terça-feira, 31 de janeiro de 2012
Be quiet!
Konstantin
Simonov (1915-1979) é a figura central e talvez (dependente do ponto de
vista do leitor) o herói trágico de Sussurros. Nascido de uma família
nobre que sofreu repressao do regime soviético, Simonov refez-se como
"escritor proletário" na década de 1930. Apesar de praticamente
esquecido hoje em dia, Simonov foi uma figura importante no
establishment literário soviético - tendo recebido seis prêmios Stalin,
um prêmio Lenin e um prêmio de Herói do Trabalho Socialista. [...]
Simonov tornou-se uma figura importante na União dos Escritores entre
19545 e 1953, período em que os líderes da literatura soviética foram
convocados pelos ideógos de Stalin para participar da perseguição aos
colegas que fossem considerados excessivamente liberaiss e para
se juntar ao coro da campanha contra os judeus nas artes e nas
ci6encias. Uma das vítimas desse antissemitismo oficial foi a família
Laskin, mas àquela altura já estava envolvido demais com o regime
stalinista para ajudá-la. De todo o modo, talvez não houvesse nada que
pudesse fazer.
Excerto do excelente livro que leio SUSSURROS. a vida privada na Rúsia de Stalin, de Orlando Figes. Editora Record.
"...uma fascinante enciclopédia das relações humanas' (Andrei Kurkov) cf blog de Rui Bebiano
Degenerescência européia...
Desbragada humilhação
Qualquer que venha a ser o resultado
da proposta da transformação da Grécia em protectorado, feita
(obviamente…) pela Alemanha, toda a indignação possível nunca é
demasiada, nem sequer suficiente. Chegou-se, como muitos já escreveram,
ao «fim da linha». E onde está «Grécia», leia-se amanhã «Portugal».
Um dia, talvez a Europa acorde
gerida por um funcionário de um outro continente. Se não estivéssemos a
falar de coisas muito sérias e desgraçadas, apetecia dizer: «Bem
feito!».
A reter, dois textos de hoje:
Ana Sá Lopes, Acordar os monstros desbragadamente
«A história da decadência da União Europeia entrou num novo estádio e a mais desbragada humilhação está em curso. (…)
A
soberania já tinha sido hipotecada a troco do empréstimo externo. Agora
a Alemanha espera que lhe seja oferecida de boa-vontade – como se
houvesse uma espécie de quinta coluna em todos os países europeus
prontos a facilitar a ocupação alemã sem resistência. (…)
O
que é espantoso é a naturalidade com que a Alemanha – a quem a Europa
perdoou a dívida da Segunda Guerra – acorda agora todos os monstros
possíveis sem tremer. (…)
A degenerescência europeia atingiu o seu ponto de não retorno.»
Manuel António Pina, Passa para cá a soberania
«Os
olhos cobiçosos da sra. Merkel não são substancialmente distintos,
senão nos processos, dos que uma outra Alemanha deitou há décadas à
soberania dos países vizinhos, Grécia incluída. Taxas de juro usurárias e
batalhões de burocratas com "certos poderes de decisão" que reforcem "o
controlo dos programas e das medidas 'in loco'" são coisa mais discreta
mas não menos arrasadora do que "panzers" e exércitos de ocupação. O
seu efeito prático é, porém, o mesmo: a sujeição de um país e de um
povo.»