Pedro Serápio/ Gazeta do Povo
Clientelismo é a base da corrupção, diz especialista
Roberto Romano, professor de Filosofia e Ética Política da Unicamp
Publicado em 06/12/2012 | Anderson Gonçalves
Casos
de tráfico de influência, como os revelados pela Operação Porto Seguro,
são resultado de uma cultura do clientelismo, que vigora no Brasil
desde suas origens. A avaliação é de Roberto Romano, professor de
Filosofia e Ética Política na Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp).
De que forma o poder público pode agir para combater o tráfico de influência?
Eu vejo que nós, como país, surgimos no seio do
absolutismo. Esse regime é aquele que consegue alicerçar o poder na base
do clientelismo, na troca de favores e de privilégios. Essa tradição
foi sendo vivida pela sociedade, que passou a considerá-la base de sua
existência. Hoje o provimento de cargos públicos é feito sem padrões
objetivos, como eficiência e idoneidade. É apenas retribuição de favores
políticos. Os funcionários comissionados nada mais são do que agentes
eleitorais pagos com dinheiro público. Todas as políticas públicas estão
concentradas no poder federal; tudo se decide a partir de Brasília.
Isso faz com que os municípios precisem de intermediários, que vão
cobrar pedágio por isso. Enquanto não houver autonomia para os
municípios, tudo que se fizer para combater a corrupção será paliativo.
O governo federal deve editar em breve um decreto que
estabelece a “ficha limpa” na administração pública. Essa pode ser uma
medida eficaz ou é um paliativo?
Quando falo em medidas paliativas, não quer dizer que elas não tenham
sua importância. A Lei da Ficha Limpa ajudou a criar uma consciência
cidadã. As campanhas educativas ajudam nisso também. Mas é necessário
modificar a estrutura federativa para que o governo não precise comprar o
Congresso.
Falta estabelecer mecanismos para instituir uma separação entre o público e o privado?
Sem dúvida, essa separação é essencialmente liberal e democrática. O
Brasil não é nenhum dos dois. É um gigante absolutista e imperial. Nós
não tivemos uma revolução democrática, todas as tentativas nesse sentido
foram reprimidas pelo poder central.