do Blog de Maria JOão FReitas Ver aqui
Omelete melancólica
Até
o mais poderoso homem pode estar prisioneiro da sua memória. Como o rei
melancólico de que fala Walter Benjamin nas suas Imagens do Pensamento,
que exige ao seu melhor cozinheiro a reprodução de uma omelete de
amoras feita por uma velhinha (seria feiticeira?) e comida na sua
infância na companhia do seu pai, quando se refugiaram e perderam numa
floresta escura. Se o cozinheiro fracassasse, seria condenado à morte,
se fosse bem sucedido, ficaria com o seu trono. Apesar de conhecer todos
os ingredientes e modo de preparação da receita da omelete de amoras, o
cozinheiro reconhece que nunca poderia igualá-la. Faltar-lhe-ia o sabor
do perigo e daquele presente incomum, que antevia um futuro incerto. O segredo da omelete de amoras é ser um objecto (perdido) na floresta do desejo.