Notícia da data 15/04/2012 às 07:12:09
Sucessão municipal
Sucessão municipal
A FEDERAÇÃO PT
Sérgio Montenegro Filho / Jornal do Commercio
Após quase 12 anos de
poder, o Partido dos Trabalhadores (PT) é hoje, sem sombra de dúvida,
diferente daquela legenda operária dos anos 80 e 90, que primava por um
discurso radical de oposição e – mesmo dividido em várias tendências
ideológicas – sempre unia forças quando se tratava de combater os
governos “neoliberais” Bem maior do que era antes de assumir o Palácio
do Planalto, em 2003, o PT atual é um partido institucionalizado e
fracionado em vários PTs regionais, cujos núcleos, muito além de
divergirem entre si, travam disputas fratricidas pela hegemonia local.
A necessidade da realização
de prévias para a escolha do candidato a prefeito do Recife é um
exemplo do processo de autofagia a que se submeteram os petistas. Embora
em nível estadual o partido esteja sob o comando do senador Humberto
Costa, na capital o cenário é diferente. Além do grupo de Humberto,
outros dois segmentos – o do prefeito João da Costa e o do deputado
federal João Paulo – brigam, nem sempre silenciosamente, por espaço.
Essas subdivisões do PT lembram, segundo o cientista político paranaense
Roberto Romano, o início do processo de fragmentação do PMDB,
deflagrado ainda durante a ditadura militar, ainda com a sigla MDB, que
abrigava sob um único guarda-chuva toda a oposição ao regime de exceção.
Professor da disciplina de
Ética e Política da Universidade Federal de Campinas (Unicamp), Roberto
Romano elaborou um estudo em que compara a subdivisão do PT às
“capitanias hereditárias” do PMDB, espalhadas pelo País, sob o controle
de caciques regionais. A diferença, segundo ele, é que os peemedebistas
não dispõem mais de uma grande liderança, papel que já coube a figuras
como Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e Franco Montoro. Alguém que os
comande rumo a um projeto nacional. O PT, por sua vez, conta com a força
política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, mais
recentemente, com a da presidente Dilma Rousseff. “No início do atual
governo, eu imaginava que Dilma faria apenas um mandato-tampão, abrindo
espaço para a volta de Lula em 2014. Mas ela construiu estilo e força
próprios, e já tem essa capacidade de unir o PT”, reconhece Romano.
Para o professor, porém, o
trabalho de “costura” do partido deve ficar mais difícil a cada dia.
Sobretudo pelo recrudescimento das disputas regionais no PT. “hoje temos
o PT de Jaques Wagner (BA), o de Tarso Genro, o de Humberto Costa (PE),
o dos irmãos Tião e Jorge Vianna (AC), o de Luizianne Lins (CE) e
vários outros espalhados pelo País. Sem falar de São Paulo, que tem
vários PTs. E em todos esses locais, o partido trava brigas internas
entre grupos rivais”, analisa. Para ele, com tantos segmentos, o PT já
atingiu o mesmo nível de “oligarquização” do PMDB, mas com uma
diferença: embora tenha passado quase 12 anos no governo, não soube
ampliar seu poder nos municípios, como fez o PMDB.
“Os petistas optaram por
fazer alianças com outros partidos, em nome da governabilidade. Já o
MDB, pelo fato de ser oposição num período de ditadura, não dispunha
dessa alternativa e precisou se reforçar nos municípios. Tornou-se,
assim, o maior partido nacional, e se mantém até hoje como fiel da
balança, inclusive nos governos do PSDB e do PT”, explica Roberto
Romano. Mas ao menos por ora, segundo ele, o PT ainda conta com alguém
que costure a unidade interna entre os núcleos regionais da sua
federação. “Lula, mesmo doente, continua sendo um operador poderoso, de
uma genialidade política espetacular na construção de alianças e
acordos”, afirma.
O estudioso, porém, levanta
dúvidas sobre o futuro eleitoral do ex-presidente. Considera improvável
que ele ainda venha a disputar a Presidência em 2014, diante da alta
popularidade conquistada por Dilma, que deve concorrer à reeleição e, de
alguma forma, assumir a ponta no papel de articuladora da federação
petista. “Lula fez o milagre político de reproduzir em Dilma esse elo
que, antes, somente ele representava, que une todo o PT”, analisa. E
provoca: “Quem mais empolgaria o partido em 2014? Tarso (Genro) não
passa da região Sul. Patrus (Ananias) não sai de Minas Gerais. (José)
Genoíno, Marta (Suplicy) e (Aloísio) Mercadante são quadros do passado
paulista do PT. E (Antônio) Palocci e (José) Dirceu, que eram os nomes
preferidos de Lula, foram para o espaço depois das várias denúncias
contra eles”.
Roberto Romano também
descarta, por enquanto, a hipótese de o PT vir a jogar o jogo
presidencial de 2014 apoiando um candidato de uma legenda aliada, a
exemplo do governador Eduardo Campos (PSB), cujo nome, vez por outra,
tem sido especulado. “A própria Dilma, pelo fato de ter pertencido antes
ao PDT, enfrentou restrições no PT, e só foi aceita depois que Lula
declarou apoio integral a ela”, lembra. “Eduardo Campos é um político
jovem e articulado, tem um bom discurso. Mas lhe falta o respaldo da
mídia nacional e, principalmente, do PT. Talvez tenha chances em 2018,
quando Lula e Dilma tiverem saído de cena”, conclui.