quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Trecho de uma longa análise sobre o período FHC, onde o autor ressalta meu papel crítico diante dos tucanos. Hoje, alguns canalhas do PT, que assumiram os mesmos vícios dos primos tucanos, uma vez instalados no "puder", me chamam de "tucano", com má fé idêntica e mesma falta de caráter. Continuo o mesmo: analiso primeiro, elogio ou critico depois. Já os boca mole do petismo e adjacências (PSTU. PSOL. que fingem ser adversários dos petistas apenas para atacar os que não dobram as espinhas de modo mais certeiro) preferem lamber as botas e xingar, antes de refletir. Brasil...


Euclides André Mance
Globalização, Subjetividade e Totalitarismo
- Elementos para um estudo de caso: O Governo Fernando Henrique Cardoso
Copyright do Autor © 1998



O abuso das Medidas Provisórias, que destacaremos à parte, e o atrelamento da parcela maior do Congresso Nacional que aceita ter o país governado desse modo, bem como o amplo domínio de difusão das informações que lhe interessam na grande imprensa, e por fim, o autoritarismo das decisões - uma vez que uma medida provisória reeditada por um único homem torna-se norma vigente para todo o país por um prazo de tempo indefinido - colocam em risco a estrutura institucional da estado brasileiro.

Nessa linha de raciocínio, em que os que estão no executivo federal consideram toda oposição como "burra" e "retrógrada", convencendo a sociedade de que a oposição "não tem proposta", alguns membros do governo imaginam que uma autêntica democracia possa funcionar sem respeito à divergência: "Nós estamos no poder, acabou a necessidade da crítica." - hipotética frase que representa este espírito democrático, denunciado por Roberto Romano, filósofo e professor de filosofia política da Unicamp (549) em seu artigo " ‘Denuncismo’ ou defesa dos cidadãos?". 

Romano analisa neste artigo jornalístico um "simulacro discursivo" praticado por membros da hierarquia do Palácio do Planalto, no caso, José Álvaro Moisés quando este afirmava que a denúncia pela imprensa de irregularidades administrativas que ocorrem no governo em nível federal, conduz a um golpe de Estado no país. J.A. Moisés chega ao absurdo de afirmar que "Ser contra o governo é trair o Brasil". O discurso coercitivo de Moisés passa então, a chantagear a imprensa e a cidadania: "Se não curvarem a cerviz, haverá um golpe." Comenta Roberto Romano que foi, do mesmo modo, que "...os burocratas do antigo comunismo exigiram total adesão ao pacto entre a Alemanha nazista e a URSS, em 1939". Assim, " a ‘santa aliança’ matou milhões para garantir os ditadores e os intelectuais que a serviram." É preciso, pois, destacar que "Cérebros formados no autoritarismo, de esquerda ou direita, sempre odeiam o pensamento autônomo." (550). Em outra passagem afirma o professor: "É meridiano o raciocínio dos censores que um dia foram intelectuais: a universidade crítica e a imprensa livre só devem existir enquanto os iluminados, que engoliram o absoluto divino, não chegaram ao poder. Presos às sinecuras (convescotes em Paris etc) e tendo as orelhas lambidas pela adulação, senhores e simulacros julgam urgente, como disse a primeira-dama, ‘educar os jornalistas’, que odeiam, votando horror idêntico aos seus antigos pares acadêmicos que resistem na sociedade civil. É cinismo apontar a imprensa como causadora de golpes quando se trabalha para um governo que pratica o ‘é dando que se recebe’ com parlamentares e depois os aponta como fonte de ingovernabilidade." (551)
 
Sofrendo esta mesma ação discursiva coercitiva, o judiciário fica bastante susceptível. Algumas vezes, entretanto, membros do Governo pretenderam desqualificar também o judiciário, caso tomassem decisões contrárias aos interesses do governo federal. Considerando este procedimento, argumenta Milton Temer, que se trata "da busca de um ‘autoritarismo consentido’, no qual um déspota supostamente esclarecido daria as cartas... Cabe aos democratas resistir às tentativas do governo de desqualificar seus críticos para fugir à discussão das críticas." (552)

549. Roberto ROMANO. " ’Denuncismo’ ou defesa dos cidadãos?". Folha de São Paulo, 20-06-96, p. 1-3