Dilma se queixa, PT recua e agora já fala em ‘rediscutir’ CPI
Presidente não gostou da maneira com o Rui Falcão defendeu criação da comissão
BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff não está satisfeita com o
presidente do PT, Rui Falcão, por causa da atropelada criação da CPI do
Cachoeira. Dilma se queixou com ministros e petistas de que Falcão não
podia ter saído atirando - e defendendo a criação da CPI - sem
consultá-la antes. Agora, o partido tenta puxar o freio de mão. Com o
afastamento do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), internado
desde sábado com insuficiência coronariana, se as assinaturas forem
coletadas a tempo, caberá à vice-presidente Marta Suplicy (PT-SP)
instalar a comissão na terça-feira. A preocupação de Dilma com o
anunciado descontrole da CPI foi tema da conversa, na sexta-feira, entre
ela e o ex-presidente Lula, um dos entusiastas da investigação
parlamentar sobre os negócios e relações do bicheiro Carlos Augusto
Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
O
líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA), já admite até abortar a
CPI, se o Supremo Tribunal Federal (STF) concordar em enviar os autos
das operações Monte Carlo e Las Vegas, da Polícia Federal, ao Conselho
de Ética do Senado. Mas ele reconhece que, politicamente, é muito
difícil reverter a criação da CPI a esta altura dos acontecimentos. O
senador José Pimentel (PT-CE), como membro do Conselho, requereu
novamente os documentos, alegando jurisprudência do caso do ex-senador
Luiz Octávio (PMDB-PA), quando o Supremo enviara o inquérito solicitado
pelo Senado.
- Se mandarem os documentos, e avaliarmos que o que a
CPI vai apurar é o que está apurado, aí podemos rediscutir a CPI. Mas
confesso que é difícil segurar agora. Podem dizer que é golpe - disse
Pinheiro.
Dilma ficou especialmente irritada com o vídeo em que o
presidente do PT, Rui Falcão, diz que a CPI ajudaria a desviar o foco e
neutralizar o desgaste do julgamento do mensalão no STF, que deve
começar em maio. Para Dilma, há o risco de a CPI ser um tiro no pé e
paralisar o governo. Governadores e governistas também temem que as
investigações virem uma bola de neve e desnudem as relações da Delta
Construções com governos de todos os partidos.
Petistas criticam intervenção de Lula
Petistas
mais moderados criticam a direção do partido por ter atendido, sem
discussão, o desejo do ex-presidente Lula, que vibrou quando integrantes
do governo do tucano Marconi Perillo (GO) apareceram nas investigações
da Polícia Federal. O ex-presidente não perdoa o tucano por ele ter
afirmado, durante o escândalo do mensalão, que Lula tinha conhecimento
do esquema. Rui Falcão chegou a defender, em vídeo, que a CPI fosse
usada para investigar o que chamou de “farsa do mensalão”, que, segundo
ele, teria sido montada pelo grupo que circula em torno de Cachoeira.
Depois
que forem coletadas as assinaturas necessárias - 171 na Câmara e 27 no
Senado -, Marta Suplicy terá que ler o requerimento em plenário, para
que a CPI seja criada.
No balanço dos eventuais estragos
decorrentes da CPI, o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), aposta
que a oposição tem mais a perder do que o governo e a base aliada:
-
Tem coisas graves que precisam ser investigadas. Não é CPI contra o
governo. As denúncias batem pesado na oposição, inclusive em pessoas que
se portavam como paladinos da moralidade. Se aparecer qualquer
irregularidade no governo, a providência é mandar apurar. Se tiver que
romper contratos (com a Delta), rompe. O objetivo é apurar a infiltração
do crime organizado no Estado brasileiro, e pega mais gente da oposição
do que do governo.
Além de Perillo, as investigações da PF também
envolvem o governo petista de Agnelo Queiroz (DF). A ala mais moderada
do PT é contra lavar as mãos em relação à administração do Distrito
Federal e refuta o argumento de que Agnelo é recém-chegado no partido.
- É um governo do PT. Não dá para contabilizar como governo nosso só quando interessa - diz uma liderança petista.
Ex-líder do governo, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) é contra e não quis assinar a CPI:
-
Acho que era preciso aguardar um pouco. Acho uma temeridade abrir uma
metralhadora giratória agora que vai perturbar tudo. Há um ambiente de
preocupação. Quem tem experiência de CPI sabe que pode ser um
instrumento de perturbação para o governo.
A mesma cautela é adotada pelo atual líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM).
-
Eu, Eduardo Braga, pessoalmente sempre acho que CPI, a gente sabe como
começa, mas não sabe como termina - diz Braga, estranhando não ter tido
nenhuma orientação do Planalto para interferir na instalação da CPI.
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