5th abril
2012
Que
você faz quando tem 77 anos e sua aposentadoria se torna tão
insignificante que você está na iminência de catar comida no lixo?
O grego Dimitris Christoulas optou por se matar.
Se
Dimitris viveu na obscuridade como um modesto farmacêutico, sua morte
foi, ao contrário, espetacular. Ele se deu um tiro em plena praça
Sintagma, em Atenas, a poucos metros do Parlamento. É nela que têm
acontecido os protestos contra as medidas do governo grego para atender
às exigências da chamada Troika.
Troika
é como se tornou conhecido o comando financeiro tríplice da Europa
nestes dias: União Européia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário
Internacional. A voz mais grossa aí é a Alemanha da chanceler Angela
Merkel. Em suas decisões, a Troika essencialmente reflete os desígnios
da Alemanha – um caso único de sucesso econômico espetacular numa Europa
em frangalhos.
Dimitris
estava lúcido a ponto de escrever uma carta em que explicava os motivos
do seu gesto. Seu suicídio comoveu os gregos e os levou a mais uma
rodada de protestos seguidos de confrontos com a polícia, como você pode
ver no vídeo da BBC que abre este texto.
Não
muito tempo atrás, um camelô tunisiano ateou fogo ao próprio corpo
depois de ser impedido de trabalhar por policiais que cobravam propina
que ele não tinha como pagar, e das chamas suicidas nasceria a Primavera
Árabe em que a primeira ditadura a cair seria a da Tunísia. Mas o
prognóstico para os gregos é um inverno cruel como um cossaco russo.
No
caso da Grécia, por trás da crise estão níveis de sonegação de impostos
sem paralelo. O esporte nacional da Grécia é não pagar imposto. É um
esporte para os ricos, naturalmente. Assalariados como Dimitris são
taxados na fonte.
A
nova administração grega prometeu à Troika combater severamente a
sonegação. A resposta é a clássica: ir embora. Casas caríssimas de
Londres estão sendo compradas por estrangeiros. O russo Roman
Abramovich, dono do Chelsea e de uma fortuna cuja origem é obscura, é
dono de uma mansão de 30 milhões de libras – uns 70 milhões de reais –
em Kensington, um dos bairros mais chiques de Londres.
As
imobiliárias londrinas informam que entre os novos clientes de ouro
estão, também, milionários gregos, que fogem da perspectiva de fazer uma
coisa que jamais fizeram: pagar impostos.
Para eles, houve saída.
Para Dimitri, restou apertar o gatilho contra o próprio corpo