Enviado por Ricardo Noblat -
28.1.2012
| 15h05m
Política
A 'solução final' do Pinheirinho
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Antes
que os desabamentos no Rio de Janeiro joguem uma cortina de fumaça na
cena mais degradante que vi nos últimos tempos no Brasil – o despejo
forçado de milhares de trabalhadores no Pinheirinho, em São Paulo, no
dia sagrado de descanso das famílias –, vou falar de desumanidade,
egoísmo, cinismo. É pouco? Então vou falar também da violação de nossa
Constituição. Que garante o direito à moradia adequada.
O que
menos interessa é o jogo de empurra que se seguiu. O Legislativo empurra
para o Judiciário e o Executivo, e vice-versa. Um partido empurra para o
partido adversário. E vice-versa.
Enquanto a terra rural e urbana
for colocada no Brasil como briga entre direita e esquerda, enquanto o
deficit de 5,5 milhões de casas populares for jogado na conta do PSDB ou
do PT, quem perderá serão os já destituídos. E a sexta economia do
mundo continuará a exportar cenas subdesenvolvidas. Políticos
intransigentes e sem visão existem no mundo todo. Mas o que se viu no
dia 22 de janeiro de 2012 é proibido em países civilizados.
Dois
mil policiais, com dois helicópteros, 220 viaturas, 40 cães e 100
cavalos, chegaram ao Pinheirinho quando a comunidade mal acordara, às 6
horas da manhã do domingo. Na casa do eletricista João Carlos Garrido,
de 58 anos, “eles entraram falando ‘levanta, vagabundo’ e com um porrete
de borracha bateram na minha perna enquanto eu estava dormindo, não me
deixaram pegar nada, nem a féria da semana no meu bar”.
Eu me
pergunto como as autoridades, pela falta de um cadáver, podem comemorar e
“investigar se houve excessos”. A imprensa não foi autorizada a
acompanhar a ação, o que é mais um direito violado. Os vídeos em tempo
real não foram feitos por jornalistas.
Eram 1.600 famílias, 5 mil
moradores numa comunidade com rua, igreja, boteco, praça, quitanda, casa
de alvenaria, geladeira, fogão, televisão. E que foram tratados como
delinquentes, afugentados por gás lacrimogêneo, cassetetes e balas de
borracha.
Não sei se eu fugiria ou reagiria. Provavelmente, com
filhos, fugiria. Não se brinca com a truculenta PM do Estado de São
Paulo.