Bonitinha, mas assassina
Pesquisadores descobrem que delicada planta do cerrado
brasileiro é carnívora e usa folhas subterrâneas para se alimentar de
vermes e sobreviver no solo carente de nutrientes da região. A pesquisa é
mais um exemplo da diversidade biológica desse ecossistema.
Por: Sofia Moutinho
Publicado em 09/01/2012
|
Atualizado em 10/01/2012
A 'P. minensis' é a primeira de sua família reconhecida como
carnívora. A planta é rara e só ocorre na Serra do Espinhaço, no
cerrado mineiro. (foto: Caio Pereira)
Aparentemente, uma delicada plantinha de flores lilases, mas, debaixo do solo em que nasce, a Philcoxia minensis
esconde um segredo que só agora foi revelado por pesquisadores
brasileiros, estadunidenses e australianos. Eles descobriram que a
planta, do cerrado, é uma voraz carnívora: camufla folhas grudentas sob a
areia para capturar e digerir vermes desavisados.
A curiosa planta, encontrada apenas nas manchas de areia branca da Serra do Espinhaço, em Minas Gerais, chamou a atenção dos biólogos por frequentemente ser vista com vermes nematoides – aqueles compridos e cilíndricos, como as lombrigas – presos em suas minúsculas folhas subterrâneas, de cerca de 1mm de diâmetro.
O fato de os vermes serem encontrados já mortos e a presença da incomum folha subterrânea levaram os pesquisadores a pensar na hipótese de a planta ser carnívora, mesmo que nenhuma outra espécie da mesma família, que inclui mais de 2 mil vegetais, seja.
Se a planta fosse mesmo carnívora, absorveria o nutriente. E foi isso que aconteceu. Análises das folhas comprovaram que a P. minenses digeriu os vermes e incorporou 5% do nitrogênio-15 presente nos animais, cerca de um dia após a refeição, e 15%, depois de dois dias.
Isto faz com que a planta seja uma das poucas a sobreviver nas areias brancas dos campos rupestres, lar das outras duas únicas espécies do mesmo gênero: a P. bahiensis e a P. goiasensis.
Estas são muito semelhantes à P. minensis e os pesquisadores acreditam que também sejam carnívoras. Por isso já começaram a busca por mostras para estudo no cerrado da Bahia e de Goiás, áreas de ocorrência das espécies.
“O cerrado é uma formação vegetal extremamente rica, única no mundo, e conhecemos um número limitado de espécies da região”, diz Oliveira. “Nosso estudo é mais um exemplo da importância de se estudar esse ecossistema tão diverso.”
Sofia MoutinhoCiência Hoje On-line
A curiosa planta, encontrada apenas nas manchas de areia branca da Serra do Espinhaço, em Minas Gerais, chamou a atenção dos biólogos por frequentemente ser vista com vermes nematoides – aqueles compridos e cilíndricos, como as lombrigas – presos em suas minúsculas folhas subterrâneas, de cerca de 1mm de diâmetro.
O fato de os vermes serem encontrados já mortos e a presença da incomum folha subterrânea levaram os pesquisadores a pensar na hipótese de a planta ser carnívora, mesmo que nenhuma outra espécie da mesma família, que inclui mais de 2 mil vegetais, seja.
A curiosa planta é encontrada apenas nas manchas de areia branca da Serra do Espinhaço, em Minas Gerais
Para verificar a ideia, eles ofereceram à planta um banquete especial: vermes Caenorhabditis elegans
marcados com nitrogênio-15. Os vermes usados na experiência continham
em seu organismo apenas esse isótopo do nitrogênio, passado a eles via
alimentação exclusiva de bactérias cultivadas em meio enriquecido com a
substância.Se a planta fosse mesmo carnívora, absorveria o nutriente. E foi isso que aconteceu. Análises das folhas comprovaram que a P. minenses digeriu os vermes e incorporou 5% do nitrogênio-15 presente nos animais, cerca de um dia após a refeição, e 15%, depois de dois dias.
- A 'P. minensis' usa minúsculas folhas subterrâneas para capturar vermes nematoides na areia. (fotos cedidas por Bruno Pereira)
Oliveira: “Nenhuma outra planta carnívora conhecida usa essa estratégia para se alimentar”
Segundo o biólogo, a dieta da planta é uma adaptação ao meio em que
vive, onde o solo é muito seco e carente de nutrientes como fósforo,
potássio e nitrogênio. São os vermes que provêm essas substâncias à P. minensis.Isto faz com que a planta seja uma das poucas a sobreviver nas areias brancas dos campos rupestres, lar das outras duas únicas espécies do mesmo gênero: a P. bahiensis e a P. goiasensis.
Estas são muito semelhantes à P. minensis e os pesquisadores acreditam que também sejam carnívoras. Por isso já começaram a busca por mostras para estudo no cerrado da Bahia e de Goiás, áreas de ocorrência das espécies.
“O cerrado é uma formação vegetal extremamente rica, única no mundo, e conhecemos um número limitado de espécies da região”, diz Oliveira. “Nosso estudo é mais um exemplo da importância de se estudar esse ecossistema tão diverso.”
Sofia MoutinhoCiência Hoje On-line