Em apenas 35 cidades do País mais da metade dos alunos sabe matemática
O restante não tem conhecimento compatível com a série em que está, mostra relatório anual
07 de fevereiro de 2012 | 23h 38
Mariana Mandelli, de O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Apenas 35 cidades brasileiras – 0,6% do País
– têm 50% ou mais de seus alunos com aprendizado em matemática adequado
à série que cursam. Isso quer dizer que a maior parte dos estudantes
desses municípios não aprendeu, por exemplo, a identificar objetos em
mapas e a resolver problemas com números inteiros e racionais fazendo
várias operações. Os dados se referem ao 9.º ano do ensino fundamental
das redes públicas.
Antonio Milena/AE - 31/07/2008
Meta do plano é de que, até 2022, 70% ou mais dos alunos tenham aprendido o conteúdo da série
No caso da língua portuguesa, esse índice é de 1,2%. Ou seja: apenas
67 municípios apresentam a metade ou mais de seus estudantes com
conteúdo satisfatório para o ano da escola em que estão. Isso significa
que a grande maioria ainda não aprendeu a identificar o conflito e os
elementos que constroem a narrativa de um texto, por exemplo.
Os dados são referentes a 2009 e constam do relatório anual do
movimento Todos Pela Educação, apresentado na terça-feira, 7. Todo aluno
com o aprendizado adequado à sua série é uma das metas da organização.
Para acompanhar o desenvolvimento desse processo nos municípios, a
organização usa o porcentual de estudantes com aprendizagem adequada em
língua portuguesa e matemática. As duas disciplinas são avaliadas em
todo o País pela Prova Brasil, no 5.º e 9.º ano do fundamental, e pelo
Saeb, nas mesmas séries e também no 3.º ano do médio.
No caso do 5.º ano, em matemática, são 1.029 as cidades (19%) que têm
50% ou mais de seus alunos sabendo o que foi ensinado – como ler dados
em tabelas. Em língua portuguesa, essa taxa cai para 14,3% – ou 773
cidades – com metade ou mais dos estudantes sabendo, por exemplo,
identificar efeitos de humor em um texto.
Nenhuma das capitais do País tem metade ou mais de suas crianças e
jovens com o aprendizado adequado nas duas disciplinas dos dois anos
avaliados. As taxas mais altas pertencem a Belo Horizonte, com 49% de
suas crianças do 5.º ano com conteúdo correto em português e em
matemática.
Esses mesmos índices, na cidade de São Paulo, são de 33,6% para matemática e 34,5% para língua portuguesa.
Cidades grandes paulistas, como Campinas, também têm todos os índices
abaixo da metade. O mais baixo é 12,3% de alunos do 9.º ano com
aprendizado adequado em matemática.
O secretário de Educação do município, Eduardo Coelho, reconhece que o
aproveitamento escolar no 9.º ano é um “sinal amarelo” para os
administradores. “Isso reflete o que vem ocorrendo desde anos anteriores
e mostra que temos de caprichar, fazer mais investimentos, trabalhar
para que o aluno tenha vontade de ir à escola, de aprender”, afirmou
Coelho.
Objetivos. Parte dos municípios e Estados cumpriu as
metas do Todos Pela Educação para aprendizado adequado. Em matemática,
no 5.º ano, por exemplo, cinco Estados deixaram de atingir as metas. Já
no 9.º ano, só quatro Estados as atingiram.
Para os especialistas em educação básica, não aprender o que foi
ensinado acarreta em prejuízos sociais. “Temos de manter a eficiência do
processo. Vemos hoje que, no 5.º ano, a porcentagem de alunos que
aprendem o esperado é maior que no 9.º ano – que, por sua vez, é maior
que no fim do ensino médio”, explica Priscila Cruz, diretora executiva
da organização.
“É uma crise que estamos vivendo no País, e toda a ineficiência desse sistema acaba desaguando no ensino médio: apenas 11% dos que concluem têm aprendizado suficiente em matemática”, afirma Priscila.
A meta do Todos Pela Educação é de que, até 2022, 70% ou mais alunos
tenham aprendido o conteúdo ensinado em sua série. Daniel Cara,
coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, afirma
que o problema da aprendizagem depende de um conjunto de fatores, que
passa até mesmo pela infraestrutura da escola.
“A qualidade do equipamento escolar hoje é muito baixa. Não é só um
problema curricular ou de motivação do docente: a escola deve promover a
cidadania por meio de sua infraestrutura.”