Só um comentário ao artigo, muito bom, de Whitaker: a questão não é de quem, mas de princípio. Se é permitido bisbilhotar as contas do Serra e do Jorge, é lícito também xeretar as contas de todos, desde Francenildo até a classe média. Depois da permissão para fuçar, vem a permissão para prender, e arrebentar. E a bisbilhotice tem alcance bem maior do que o plano fiscal. Bastaria ver o filme "A vida dos Outros". Quem, como nós do Brasil, passou por duas ditaduras para as quais TUDO era permitido, não pode conceder, pelo menos em princípio, que os governantes e seus militantãs (aloprados ou tiriricas) tenham o direito de meter o bedelho nas contas. Sim, claro, o vazamento ocorre já no modus operandi da Receita. Que outra coisa seria a "malha fina" que é intolerante com os professores (estes não têm MAIS, pois tinham, o direito de descontar no IR as suas despesas com livros, por exemplo) mas leniente com deputados, empresários e tutti quanti (mesmo nos partidos de ex-querda) que embolsam milhões e podem ter "livro caixa"? Tudo o que diz Whitaker é verdade e merece apoio. Menos se tudo significar que as agressões ao direito são desculpáveis, porque o Noço Guia é popular etc. Hitler, Stalin, Mussolini, Peron, Garrastazu Medici e demais, foram todos populares.
RR
RR
terça-feira, 7 de setembro de 2010
Farsa a la Brazil ...
QUEM TEM MEDO DA DEVASSA?
por João Whitaker
Vocês repararam como no discurso oficial em torno do “escândalo” da Receita Federal aparece reiteradamente o argumento da “vida devassada” – no caso, a vida da Verônica Serra?
A idéia é de que a quebra de sigilo representa uma violação escandalosa da vida privada de cada um, que vê suas contas escancaradas. Um risco para o Estado de Direito, que deve zelar pela privacidade dos seus cidadãos.
Formalmente, o argumento é corretíssimo, tudo que a Lúcia Hippolito queria para se indignar à vontade na CBN. Há de fato aí uma questão que deve ser averiguada, pois não é agradável saber que nossa administração pública não zela como deveria por nossos dados pessoais. Mas sinceramente eu nunca confiei plenamente que meus dados fornecidos para a tal Nota Fiscal Paulista, ou para fazer o Bilhete Único, ou mesmo para tirar os documentos do carro fossem assim tão religiosamente guardados. Aliás, o que não falta é documento de carro clonado surgindo por ai.
No âmbito da iniciativa privada, para não falar em cartões clonados com a “ajuda” de funcionários das instituições bancárias, não consigo mais usar minha conta UOL na internet de tanto Spams que recebo. No celular agora virou comum receber ligações de telemarketing. Pergunta: quem vazou meu mail e meu número para todos esses anunciantes?
Quando as próprias empresas alimentam uma cultura de vazamentos para todos os lados, e em um país em que o Estado ainda é uma máquina bastante corroída pela corrupção (e por isso vulnerável), não deveria parecer tão incomum um sujeito qualquer conseguir um atestado com um documento falso em um posto remoto da Receita Federal. É escandaloso, mas não é novidade. (Comentário meu: VIDE os escândalos dos sen-atores envolvidos com compra de bezerros de ouro...)
A grande imprensa – consternada – resolveu agora analisar o porquê do escândalo “não pegar”: para ela, a grande maioria da população sequer paga IR, e por isso acha essa história um tanto complexa. Até ai, tudo ok: o povão não paga IR, e ainda bem. Esses assuntos podem mesmo lhe parecer distantes.
Agora, o que me espanta é essa divisão que vem subjacente ao argumento, como se houvesse dois grupos: um dos que pagam IR e entendem o escândalo, e outro dos que não pagam e não entendem.
Ai está o ponto sobre o qual vale chamar a atenção: há ainda um terceiro grupo, para o qual a mídia não deu atenção, pois entre os que pagam o IR, há uma enorme maioria para quem a palavra “devassa” não significa muita coisa. Em outras palavras, para quem trabalha honestamente e ganha seu salário a duras penas, e ainda paga o IR no fim do ano, ou recebe restituição, a palavra “devassa” ou mesmo “quebra de sigilo” não tem nem de longe o significado terrível e de desmoronamento do Estado que a grande mídia quer dar. No máximo pode significar uma dor de cabeça igual a de saber que seu documento foi clonado. Nada agradável, porém também nada que me faça achar que o Estado brasileiro de repente está desmoronando.
Isso porque para essa maioria, não há o que ser devassado. Querem ver meu IR? Sem problemas: vai aparecer lá que dou aulas em duas faculdades, que faço uma ou outra palestra, e que pago uma fortuna de IR no fim do ano por ter duas fontes de pagamento. Algum problema em devassar-me? Nenhum, salvo eventualmente algum constrangimento menor, quanto à privacidade de saberem meus bens, mas nada de muito significativo.
Ou seja, o discurso da “vida devassada” que a grande mídia está usando é de um elitismo sem tamanho. E por isso não pega também nem na classe média que paga IR.
Quem tem tanto medo de ter a vida fiscal “devassada” é certamente quem tem muito, mas muito a esconder. Quem tem muito dinheiro, quem declara bens incompatíveis com o estilo de vida pública que leva, e assim por diante. Ou seja, a elite da elite. Só para eles ter a “vida devassada” pode ter esse aspecto tão aterrorizante.
Acho até que boa parte da classe média deve inclusive olhar com certa ironia e um pouco de curiosidade perversa a possibilidade de saber quais as eventuais falcatruas que os famosos podem ter feito, e que tanto os fazem temer em ter as contas devassadas. Incluindo-se aí a filha do Serra.
João Whitaker
Arquiteto e Urbanista
por João Whitaker
Vocês repararam como no discurso oficial em torno do “escândalo” da Receita Federal aparece reiteradamente o argumento da “vida devassada” – no caso, a vida da Verônica Serra?
A idéia é de que a quebra de sigilo representa uma violação escandalosa da vida privada de cada um, que vê suas contas escancaradas. Um risco para o Estado de Direito, que deve zelar pela privacidade dos seus cidadãos.
Formalmente, o argumento é corretíssimo, tudo que a Lúcia Hippolito queria para se indignar à vontade na CBN. Há de fato aí uma questão que deve ser averiguada, pois não é agradável saber que nossa administração pública não zela como deveria por nossos dados pessoais. Mas sinceramente eu nunca confiei plenamente que meus dados fornecidos para a tal Nota Fiscal Paulista, ou para fazer o Bilhete Único, ou mesmo para tirar os documentos do carro fossem assim tão religiosamente guardados. Aliás, o que não falta é documento de carro clonado surgindo por ai.
No âmbito da iniciativa privada, para não falar em cartões clonados com a “ajuda” de funcionários das instituições bancárias, não consigo mais usar minha conta UOL na internet de tanto Spams que recebo. No celular agora virou comum receber ligações de telemarketing. Pergunta: quem vazou meu mail e meu número para todos esses anunciantes?
Quando as próprias empresas alimentam uma cultura de vazamentos para todos os lados, e em um país em que o Estado ainda é uma máquina bastante corroída pela corrupção (e por isso vulnerável), não deveria parecer tão incomum um sujeito qualquer conseguir um atestado com um documento falso em um posto remoto da Receita Federal. É escandaloso, mas não é novidade. (Comentário meu: VIDE os escândalos dos sen-atores envolvidos com compra de bezerros de ouro...)
A grande imprensa – consternada – resolveu agora analisar o porquê do escândalo “não pegar”: para ela, a grande maioria da população sequer paga IR, e por isso acha essa história um tanto complexa. Até ai, tudo ok: o povão não paga IR, e ainda bem. Esses assuntos podem mesmo lhe parecer distantes.
Agora, o que me espanta é essa divisão que vem subjacente ao argumento, como se houvesse dois grupos: um dos que pagam IR e entendem o escândalo, e outro dos que não pagam e não entendem.
Ai está o ponto sobre o qual vale chamar a atenção: há ainda um terceiro grupo, para o qual a mídia não deu atenção, pois entre os que pagam o IR, há uma enorme maioria para quem a palavra “devassa” não significa muita coisa. Em outras palavras, para quem trabalha honestamente e ganha seu salário a duras penas, e ainda paga o IR no fim do ano, ou recebe restituição, a palavra “devassa” ou mesmo “quebra de sigilo” não tem nem de longe o significado terrível e de desmoronamento do Estado que a grande mídia quer dar. No máximo pode significar uma dor de cabeça igual a de saber que seu documento foi clonado. Nada agradável, porém também nada que me faça achar que o Estado brasileiro de repente está desmoronando.
Isso porque para essa maioria, não há o que ser devassado. Querem ver meu IR? Sem problemas: vai aparecer lá que dou aulas em duas faculdades, que faço uma ou outra palestra, e que pago uma fortuna de IR no fim do ano por ter duas fontes de pagamento. Algum problema em devassar-me? Nenhum, salvo eventualmente algum constrangimento menor, quanto à privacidade de saberem meus bens, mas nada de muito significativo.
Ou seja, o discurso da “vida devassada” que a grande mídia está usando é de um elitismo sem tamanho. E por isso não pega também nem na classe média que paga IR.
Quem tem tanto medo de ter a vida fiscal “devassada” é certamente quem tem muito, mas muito a esconder. Quem tem muito dinheiro, quem declara bens incompatíveis com o estilo de vida pública que leva, e assim por diante. Ou seja, a elite da elite. Só para eles ter a “vida devassada” pode ter esse aspecto tão aterrorizante.
Acho até que boa parte da classe média deve inclusive olhar com certa ironia e um pouco de curiosidade perversa a possibilidade de saber quais as eventuais falcatruas que os famosos podem ter feito, e que tanto os fazem temer em ter as contas devassadas. Incluindo-se aí a filha do Serra.
João Whitaker
Arquiteto e Urbanista
*********************************************
COMENTÁRIO: o que irrita na "devassa" é que a mídia polariza: os atuais devassados e os devassadores (aviso: não votarei no PT nem no PSDB). Não me interessa e creio que não está interessando aos eleitores quem devassou ou quem foi devassado. Por que? Porque o tucano devassado está ligado ao juiz Lalau. Tem direito ao sigilo? Claro. Tem, sim. Mas aos olhos dos eleitores tudo está podre. E aquela dura frase: podre por podre eles que se danem. Estamos em uma fase política que sabemos com quem lidamos. Na mídia temos a voz única. Uma jornalista que não consigo ouvir mais é Lucia Hipollito. Ela grita, espuma. É uma indignação exagerada. Deixei de ouvir a Lucia faz tempo. Ouvia-a mesmo sabendo que trabalhou muito para a privatização das telecomunicações na época do FHC. Cansei. Penso que estamos naquela cena; a gente fica ouvindo as notícias da devassa, sempre pensando: quem está com medo de quem e não quem luta pela dignidade dos brasileiros. Uma boa FARSA. Ainda estou esperando o DEBATE DO PROGRAMA DOS TUCANOS. Gostaria de conhecer o programa dos tucanos. Irão continuar as privatizações? Farão como FHC e seu ministro da Educação em 2000 (quase privatizaram as univertsidades federais)?
*****
No Brasil, direira, centro e esquerda sempre fuçam nos documentos sigilosos. Nas prefeituras, nas universidades, nas .... é uma terrível estratégia de liquidar opositores.