Magistrados apontam mensalão como pano de fundo da crise do Judiciário
Reunidos em Teresina, presidentes de tribunais discutem desgaste do Poder e afirmam que objetivo é 'emparedar' STF no ano do julgamento do mensalão
27 de janeiro de 2012 | 22h 40
Fausto Macedo / ENVIADO ESPECIAL - TERESINA (PI)
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Com os nervos à flor da pele, resultado da crise de credibilidade após revelações de movimentações financeiras atípicas de magistrados, a elite da toga, reunida em Teresina, apontou ontem interesses de “emparedar” o Supremo Tribunal Federal exatamente no ano em que será julgado o maior escândalo da Era Lula.
O mensalão pode ser o pano de fundo da turbulência que atravessa a magistratura, desconfiam líderes da classe, doutos desembargadores e desembargadoras que presidem os 27 Tribunais de Justiça do País e que estão reunidos desde quinta-feira para debater o “aprimoramento das atividades” do Poder que julga.
Sem citar explicitamente os nomes dos inimigos – por cautela,
até que se prove o contrário, como manda o rito processual, adotam o
silêncio quando instados a identificar quem os aflige –, magistrados
acreditam que “alguns réus” do processo criminal que desafia o STF ou
pessoas ligadas a eles estão à sombra de uma trama bem urdida para
desestabilizar o Judiciário. Entre os 38 réus do mensalão, pontuam os
magistrados, vários ainda têm força política aqui e ali.
“O Supremo está emparedado por pessoas que querem abalar os
alicerces do Judiciário”,brada Henrique Nélson Calandra, presidente da
Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), a mais poderosa e
influente entidade da toga, com 15 mil magistrados a ela agregados.
“Que processo o Supremo vai julgar proximamente? O mais
importante de todos os processos”, diz Calandra. “Alguns réus podem
estar por trás disso (dos ataques à toga). Que tem, tem. Eu não estou
falando do Zé Dirceu (ex-ministro chefe da Casa Civil de Lula), ele foi
meu colega da faculdade. Mas é estranhíssimo que no dia em que o
ministro Joaquim Barbosa (relator do mensalão) passa o processo para
Lewandowski aí vem essa onda toda, que ele (ministro Ricardo
Lewandowski) levantou (pagamentos acumulados do TJ-SP). Acho que tem
alguma coisa esquisita nisso tudo”, sentencia Calandra.
O desembargador Marcus Faver, dirigente máximo do Colégio de
Presidentes dos TJs, também faz suas conjecturas. “O Judiciário
brasileiro está sofrendo um abalo nas suas estruturas. A quem interessa
abalar as estruturas de um Poder constituído e que defende os princípios
democráticos de um País?”, indaga Faver, que foi presidente do Tribunal
de Justiça do Rio e integrou a primeira composição do CNJ.