2.9.12 do Blog de Joana Lopes
Os convencidos da vida
«Os Convencidos da Vida Todos os dias os encontro. Evito-os. Às vezes
sou obrigado a escutá-los, a dialogar com eles. Já não me confrangem.
Contam-me vitórias. Querem vencer, querem, convencidos, convencer.
Vençam lá, à vontade. Sobretudo, vençam sem me chatear. Mas também os
aturo por escrito. No livro, no jornal. Romancistas, poetas, ensaístas,
críticos (de cinema, meu Deus, de cinema!). Será que voltaram os
polígrafos? Voltaram, pois, e em força.
Convencidos da vida há-os, afinal, por toda a parte, em todos (e por
todos) os meios. Eles estão convictos da sua excelência, da excelência
das suas obras e manobras (as obras justificam as manobras), de que
podem ser, se ainda não são, os melhores, os mais em vista.
Praticam, uns com os outros, nada de genuinamente indecente: apenas um
espelhismo lisonjeador. Além de espectadores, o convencido precisa de
irmãos-em-convencimento. Isolado, através de quem poderia continuar a
convencer-se, a propagar-se?»
Alexandre O'Neill, Uma Coisa em Forma de Assim