Notícias
‘O mundo já ingressou na segunda fase da crise’ diz o economista francês Gérard Duménil
Jornal da Unicamp - Você vem pesquisando o capitalismo neoliberal há muito tempo. Na sua análise, como se deve caracterizar essa etapa atual do capitalismo?
Gérard Duménil -
O neoliberalismo é a nova etapa na qual ingressou o
capitalismo com a transição dos anos 70 e 80. Eu e
Dominique Lévy falamos de uma nova "ordem social". Com
essa expressão nós designamos a configuração de poderes relativos
de classes sociais, dominações e compromissos. O
neoliberalismo se caracteriza, desse modo, pelo
reforço do poder das classes capitalistas em
aliança com a classe dos gerentes (classe des cadres) - sobretudo as cúpulas das hierarquias e dos setores financeiros.
No decorrer dos decênios
posteriores à Segunda Guerra Mundial, as classes
capitalistas viram o seu poder e suas rendas diminuírem
sensivelmente na maior parte dos países. Simplificando, nós
poderíamos falar numa ordem "social-democrata". As
circunstâncias criadas pela crise de 1929, a
Segunda Guerra Mundial e a força internacional do
movimento operário tinham conduzido ao estabelecimento
dessa ordem social relativamente favorável ao desenvolvimento
econômico e à melhoria das condições de vida das classes
populares - operários e empregados subalternos. O
termo "social-democrata" para caracterizar essa
ordem social se aplicava, evidentemente, melhor à Europa que aos Estados Unidos.
Com o estabelecimento da nova
ordem social neoliberal, o funcionamento do
capitalismo foi radicalmente transformado: uma nova disciplina
foi imposta aos trabalhadores, em matéria de condições de
trabalho, poder de compra, proteção social etc., além
da desregulamentação (notadamente financeira),
abertura das fronteiras comerciais e a livre
mobilidade dos capitais no plano internacional -
liberdade de investir no exterior.
Esses dois últimos aspectos colocaram todos os
trabalhadores do mundo numa situação de
concorrência, quaisquer que sejam os níveis de salário comparativos
nos diferentes países.
No plano das relações
internacionais, os primeiros decênios do
pós-guerra, ainda na antiga ordem "social democrata", foram
marcados por práticas imperialistas dos países dos países
centrais: no plano econômico, pressão sobre os preços
das matérias-primas e exportação de capitais; no
plano político, corrupção, subversão e guerra. Com a
chegada do neoliberalismo, as formas imperialistas
foram renovadas. É difícil julgar em termos de
intensidade, fazer comparação. Em termos econômicos,
a explosão dos investimentos diretos no estrangeiro na década
de 1990 certamente multiplicou o fluxo de lucros extraído
dos países periféricos pelas classes capitalistas do
centro. O fato de os países da periferia desejarem
receber esses investimentos não muda nada a
natureza imperialista dessas práticas - sabe-se que
todos os trabalhadores "desejam" ser explorados a ficar
desempregados.
Quando em meados dos anos 90,
nós introduzimos essa interpretação do
neoliberalismo em termos de classe, ela suscitou pouco
interesse. Mas a explosão das desigualdades sociais deu a
essa interpretação a força da evidência. A particularidade
da análise marxista é a referência às classes mais
que a grupos sociais. Esse caráter de classe está
inscrito em todas as práticas neoliberais e
inclusive os keynesianos de esquerda se exprimem,
agora, nesses termos. Uma recusa a essa interpretação,
no entanto, ainda se mantém; muitos não aceitam o papel importante
que atribuímos aos gerentes (cadres) na ordem social neoliberal.
Entre os marxistas, continua-se a
recusar que o controle dos meios de produção no
capitalismo moderno é assegurado conjuntamente
pelas classes capitalistas e pela classe dos gerentes (classe
de cadres), o que faz dessa última uma segunda
componente das classes superiores. Essa recusa é
ainda mais desconcertante quando se tem em mente
que as rendas das categorias superiores dos
gerentes (cadres) no neoliberalismo explodiram ainda mais que as rendas dos capitalistas.
JU - Para alguns
autores, o neoliberalismo foi um ajuste inevitável
provocado pela crise fiscal do Estado; para outros foi o resultado,
também inevitável, da globalização.
Gérard Duménil - A explicação do
neoliberalismo pela "crise fiscal" e frequentemente
também pela inflação é a explicação da direita; é uma defesa
dos interesses capitalistas. Ela especula com as
inconsequências dos blocos políticos que dirigiam a
ordem social do pós-guerra. Esses foram incapazes
de gerir a crise dos anos 70 e preparam a cama para
o neoliberalismo. Passa-se o mesmo com a explicação
que apresenta o neoliberalismo como consequência da globalização.
Esse argumento inverte as causalidades. O que o
neoliberalismo faz é orientar a globalização, uma
tendência antiga, para novas direções e acelerar o
seu curso, abrindo a via para a "globalização
neoliberal". O movimento altermundialista lutou por
uma outra globalização, solidária, e não baseada
na exploração em proveito de uma minoria.
JU - Você acaba de
publicar, juntamente com o seu colega Dominique Lévy, um
livro sobre a crise econômica atual. Na sua avaliação, qual
é a natureza dessa crise?
Gérard Duménil - A crise atual é uma
das quatro grandes crises - crises estruturais -
que o capitalismo atravessou desde o final do século XIX:
a crise da década de 1890, a crise de 1929, a crise da década
de 1970 e a crise atual - iniciada em 2007/2008. Essas
crises são episódios de perturbação de uma duração
de cerca de uma dezena de anos (para as três
primeiras). Elas ocorrem com uma periodicidade de
cerca de 40 anos e separam as ordens sociais que
evoquei na resposta à primeira pergunta. A primeira
e a terceira dessas crises, as das décadas de 1890 e de 1970,
seguiram-se a fases de queda da taxa de lucro e podem ser
designadas como crises de rentabilidade. As duas
outras crises, a de 1929 e a atual, nós as
designamos como "crises de hegemonia financeira".
São grandes explosões que ocorrem na sequência de
práticas das classes superiores visando ao aumento de suas
rendas e de seus poderes. Todos os procedimentos do
neoliberalismo estão aqui em ação:
desregulamentação financeira e globalização. O
primeiro aspecto é evidente, mas a globalização foi também,
como vou indicar, um fator chave da crise atual.
Queda da taxa de lucro e
explosão descontrolada das práticas das classes capitalistas
são dois grandes tipos de explicação das grandes crises na
obra de Marx. O primeiro tipo é bem conhecido. No
Livro III de O Capital, Marx defende a tese da
existência de uma "tendência decrescente da taxa de
lucro" inerente ao caráter da mudança tecnológica
no capitalismo (a dificuldade de aumentar a produtividade
do trabalho sem realizar investimentos muito custosos, o que
Marx descreve como a "elevação da composição orgânica
do capital").
Note-se que Marx refuta explicitamente
a imputação da queda da taxa de lucro ao aumento da concorrência.
(O segundo grande tipo de explicação para as
crises já aparece em esboço nos escritos de Marx da
década de 1840.) No Manifesto do Partido Comunista,
Marx descreve as classes capitalistas como
aprendizes de feiticeiros, desenvolvendo mecanismos capitalistas
sob formas e em graus perigosos e perdendo, finalmente, o
controle sobre as consequências de sua ação. Os
aspectos financeiros da crise atual remetem
diretamente às análises do "capital fictício", aos
quais Marx consagrou longos desenvolvimentos no
Livro II de O Capital, desenvolvimentos que ecoam as ideias
do Manifesto. De uma maneira bem estranha, alguns marxistas
só aceitam a explicação das grandes crises pela queda
da rentabilidade, excluindo qualquer outra
explicação, e passam a multiplicar cálculos mal
fundamentados.
Mas a crise atual não é uma
simples crise financeira. É a crise de uma ordem social insustentável,
o neoliberalismo. Essa crise, no centro do sistema,
deveria acontecer, de qualquer modo, um dia ou
outro, mas ele chegou de uma maneira bem particular
em 2007/2008, vinda dos Estados Unidos. Dois tipos
de mecanismos convergiram. Encontramos, de uma
parte, a fragilidade induzida em todos os países neoliberais
pelas práticas de financeirização e de globalização
(notadamente financeira), motivada pela busca
desenfreada de rendimentos crescentes por parte das
classes superiores, reforçada pela recusa de
regulamentação. O banco central dos EUA, em particular,
perdeu o controle das taxas de juros e a capacidade de conduzir
políticas macroeconômicas em decorrência da
globalização financeira. De outra parte, a crise
foi o efeito da trajetória econômica estadunidense,
uma trajetória de desequilíbrios cumulativos, que
os EUA puderam manter devido à sua hegemonia internacional
- contrariamente à Europa que, considerada no seu conjunto,
não conheceu tais desequilíbrios.
Desde 1980, o ritmo da acumulação
de capital nos Estados Unidos desacelerou no território do
próprio país enquanto cresciam os investimentos diretos no
exterior. A isso é necessário acrescentar: um déficit
crescente do comércio exterior, uma grande elevação
do consumo (da parte das camadas mais favorecidas)
e um endividamento igualmente crescente das
famílias. O déficit de comércio exterior (o excesso
de importações frente às exportações) alimentava um
fluxo de dólares para o resto do mundo que tinha como única
utilização a compra de títulos estadunidenses, levando ao
financiamento da economia daquele país pelos
estrangeiros - uma "dívida" vis-à-vis o
estrangeiro, simplificando um pouco.
Por razões econômicas que eu não
explicarei aqui, o crescimento dessa dívida exterior
devia ser compensado por aquele da dívida interna, a das famílias
e a do Estado, a fim de sustentar a atividade no
território do país. Isso foi feito encorajando o
endividamento das famílias pela política de crédito
e pela desregulamentação - a dívida do governo
teria podido substituir o endividamento das famílias
mas isso ia contra as práticas neoliberais de antes da crise.
Os credores das famílias (bancos e outros) não conservavam
os créditos criados, mas os revendiam sob a forma
de títulos (obrigações), cuja metade, mais ou
menos, foi comprada pelo resto do mundo.
De tanto emprestar às famílias
para além da capacidade delas saldarem as dívidas, as inadimplências
se multiplicaram desde o início do ano de 2006. A
desvalorização desses créditos desestabilizou o
frágil edifício financeiro, nos EUA e no mundo, sem
que o banco central dos Estados Unidos estivesse
em condição de restabelecer os equilíbrios no contexto
de desregulamentação e de globalização que ele próprio tinha
favorecido. Esse foi o fator desencadeador, mas não o
fundamental, da crise - combinação de fatores
financeiros (a loucura neoliberal nesse domínio) e
reais (a globalização, o sobre-consumo estadunidense
e o déficit do comércio exterior desse país).
JU - Você falou em
suas palestras no Brasil que a crise econômica teria entrado
numa segunda fase. Como a crise vem se desenvolvendo?
Gérard Duménil - O mundo já
ingressou na segunda fase da crise. É fácil compreender
as razões. A primeira fase atingiu o pico no outono de 2008,
quando caíram as grandes instituições financeiras
estadunidenses, quando começou a recessão e quando a
crise se propagou para o resto do mundo. As lições
da crise de 1929 foram bem aprendidas. Os bancos
centrais intervieram massivamente para sustentar as
instituições financeiras (com medo de uma repetição da
crise bancária de 1932) e os déficits orçamentários dos Estados
atingiram níveis excepcionais. Mas essas medidas
keynesianas, estimulando a demanda, só podiam ter
por efeito uma sustentação temporária da atividade.
Os governos dos países do centro ainda não tomaram
consciência do caráter estrutural da crise. Eles
agem como se a crise tivesse sido puramente financeira,
já ultrapassada; entretanto, as medidas keynesianas só criaram
um sursis. Nenhuma medida antineoliberal séria foi
tomada nos países do centro. São apenas políticas
que visam o reforço da exploração das classes
populares.
Nos Estados Unidos, a administração
de Barak Obama elaborou uma lei, a lei Dodd-Frank, para regulamentar
as práticas financeiras, mas os republicanos
bloquearam completamente a aplicação. Em outras
esferas, como gestão das empresas, exportação,
déficits do comércio exterior, nada foi feito. Na
Europa, a crise não é identificada como a crise do neoliberalismo.
A Alemanha é apresentada como tendo provado a
sustentabilidade do caminho neoliberal. A crise é
imputada à incapacidade de gestão de certos
Estados, notadamente a Grécia e Portugal.
Em toda parte, a direita retomou
a ofensiva. Ela se atém à questão dos déficits orçamentários
e da elevação da dívida pública. Ela finge não ver que a
austeridade orçamentária, além da transferência,
que a felicita, do peso da dívida para as classes
populares, não pode senão provocar a recaída numa
nova contração da atividade. Essa é a segunda fase
da crise. Essa segunda fase não será a última. O novo
mergulho na recessão necessitará novas políticas. Contrariamente
à Europa, os Estados Unidos se lançaram massivamente no
financiamento direto da dívida pública pelo banco
central (o quantitative easing). Muito mais coisa
será necessária, apesar da direita. Nós temos
dificuldade em ver como a Europa poderá escapar
disso.
JU - É sabido que a crise econômica atingiu mais fortemente, pelo menos até agora, os EUA e a Europa. Na década de 1990, ao contrário, as crises econômicas foram mais fortes na periferia. Por que essa diferença? Como a crise atual se manifesta nas diferentes regiões do globo?
JU - É sabido que a crise econômica atingiu mais fortemente, pelo menos até agora, os EUA e a Europa. Na década de 1990, ao contrário, as crises econômicas foram mais fortes na periferia. Por que essa diferença? Como a crise atual se manifesta nas diferentes regiões do globo?
Gérard Duménil - Até a segunda
metade da década de 1990, o neoliberalismo produziu
estragos no mundo, notadamente na América Latina e
na Ásia. Mesmo hoje, as taxas de crescimento na América
Latina permanecem inferiores àquelas dos primeiros decênios
do pós-Segunda Guerra Mundial, e isso a despeito da
redução massiva dos salários reais - que foi
reduzido à metade desde a crise de 1970 em alguns
países da região. Na década de 1990 - e em 2001 na
Argentina - os avanços do neoliberalismo provocaram
grandes crises, das quais a crise argentina é um caso emblemático.
O mundo entrou, agora, numa fase
nova. A transição para o neoliberalismo provoca um tipo
de "divórcio", nos países do centro, entre os interesses das
classes superiores e os do país como território
econômico. O caso dos Estados Unidos é espetacular.
Como eu disse, as grandes empresas desse país
investem cada vez menos no território do país e,
cada vez mais, no resto do mundo. A globalização
levou a um deslocamento da localização da produção industrial
para as periferias: na Ásia, na América Latina e, inclusive,
em alguns países da África sub-saariana.
JU - As políticas
propostas pelos dois grandes da União Europeia para superar
a crise têm repetido as fórmulas neoliberais. Os mercados
intimidam os governos; Sarkozy e Merkel exigem mais e
mais cortes orçamentários. Por que insistem em uma
política que, para muitos observadores, está na
origem da crise? Que resultado a aplicação de tais
políticas poderá produzir?
Gérard Duménil -
Eu não penso de jeito nenhum que o rigor orçamentário tenha
sido uma das causas da crise. Isso é a expressão de uma
crença keynesiana ingênua, tão ingênua quanto à
crença na capacidade dessas políticas de suscitar a
saída da crise, dispensando as necessárias
transformações antineoliberais. Porém, nesse
contexto, as políticas que visam erradicar os déficits não
deixarão de provocar uma nova queda da produção.
JU - Muitos analistas
têm destacado que os partidos, sejam eles de direita ou de
esquerda, não se diferenciam muito nas propostas para
enfrentar a crise. Ademais, em vários países
europeus, como a Inglaterra, a Espanha e Portugal, a
direita foi eleitoralmente favorecida pela crise
econômica. Os movimentos sociais poderiam construir
uma alternativa de poder? Qual poderia ser um programa popular
para enfrentar a crise atual?
Gérard Duménil -
Nós não falamos dos aspectos políticos do neoliberalismo.
A aliança na cúpula das hierarquias sociais entre classes
capitalistas e classes dos gerentes (classes de cadres)
logrou, por diversos mecanismos, afastar as
classes populares da política "politiqueira". Quero
dizer: as afastou dos jogos dos partidos e dos
grupos de pressão. Para as classes populares, só
restou a (luta de) rua.
É preciso fazer entrar em cena
grupos sociais que se encontram na "periferia" das classes
dos gerentes (classes de cadres): os intelectuais
e os políticos profissionais. No compromisso social dos
pós-Segunda Guerra, frações relativamente
importantes desses grupos eram partidárias da
aliança com as classes populares (às quais elas não
pertenciam), que elas apoiavam nos seus campos próprios
de atuação. No contexto do colapso do movimento operário mundial,
as classes capitalistas lograram, no
neoliberalismo, a selar uma aliança com as classes
dos gerentes - usando o recurso da remuneração,
notadamente - conduzindo gradualmente esses grupos
periféricos (a universidade fornece muitas ilustrações
sobre esse fenômeno) no empreendimento de conquista social
do neoliberalismo. A proporção de grupos sociais motivados
para uma aliança com as classes populares
estreitou-se consideravelmente, ficando reduzida a
alguns grupos "iluminados" aos quais eu próprio
pertenço.
O sofrimento das classes populares
não chega ao grupo dos gerentes e, no plano político, não
há mais nenhum grande partido de esquerda. Na França, sabe-se
no que se tornou o Partido Socialista,
completamente ganho pela "globalização", um termo
para ocultar o neoliberalismo. Algo semelhante
poderíamos dizer dos democratas nos Estados Unidos e
eu deixo para vocês mesmos julgarem a situação do
Brasil a esse respeito.
A vida política - politiqueira -
se reduz à alternância entre dois partidos não equivalentes;
mas o partido que se diz de esquerda é incapaz de propor uma
alternativa, para não falar da sua implementação. O
voto se reduz àquilo que nós chamamos na França o
"voto sanção". A direita sucede a esquerda na
Espanha, por exemplo, porque a esquerda estava no
poder durante a crise; a direita não tem,
evidentemente, nenhuma capacidade superior para gerir
a crise.
JU - Muitos observadores
têm falado da possibilidade de extinção do euro. Você acredita
que isso poderá ocorrer? Na sua avaliação, quais seriam
os desfechos mais prováveis para a crise atual?
Gérard Duménil - É possível que
alguns países saiam da zona do euro. Isso não
resolveria o problema da dívida deles, que se tornaria
ainda impagável depois da desvalorização da nova moeda substituta
do euro. O problema é o do cancelamento da dívida ou
de sua adoção pelo banco central. A crise da dívida
atingiu agora os países do centro da Europa, e
será necessário que esses países tomem consciência
da amplitude e da verdadeira natureza do problema.
Isso remete às características
daquilo que nós chamamos a "terceira fase da crise". Quais
políticas serão adotadas face à nova recessão? Como será gerida
a crise na Itália e, depois, na França? Como a
Alemanha responderá à pressão dos "mercados" (as
instituições financeiras internacionais)? Uma coisa
é certa: essas dívidas não devem ser pagas, o que
exige a transferência delas para fora dos bancos ou uma forte
intervenção na sua gestão.
Agora, o ponto fundamental é a
vontade dos governos dos países mais poderosos da Europa,
notadamente a Alemanha, de reforçar a integração europeia
(em vez de estourar a zona do euro), que se opõe à vontade
de "desglobalização" de alguns. Esse debate oculta
a questão central: qual Europa? Uma Europa das
classes superiores ou a de um novo compromisso de
esquerda?