sábado, 21 de janeiro de 2012

Sem comentários.

  Índice geral São Paulo, sábado, 21 de janeiro de 2012Mundo
Mundo


Wilman Villar, 31, protestava havia 50 dias contra sua prisão durante protesto em defesa dos direitos humanos na ilha
Oposição denuncia a prisão de ativistas que iriam ao funeral; EUA instam Cuba a dar 'pleno acesso' a presos políticos
 
   DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
Morre opositor cubano após greve de fome

A morte de mais um dissidente cubano que protestava com greve de fome contra violações de direitos humanos volta novamente as atenções à postura do regime de Raúl Castro sobre o tema.
Wilman Villar, 31, não resistiu a um quadro de infecção generalizada e pneumonia, após 50 dias sem comer na prisão, e morreu anteontem à noite, em um hospital da cidade de Santiago de Cuba.
O episódio reaviva o caso de Orlando Zapata Tamayo, dissidente que morreu em fevereiro de 2010, depois de 85 dias de greve de fome.
Tamayo, que estava detido desde 2003, era considerado "preso de consciência" pela Anistia Internacional -reconhecimento que Villar estava prestes a obter, segundo a organização não governamental- e protestava contra as condições carcerárias.
Ele morreu um dia antes de o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegar a Cuba para visita oficial, e apenas "lamentar" o incidente.
Preso em 14 de novembro, quando participava de um protesto em apoio às Damas de Branco -grupo formado por mulheres de presos políticos-, Villar foi condenado a quatro anos de prisão.
Detido na prisão de Aguadores, logo iniciou uma greve de fome para protestar contra sua sentença.
SAÚDE DETERIORADA
Familiares e opositores disseram que sua saúde foi se deteriorando progressivamente, e no último dia 14, ele precisou ser levado ao Hospital Geral Juan Bruno Zayas, de onde não saiu mais.
A oposição cubana denunciou a prisão de ativistas que tentaram assistir ao funeral de Villar, cujo corpo estava sendo velado ontem no povoado de Contramaestre, a cerca de 900km de Havana.
O governo dos Estados Unidos logo se pronunciou sobre o episódio. "A morte sem sentido de Villar ressalta a repressão permanente do povo cubano e os infortúnios que encaram os indivíduos valentes que defendem os direitos universais de todos os cubanos", disse o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, em comunicado.
O Departamento de Estado, por sua vez, instou o regime de Castro a permitir ao relator especial da ONU e ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha o "pleno acesso" às prisões e aos presos políticos.
A Espanha, por sua vez, pediu "a libertação de todos os presos políticos e a garantia dos direitos humanos e das liberdades fundamentais".
Cuba libertou recentemente, após um acordo com a Igreja Católica, um grupo 75 presos políticos condenados em 2003 por conspiração. Muitos foram acolhidos na Espanha.
Para a organização Human Rights Watch, a morte de Villar mostra como o regime "castiga" os dissidentes.
"Prisões arbitrárias, julgamentos viciados, encarceramentos desumanos e assédio a familiares são as técnicas usadas para silenciar os críticos", disse José Miguel Vivanco, diretor para as Américas da organização, que pediu o fim das ameaças a Maritza Pelegrino Cabrales, viúva de Villar, e às Damas de Branco, grupo do qual faz parte. 

  Índice geral São Paulo, sábado, 21 de janeiro de 2012Mundo
Mundo

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Morte desafia meta de Dilma de discrição sobre tema
CLAUDIA ANTUNES
DO RIO
A morte do dissidente cubano Wilman Willar poderá trazer à viagem da presidente Dilma Rousseff a Cuba, no dia 31, constrangimento semelhante ao vivido pelo ex-presidente Lula, que foi surpreendido em fevereiro de 2010, em Havana, pela morte de Orlando Zapata, que também fazia greve de fome.
Na época, Lula fez uma declaração terrível, condenando esse tipo de protesto -que ele próprio usou quando sindicalista sob a ditadura- e comparando os presos políticos cubanos a prisioneiros comuns no Brasil.
É difícil imaginar que Dilma, menos dada a arroubos verbais, incorra em frase parecida. Seu estilo de diplomacia presidencial é mais discreto e focado em questões práticas. Na preparação da visita a Cuba, tem sido dada ênfase ao aspecto econômico da relação bilateral.
DIREITOS HUMANOS
No entanto, a posição do governo em relação ao tratamento de questões de direitos humanos em outros países não mudou em sua essência sob Dilma.
No início da semana, o Ministério das Relações Exteriores informou que a presidente não pretendia falar desse tema publicamente em sua visita a Havana.
Ontem, fontes do governo disseram que a morte de Willar a princípio não muda essa orientação.
Segundo o Itamaraty, a posição brasileira é de "não singularizar um caso ou outro" de violação de direitos.
O tema é tratado em conversas privadas com autoridades estrangeiras ou, preferencialmente, nos fóruns específicos, como o Conselho de Direitos Humanos da ONU, onde Cuba já passou por uma revisão periódica (obrigatória para todos os países).
Foi no Conselho que a diplomacia brasileira votou em 2011 a favor da nomeação de um relator especial para o Irã, posição diferente da adotada sob Lula.
No entanto, quando uma moção de condenação a Teerã foi votada na Terceira Comissão da Assembleia Geral da ONU, que a diplomacia vê como fórum menos legítimo para repreender países por violações humanitárias, o Brasil voltou a se abster, como ocorria antes.
O Planalto argumenta que é preciso evitar a seletividade, isto é, se for para se pronunciar em Havana sobre a falta de liberdade política, seria necessário falar em Washington, que Dilma visita em março, sobre a prisão de Guantánamo, não muito longe da capital cubana.
O porém desse raciocínio é que a palavra brasileira tem mais peso em Cuba do que nos EUA, e é ela que buscarão todos os interessados, com as melhores ou piores intenções, na situação da ilha.