Risco da CPI faz base aliada negociar 'operação abafa' para poupar políticos
Temor do Planalto com desdobramentos da investigação alertou governistas
16 de abril de 2012 | 22h 30
Eugênia Lopes, João Domingos e Evandro Fadel, de O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA e CURITIBA - Diante do alerta do Palácio do
Planalto sobre os riscos de desgaste do governo, tomou corpo no
Congresso, com ajuda da base aliada, uma “operação abafa” na Comissão
Parlamentar de Inquérito do Cachoeira, a ser instalada nos próximos
dias. Uma das estratégias é poupar políticos de diversos partidos
citados na Operação Monte Carlo da Polícia Federal, que levou à prisão o
contraventor Carlinhos Cachoeira.
Veja também:
Carlinhos Cachoeira será transferido do RN para o DF
Grampo sugere relação da Delta com políticos
ESPECIAL: CPI do Cachoeira
Ficariam fora do radar deputados flagrados em escutas com integrantes
do esquema, os governadores petista Agnelo Queiroz (DF) e o tucano
Marconi Perillo (GO), além do ex-ministro José Dirceu. A única exceção
seria o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), que teve 298
conversas telefônicas com Cachoeira grampeadas pela PF nos últimos três
anos. O senador está sendo investigado também pelo Conselho de Ética e
pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A “operação abafa” é resultado da pressão da presidente Dilma
Rousseff para que setores do PT defensores da CPI do Cachoeira tenham
calma e não usem a comissão como palco de vingança, o que poderia causar
danos políticos ao governo.
Dilma conversou com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a CPI na sexta-feira, em São Paulo, conforme revelou o Estado.
O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), defendeu nesta
segunda-feira, 16, que a CPI investigue os negócios de Cachoeira e não
se transforme numa disputa política entre governo e oposição. “Queremos é
desmantelar esta rede de poder paralelo que foi constituída por esse
cidadão chamado Cachoeira e que vai desde o Legislativo, passa pelo
Executivo e pelo Judiciário, pelo setor privado e pela imprensa
brasileira.”
“Todos serão investigados independente de onde estejam, de qual papel
tenham cumprido”, afirmou Maia, a despeito da operação abafa em curso
no Congresso. Ele negou que o PT queira barrar as investigações.
Até a semana passada arauto de uma investigação que atingisse as
entranhas da oposição, o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP),
adotou um discurso conciliador. “Acho um exagero chamar o Agnelo Queiroz
(governador do Distrito Federal, do PT) e o Marconi Perillo (governador
de Goiás, do PSDB)”, disse o líder, ao responder se os dois deveriam
ser convocados pela CPI. Em seguida, porém, retomou a luta política: “O
envolvimento do governador do PSDB com Cachoeira é muito maior. É mais
razoável chamar o Marconi do que o Agnelo”.
O movimento em gestação no Congresso visa a salvar os políticos ao
mesmo tempo em que tentará fazer com que a CPI concentre suas
investigações no contraventor Carlinhos Cachoeira e nos empresários mais
citados nos grampos da Polícia Federal, como Fernando Cavendish, dono
da Delta Construções S.A. e Cláudio Abreu, representante da empresa no
Centro-Oeste.
Entre os parlamentares poupados, neste momento, estão os tucanos
Carlos Alberto Leréia (GO), que admitiu ser mesmo amigo de Cachoeira e
saber que ele estava envolvido com o jogo ilegal, e Leonardo Vilela
(GO), pré-candidato à prefeitura de Goiânia. Também foram citados nas
gravações Jovair Arantes (GO), líder do PTB na Câmara, Sandes Júnior
(PP-GO), Rubens Otoni (PT-GO), gravado em vídeo negociando financiamento
de campanha com o empresário preso, e Stepan Nercessian (PPS-RJ), que
tomou um empréstimo de R$ 175 mil do contraventor.
Oposição. O líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA), disse ter a
certeza de que o governo usará a imensa maioria que terá na CPI para
impedir investigações mais aprofundadas. Dos 30 titulares da CPI, os
partidos de oposição vão nomear apenas 6. Caberá ao governo preencher as
outras 24 vagas.
O presidente do Conselho de Ética do Senado, Antonio Carlos Valadares
(PSB-SE), e os senadores Vital do Rego (PMDB-PB) e Humberto Costa
(PT-PE) encontram-se nesta terça-feira, 17, com o ministro do Supremo
Tribunal Federal Ricardo Lewandowski para pedir acesso ao inquérito que
apura as relações de Cachoeira com políticos. A investigação está sob
sigilo.