Sábado, 4 de Agosto de 2012
Mensalão deve ser pouco usado na campanha, diz especialista
Apesar da magnitude e
importância do julgamento do mensalão, que se inciou na última
quinta-feira, o tema deve ser pouco usado na campanha, na opinião do
professor de Ética e cientista político da Unicamp, Roberto Romano.
capitais Para
Roberto Romano, a tendência é de que, apesar da magnitude do caso, o
mensalão não seja usado como arma de partidos de maior expressão.
"Os
outros (partidos) também têm envolvimento em grandes casos semelhantes a
esse. O DEM tem o mensalão em Goiás, o PSDB em Minas Gerais e outros
partidos estão ligados ao esquema de certa forma. Por isso, seria uma
péssima estratégia seguir essa linha na campanha", disse Romano ao Terra.
Além
disso, segundo o cientista político, apesar da relação com os partidos,
apenas um dos 38 réus que estão sendo julgados pelo Supremo Tribunal
Federal (STF) - João Paulo Cunha, que segundo o Ministério Público (MP)
recebeu propina de R$ 50 milhões no esquema e tenta se eleger agora
prefeito de Osasco - disputará a eleição. Com isso, segundo Romano,
mesmo que pertença a um partido envolvido com escândalos dessa
magnitude, oscandidatos não devem sofrer impactos negativos, já que suas
imagens não estão diretamente ligadas ao fato.
A repercussão
negativa do julgamento do caso recairá sobre todos os partidos, e não
apenas sobre o PT, na opinião do professor, que acredita que a população
se atentará a classe política no geral e não somente a nomes e
legendas.
CobrançaNa série de debates realizados na última
quinta-feira, o tema foi citado em São Paulo e Porto Alegre, onde
Fernando Haddad e Adão Villaverde sofreram com os questionamentos vindos
de seus adversários, e procuraram minimizar a importância do caso, que
começou a ser julgado justamente no dia do debate.
Em São Paulo,
Carlos Giannazi (Psol) indagou Haddad primeiro sobre sua relação com o
PP, do deputado federal Paulo Maluf, e posteriormente sobre o mensalão.
Ao questionar sobre como o petista trabalharia "a contradição na aliança
com Paulo Maluf", Giannazi atacou dizendo que "parece que vocês (PT)
não aprenderam com a história do mensalão."
Haddad tentou
minimizar a importância do caso, e afirmou que o governo do PT lutou
contra a corrupção na capital paulista, na gestão de Marta Suplicy
(2001-2004). Para isso, o petista afirmou que a ex-prefeita combateu
forças empresariais e grandes esquemas de corrupção e que, por isso,
teve até mesmo de usar colete à prova de balas para manter sua
segurança.
Em Porto Alegre, coube também ao candidato do Psol,
Roberto Robaina, a função de trazer à tona o tema e indagar o candidato
petista Adão Villaverde. "Tu (Villaverde) representa a ala do José
Dirceu (...) infelizmente o PT não aprendeu nada dessa lição
(mensalão)", atacou Robaina.
Em discurso semelhante ao de Haddad,
Villaverde também tentou minimizar os questionamentos e a importância do
caso, e exaltou a legislação enquanto o PT estava na prefeitura de
Porto Alegre, que, segundo ele, aumentou o combate à corrupção.
No
final do debate, em entrevista, Robaina afirmou ainda que "Villaverde é
o representante da ala do Zé Dirceu, o comandante do esquema do
mensalão. A força que ele (Dirceu) tem no PT é tão evidente que, em
Porto Alegre, garantiu a candidatura do Villaverde, derrotando nas
prévias o ex-prefeito Raul Pont (deputado estadual)."
Crítico
Segundo
Romano, ao apresentar sua crítica e cobrar a moralidade na política,
como fizeram Giannazi e Robaina nos debates, o Psol cumpre seu papel
como uma "legenda nova e de esquerda", função antes atribuída ao PT,
que, após assumir a presidência com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva em 2003, se viu também envolto em esquemas de corrupção.
"Por
enquanto o Psol cumpre esse papel importante e que lhe cabe. Enquanto
não tem seu próprio mensalão, o partido é mais pedra do que vidraça",
afirmou.
O mensalão do PT
Em 2007, o STF aceitou
denúncia contra os 40 suspeitos de envolvimento no suposto esquema
denunciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) e
que ficou conhecido como mensalão. Segundo ele, parlamentares da base
aliada recebiam pagamentos periódicos para votar de acordo com os
interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Após o escândalo, o
deputado federal José Dirceu deixou o cargo de chefe da Casa Civil e
retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos colegas e perdeu o direito
de concorrer a cargos públicos até 2015.
No relatório da
denúncia, a Procuradoria-Geral da República apontou como operadores do
núcleo central do esquema José Dirceu, o ex-deputado e ex-presidente do
PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, e o ex-
secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram denunciados por formação de
quadrilha. Dirceu, Genoino e Delúbio respondem ainda por corrupção
ativa.
Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo com a
Procuradoria-Geral da República para não ser mais processado no
inquérito sobre o caso. Com isso, ele teria que fazer 750 horas de
serviço comunitário em até três anos e deixou de ser um dos 40 réus.
José Janene, ex-deputado do PP, morreu em 2010 e também deixou de
figurar na denúncia.
O relator apontou também que o núcleo
publicitário-financeiro do suposto esquema era composto pelo empresário
Marcos Valério e seus sócios (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério
Tolentino), além das funcionárias da agência SMP&B Simone
Vasconcelos e Geiza Dias. Eles respondem por pelo menos três crimes:
formação de quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
A
então presidente do Banco Rural Kátia Rabello e os diretores José
Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram denunciados
por formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. O
publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, respondem a
ações penais por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O ex-ministro
da Secretaria de Comunicação (Secom) Luiz Gushiken é processado por
peculato. O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique
Pizzolato foi denunciado por peculato, corrupção passiva e lavagem de
dinheiro.
O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP)
responde a processo por peculato, corrupção passiva e lavagem de
dinheiro. A denúncia inclui ainda parlamentares do PP, PR (ex-PL), PTB
e PMDB. Entre eles o próprio delator, Roberto Jefferson.
Em julho
de 2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações finais do
processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus restantes. Ficaram
de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e do irmão do
ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas, Antônio Lamas,
ambos por falta de provas.