Merkel não dá carona ao marido em avião oficial
De
Roma, especial para o Portal Terra.
Para
a mídia alemã não representa notícia de interesse público o fato de a
chanceler Angela Merkel, chefe de governo, não dar carona ao marido em
avião oficial.
Merkel
passou a Páscoa na cidade italiana de Nápoles a fim de descansar. O
avião oficial que a transportava desembarcou na sexta-feira e o corpo de
segurança alemão a acompanhou à residência que alugara com dinheiro
próprio.
Cerca
de quatro horas depois do desembarque de Merkel em Nápoles, chegou o seu
marido. Estava programado que o casal passaria a Páscoa em Nápoles. O
“maridão”, no entanto, pegou um vôo comercial Berlim-Roma e, na sequência,
uma conexão para Nápoles.
Por
que não pegou uma “carona” com a poderosa chanceler e esposa
?
A
resposta é simples. A carona em vôo oficial, segundo a legislação alemã, é
muito cara. Mais de dez vezes o preço de um bilhete aéreo comercial. Por
isso, o casal Merkel viajou separado. Em outras palavras, para economizar.
Assim, o varão viajou como um comum mortal que, temporariamente, é esposo
da chefe de governo da Alemanha. A virago, de enormes responsabilidades
institucionais, cumpriu a lei e fez economia
doméstica.
No
Brasil, o senador Eduardo Suplicy, depois de noticiado na imprensa, correu
para devolver o valor de uma passagem aérea que o seu gabinete, por
sua ordem e numa relação privada, havia comprado para a
namorada.
Ontem,
no final da tarde, um avião alemão oficial conduziu Merkel de volta a
Berlim, sede do governo e sua cidade natal. O esposo da chanceler partiu
hoje cedo em vôo de carreira, com conexão e passagem paga por ele próprio
e não pelo cidadão alemão.
O
fato não passou em branco na mídia italiana, que, no momento, cobre o
escândalo a envolver o senador Umberto Bossi, líder do partido político da
Liga Norte e já demissionário da secretaria-geral, e a
vice-presidente do Senado da República italiana, Rosi Mauro, de 42
anos.
Bossi
pagava as elevadíssimas despesas familiares com dinheiro público referente
ao financiamento de campanhas e do partido político.
Não
bastasse, a Liga Norte, administrada por Bossi, pagava um “mensalão”
para a vice-presidente do Senado, que fundou um sindicato e mantém o
amante-cantor como chefe de gabinete.
Cerca
de 500 milhões de euros foram “desviados” pela Liga Norte, segundo
noticiado pela imprensa e cálculos da magistratura do Ministério
Público. Dois filhos de Bossi compraram diplomas escolares na Suíça e
Inglaterra. Tinham carrões de marca BMW e Porsche. A casa de Bossi foi
toda reformada e a sua esposa, leitora de livros de magia negra, instalou
com dinheiro público desviado, na cidade de Varese (vizinha a Milão), uma
escola maternal onde se autocontratou como
diretora-geral.
Líder
separatista e praticante de xenofobia, Bossi, durante 20 anos, referia-se
à capital do país como “Roma Ladrona” (verbis). Desde ontem, nos muros de
Roma estão grudados cartazes com o título: “Lega Nord
Ladrona”.
Dispensável
dizer que Bossi alega que não sabia de nada. Não controlava o tesoureiro
do partido e, num atentado à inteligência italiana, coloca-se em panos de
quem não percebia nada. Nem quando a casa estava sendo reformada e os
filhos chegavam com automóveis novos e caríssimos.
A
vice-presidente do Senado, Rosi Mauro, eleita pela Liga Norte em 21 de
dezembro de 2010, não vê necessidade de se afastar da vice-presidência.
Ela disse aguardar o trabalho da Magistratura do Ministério, que se
desenvolve em três frentes independentes: Milão, Calábria (suspeita de
lavagem de dinheiro da Liga Norte pela máfia calabresa ´NDrangheta) e
Nápoles.
Como
no Brasil, os políticos confundem princípios. A presunção de não
culpabilidade (mal chamada no Brasil de presunção de inocência) aplica-se
no processo criminal. Não se aplica em política, como se viu, por exemplo,
nas cassações de José Dirceu e Roberto Jefferson.
Wálter
Fanganiello
Maierovitch