Grampos revelam elos de Protógenes com citados no esquema de Cachoeira
Escutas da PF na Operação Monte Carlo, que culminou na prisão do contraventor, flagram deputado do PC do B, delegado, em conversas com araponga acusado de cooptar policiais e agentes públicos da máfia dos caça-níqueis
10 de abril de 2012 | 23h 59
Rosa Costa, de O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - Autor do requerimento de criação de uma CPI
para investigar a ligação de políticos com Carlinhos Cachoeira, acusado
de comandar uma rede de jogos ilegais no País, o deputado Protógenes
Queiroz (PC do B-SP) foi flagrado em pelo menos seis conversas suspeitas
com um dos mais atuantes integrantes do esquema do bicheiro goiano:
Idalberto Matias Araújo, o Dadá. Os grampos da Operação Monte Carlo, da
Polícia Federal, revelam a proximidade do parlamentar com um possível
alvo da CPI que deverá ser instalada no Congresso Nacional.
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Protógenes passou orientações a faz-tudo de Cachoeira
Espécie de faz-tudo do esquema e conhecido araponga de dossiês
políticos, Dadá esteve a serviço de Protógenes na Operação Satiagraha e,
nas conversas, recebe orientações do ex-delegado sobre como agir para
embaraçar a investigação aberta pela corregedoria da PF sobre desvios no
comando da operação que culminou com a prisão do banqueiro Daniel
Dantas - a Satiagraha.
A ligação de Protógenes com Dadá permite questionamentos sobre sua
autoridade para integrar a CPI. Os diálogos revelam o empenho do
deputado, delegado licenciado da PF, em orientar Dadá na investigação
aberta contra ele próprio, no ano passado.
Numa das conversas, Protógenes lembra ao araponga para só falar em
juízo. "E aí, é aquela orientação, entendeu?, diz ele, antes do
depoimento de Dadá. As ligações foram feitas para o celular do deputado.
Fica evidente a preocupação de Protógenes em não ser visto ao lado de
Dadá. Eles sempre combinam encontros em locais distantes do hotel onde
mora o deputado, como postos de gasolina e aeroportos.
Procurado pelo Estado por três vezes em seu gabinete ontem, Protógenes não foi localizado e também não respondeu às ligações para seu celular.
Dadá foi identificado na Operação Monte Carlo - que o levou e ao
bicheiro Cachoeira à prisão, em fevereiro -, como o encarregado de
cooptar policiais e agentes públicos corruptos, de obter dados sigilosos
para a quadrilha e de identificar e coordenar a derrubada de operações
de grupos concorrentes. Ele está preso desde o mês passado, acusado de
formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e exploração de máquinas
caça-níqueis.
Em agosto do ano passado, Dadá tratou de seu depoimento no inquérito
da Satiagraha com o próprio Protógenes, com o advogado Genuino Lopes
Pereira e com o escrivão da Polícia Federal Alan, lotado na Coordenação
de Assuntos Internos da PF(Coain-Coger), uma subdivisão da
Corregedoria-Geral. O assunto é o mesmo: Dadá e Jairo Martins, outro
araponga ligado a Cachoeira e que esteve informalmente sob o comando de
Protógenes na Satiagraha, só deveriam se manifestar em juízo.Se integrar
a CPI contra Cachoeira, Protógenes investigará dois de seus
colaboradores, como indicam os grampos obtidos pelo Estado.
O advogado Genuino Pereira afirmou que não conhece Protógenes e negou
que seus clientes tenham combinado a versão que dariam em depoimento à
PF. Alega que eles se comportaram daquela forma por coincidência. Alan
não foi encontrado no local de trabalho.
Xerife. Com uma imagem de quem se tornaria o
"xerife" da Câmara, Protógenes foi eleito graças à carona que pegou nos
1,3 milhão de votos do palhaço Tiririca (PR-SP) para preencher o total
de votos exigidos pelo quociente eleitoral de São Paulo. A iniciativa de
criar uma CPI para investigar Cachoeira e seus colegas é, até agora, o
auge de sua promessa de campanha.
Nos áudios da Monte Carlo, Dadá trata o deputado por "professor" e
"presidente". Uma das interceptações mostra Protógenes sugerindo a Dadá
que o encontre num novo hotel. "Não tô mais naquele não", avisa, num
sinal de que os encontros são constantes. No grampo de 11 de agosto de
2011, acertam o local da conversa, mas se desencontram. "Tá onde?",
pergunta. Dadá responde: "Em frente da loja da Fiat", ao que o deputado
constata: "Ah, tá. Estou no posto de gasolina". "No primeiro?", indaga
Dadá. "Isso", confirma o deputado.