técnica das provas que fazem parte do
processo.
O medo dos petistas é de que os ministros do tribunal sucumbam a
pressões da opinião pública num ano eleitoral. O mesmo movimento tenta
convencer o Supremo de que o julgamento não deve acontecer neste ano.
Um dos petistas que participam da ofensiva disse à Folha que fez
chegar a integrantes do STF a avaliação de que não há provas suficientes
para condenação do ex-ministro José Dirceu e do ex-presidente do PT
José Genoino.
Na denúncia que deu origem ao processo do mensalão, Dirceu é apontado
pela Procuradoria-Geral da República como chefe de um esquema que teria
desviado recursos públicos para os partidos que apoiavam o governo Lula
no Congresso.
O foco mais evidente do assédio petista é o ministro José Dias Toffoli,
que foi assessor do PT e advogado-geral da União no governo Lula.
Emissários do ex-presidente já fizeram chegar a Toffoli a preocupação
com a possibilidade de ele se considerar sob suspeição durante o
julgamento do mensalão.
Responsável pela indicação de Toffoli, o próprio Lula passou a reclamar
dele. Segundo petistas, o ministro estaria emitindo "sinais trocados"
sobre o julgamento.
Toffoli pode se declarar impedido para julgar o caso, por causa de seu
envolvimento com o PT e o governo Lula, e porque sua namorada foi
advogada do ex-deputado Professor Luizinho (SP), que também é réu no
mensalão e hoje está afastado da política.
À Folha Toffoli disse que não se considera impedido, mas que só
tomará uma decisão quando o julgamento estiver marcado. "Ele não tem
esse direito", disse o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho
(PT), amigo do ex-presidente.
Segundo a Folha apurou, Lula já afirmou a ao menos dois
ex-ministros de seu governo que não gostaria que o julgamento ocorresse
neste ano por temer prejuízos aos candidatos que apoiará nas eleições
municipais. Dos 11 integrantes do Supremo, seis foram nomeados por Lula.
pressão jurídica
Além da movimentação política, os ministros também passaram, nos último
meses, a receber outro tipo de pressão, desta vez jurídica, vinda de
Márcio Thomaz Bastos, ex-ministro da Justiça de Lula.
Contratado para defender um ex-diretor do Banco Rural que também é réu,
Thomaz Bastos enviou ao Supremo uma questão de ordem para tentar mais
uma vez desmembrar o processo.
Isso deixaria no tribunal apenas três réus e mandaria para a primeira
instância todos aqueles que não têm foro privilegiado no Supremo, entre
eles Dirceu e Genoino.
O STF rejeitou a ideia em 2006, quando a denúncia ainda não havia sido
aceita pelo tribunal e a discussão foi proposta pelos advogados do
empresário Marcos Valério Fernandes de Souza.
Thomaz Bastos diz ter novos argumentos para defender a tese e já
conseguiu convencer parte dos ministros do STF de que será preciso
analisar a questão novamente antes do julgamento.
|