Grampo mostra que Agnelo quis negociar com Cachoeira, diz PF
Citado como o '01', governador do Distrito Federal teria pedido reunião com contraventor, segundo inquérito da Operação Monte Carlo
11 de abril de 2012 | 15h 07
Fábio Fabrini e Alana Rizzo, de O Estado de S.Paulo
Citado como o "01" de Brasília pela organização do
bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, o governador
Agnelo Queiroz (PT) pediu, segundo indica o inquérito da Operação Monte
Carlo, uma reunião com o contraventor, apontado como o chefe da máfia
dos caça-níqueis em Goiás e no Distrito Federal. O esquema, até ser
desmontado pela PF, se articulava para operar negócios miliónários no
Governo do Distrito Federal (GDF). A aproximação do governador com o
bicheiro, para a PF, tinha como pano de fundo pagamentos do GDF a
empresas do esquema, notadamente a Delta Construções, e nomeações de
representantes da quadrilha em cargos-chave da administração do DF.
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Governador Agnelo Queiroz disse que não é possível ser ele o mencionado no diálogo
Em telefonema gravado pela Polícia Federal em 16 de junho do ano
passado, o sargento Idalberto Matias, o Dadá, um dos aliados de
Cachoeira, avisa ao bicheiro que foi procurado por João Carlos Feitosa
Zunga, ex-subsecretário de Esportes e funcionário do Governo do Distrito
Federal (GDF), que disse que o "01" estava querendo falar com ele.
De acordo com a PF, "01" era a forma como os aliados de Cachoeira se
referiam a Agnelo, chefe do governo. "O Zunga me ligou aqui, está
querendo falar com você, porque o chefe dele lá, o 01, está
querendo...quer falar com você", diz Dadá. "Vou falar com ele", responde
Cachoeira. O próprio relatório da PF quando transcreve as escutas
identifica o "01" como "governador".
O "01" também aparece em outras gravações obtidas pela PF. Em 6 de
abril, Dadá e Marcelo Lopes, ex-assessor especial da Casa Militar do
governo Agnelo, conversam sobre uma pessoa (não identificada nas
investigações) que estaria fazendo a ponte com o governador.
Poucos dias antes, os mesmos interlocutores afirmam que Cláudio
Abreu, diretor da Delta Construções S/A no Centro-Oeste, está com um
contato dentro do governo, direto e sem intermediários, para azeitar os
interesses da construtora em nomeações e liberação de pagamentos.
Marcelão era assessor de Cláudio Monteiro, chefe de gabinete de
Agnelo, que pediu demissão na noite desta terça-feira, 10, após a
divulgação de grampos nos quais a organização de Cachoeira cita
pagamentos a ele.
Monteiro é citado em diversos áudios da Operação Monte Carlo, que
revelam a proximidade de integrantes do governo de Agnelo com
integrantes da organização criminosa comandada por Carlinhos Cachoeira.
Procurado pelo Estado, Zunga alegou que não
solicitou a Dadá conversa de Cachoeira com Agnelo ou qualquer pessoa. O
governador informou, por meio de sua assessoria, que não vê a
possibilidade de ser o "01" citado pela PF. O petista assegurou não ter
se encontrado com Cachoeira ou mantido contato telefônico com ele. Ele
negou ter pedido ou ter sido sondado para reunião com o contraventor.