Protógenes diz desconhecer diálogo com integrante do grupo de Cachoeira
Gravações da PF feitas na Operação Monte Carlo, que levou à prisão do contraventor, trazem conversas entre o deputado do PC do B-SP e faz-tudo do esquema de jogos ilegais; parlamentar nega vínculo
11 de abril de 2012 | 8h 10
do estadão.com.br
O deputado Protógenes Queiroz (PC do B-SP) afirmou
desconhecer a existência dos diálogos gravados pela Polícia Federal na
Operação Monte Carlo, revelados pelo Estado, que indicariam a ligação entre o parlamentar com Idalberto Matias Araújo, o Dadá,
um dos mais atuantes integrantes do esquema do bicheiro goiano
Carlinhos Cachoeira. "Não reconheço [que seja eu falando]", disse
Protógenes em entrevista à rádio Estadão ESPN, na manhã desta quarta-feira, 11.
Veja também:
Áudio 1: Protógenes dá orientações sobre o depoimento de Dadá
Áudio 2: Deputado marca encontro com Dadá em aeroporto
Áudio 3: Dadá marca encontro com Protógenes em hotel
Caso Cachoeira terá CPI mista
ESPECIAL: Entenda o caso
Segundo as investigações da PF, o parlamentar apareceria em ao menos
seis conversas suspeitas com o Dadá, que esteve a serviço de Protógenes
na Operação Satiagraha e, nas conversas, recebe orientações do
ex-delegado sobre como agir para embaraçar a investigação aberta pela
corregedoria da PF sobre desvios no comando da operação que culminou com
a prisão do banqueiro Daniel Dantas - a Satiagraha. "Desconheço essa
conversa. Se realmente existiu, não há no diálogo nenhuma ligação com o
sistema Cachoeira", afirmou o deputado após ouvir a um dos trechos aos
quais o Estado teve acesso.
As ligações foram feitas para o celular do deputado, no ano passado.
Numa das conversas, Protógenes lembra ao araponga para só falar em
juízo. "E aí, é aquela orientação, entendeu?, diz ele, antes do
depoimento de Dadá. O araponga foi identificado na Operação Monte Carlo -
que o levou e ao bicheiro Cachoeira à prisão, em fevereiro -, como o
encarregado de cooptar policiais e agentes públicos corruptos, de obter
dados sigilosos para a quadrilha e de identificar e coordenar a
derrubada de operações de grupos concorrentes. Ele está preso desde o
mês passado, acusado de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e
exploração de máquinas caça-níqueis.
"Realmente não tenho lembrança nenhuma [desses diálogos]. Quero saber
de algum diálogo existente com o sistema Cachoeira. Na manchete [do
jornal] dá entender que tenho alguma vinculação. Foi até bom essa
entrevista para poder esclarecer a população de tamanha
irresponsabilidade", disse Protógenes. O deputado confirmou conhecer
Dadá e já ter tratado de assuntos profissionais com ele. Disse, no
entanto, não saber de suas ligações com Cachoeira e que ficou surpreso
quando soube da prisão.
"Se eu tivesse envolvimento, esse trabalho [da PF] iria revelar. E
não seria o autor do requerimento de CPI depois dos pedidos de prisão",
afirmou. Para ele, o teor das gravações não o proíbe de integrar a
comissão. Nessa terça-feira, 10, Câmara e Senado optaram por uma CPI
mista, que deve começar a trabalhar na próxima semana. Pelas regras da
Câmara, Protógenes poderia ser o relator do processo. "Com certeza [me
sentiria à vontade para ser relator]. Não tinha relação de amizade
constante, intensa [com Dadá]", afirmou.