sexta-feira, 7 de setembro de 2012
...
"Não
sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei. De tanto ser, só tenho alma. Quem tem alma não
tem calma. Quem vê é só o que vê, Quem sente não é quem é, Atento ao que
sou e vejo, Torno-me eles e não eu. Cada meu sonho ou desejo É do que
nasce e não meu. Sou minha própria paisagem; Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só, Não sei sentir-me onde estou. Por isso, alheio, vou
lendo Como páginas, meu ser. O que segue não prevendo, O que passou a
esquecer. Noto à margem do que li O que julguei que senti. Releio e digo
: "Fui eu ?" Deus sabe, porque o escreveu."
Fernando Pessoa