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CORES DA ALMA
A
cor acompanhou toda a trajetória da artista plástica Natália
Brescancíni durante o mestrado, tanto na pesquisa quanto
no processo de criação, até porque os dois caminharam juntos
e foram se modificando de acordo com os caminhos sugeridos
pela investigação pictórica. “As mudanças na pesquisa foram
impulsionadas pelas experiências práticas, em um desejo
crescente de aproximar as pesquisas de referências e os
estudos teóricos ao trabalho de ateliê”, afirma Natália.
De acordo com a pesquisadora, o mestrado consiste numa investigação
das possibilidades de uso de cor a partir de uma experiência
artística pessoal.
A
artista esclarece que parte do ponto de vista do artista,
que escolhe as cores e estabelece diferentes relações com
este elemento da linguagem para levantar as possibilidades
no seu uso, apontando para o papel da cor na construção
das imagens. Discutir a cor e seu papel na construção das
imagens, em sua opinião, é um modo de aproximar as referências
e os estudos teóricos da investigação do processo de criação,
organizando um estudo que discute um elemento fundamental
da linguagem visual a partir de experiências práticas, de
uma investigação por meio da linguagem pictórica. “O esclarecimento
dos critérios de seleção das cores enriquece a pesquisa
pictórica e torna possível comunicar conhecimentos específicos
da linguagem visual de forma verbal e acessível”, explica.
O
título poético “Distância Íntima” diz respeito ao trabalho
de autorretrato no qual a artista reflete sobre a escolha
da cor contemplando partes do próprio corpo. O tempo de
observação diante do espelho, segundo Natália, dá forma
para as percepções e é neste momento que surge a cor. “Esse
tempo de contemplação me leva a um outro estado de atenção
e é pela cor que o corpo se constrói”, explica. Natália
esclarece que a relação com a cor pode ser intuitiva, partindo
de uma relação mais afetiva. Também pode se dar de forma
racional, pensando qualidades de cor, interação, quantidades.
Em alguns momentos, a relação pode ser mais simbólica, com
significados compartilhados por uma cultura ou diferentes
culturas.
Nesta
criação artística-acadêmica, a artista diz ter descoberto
que a cor é elemento central de construção das imagens.
“Trabalho com autorretrato acontece a partir da cor. Foi
um processo gratificante porque lança mão de várias teorias.”,
acrescenta. Longe de querer ser intimista, Natália espera
que a experiência pictórica com o próprio corpo promova
o encontro com outros corpos. “Em um dos capítulos da dissertação,
discorro rapidamente sobre este desejo de encontrar, no
contato com meu próprio corpo, outros corpos, algo de humano,
de comum aos diferentes corpos”, explica.
Para
ela, a construção do conhecimento artístico se dá na constituição
do discurso poético, por meio da criação das imagens. No
caso de sua dissertação, da linguagem pictórica. “Mas como
realizar esta pesquisa, torná-la acessível e passível de
ser transmitida, com clareza na metodologia e em parâmetros
para avaliação de resultados?”
Durante a criação artístico-acadêmica, Natália foi desenvolvendo maneiras de registrar o processo. A atividade criteriosa resultou em um diário de pintura, no qual se registra cada dia de trabalho, desde as fotos de cada etapa das pinturas até o final; outro caderno de desenhos de investigações e um terceiro destinado a registrar todas as questões da pesquisa.
O
trabalho de Natália, na opinião da orientadora Lygia Eluf,
é um exemplo de como o trabalho artístico e o acadêmico
dialogam. Natália acredita que o rigor esteja presente na
pesquisa poética, em uma investigação pictórica e, nesse
sentido, um trabalho em poéticas visuais aproxima-se da
pesquisa acadêmica. “Acredito que a dificuldade em aproximar
uma investigação por meio da linguagem pictórica e uma pesquisa
dita ‘acadêmica’ esteja no fato de ainda estarmos em busca
da definição de questões fundamentais que norteariam a pesquisa
artística e construindo o espaço do conhecimento sensível
dentro da academia. Ainda assim, foi possível desenvolver
meu trabalho com tranquilidade, pois existem muitos pesquisadores,
incluindo minha orientadora, discutindo e pensando no assunto
com muita competência, dedicação e rigor”, remata.
Seriedade
é o que não falta para Natália, na opinião da orientadora
Lygia Eluf, cujo doutorado também envolveu uma pesquisa
sobre cor. Para ela, a dissertação desenvolvida por Natália
contribui para a construção do espaço da poética do conhecimento
desenvolvido por artistas na Universidade. “O espaço para
esta área é garantido de forma lenta, mas o conhecimento
é robusto”, afirma Lygia. De acordo com a orientadora, o
resultado pode não surgir imediatamente, mas a repercussão
do trabalho é constatada em eventos fora da Universidade.
“É muito comum ouvir que na Unicamp fazemos trabalho sério.
Isso é recompensador, nos deixa tranquilas”, acrescenta
Lygia.
A
trajetória de Natália é vista com bons olhos pela orientadora,
para quem Natália realizou uma “exposição de gente grande”.
“Isso poderia estar em qualquer lugar do mundo e se sustentaria
como uma mostra de um artista muito talentoso”, refere Lygia.
A professora ainda acrescenta que Natália ampliou o leque
de profissões: tornou-se uma pesquisadora e excelente professora,
mas conduzida pelas mãos da artista. “Isso é o melhor da
história”, remata Lygia.
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Publicação Dissertação: “Distância Íntima: a cor na construção de um projeto pictórico autobiográfico” Autoria: Natália Fernandes Brescancíni Orientação: Lygia Arcuri Eluf Unidade: Instituto de Artes (IA) ...................................................... |