Faculdade particular envolvida em corrupção investigada pela PF
Da Folha de São Paulo
27/11/2012
Grupo investigado pela PF usou senha do MEC para alterar dados de faculdade
MÁRIO CESAR CARVALHO
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
PAULO GAMA
DE SÃO PAULO
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
PAULO GAMA
DE SÃO PAULO
Paulo Rodrigues Vieira, o diretor da ANA (Agência Nacional de Águas)
preso desde a última sexta sob acusação de tráfico de influência em
órgãos do governo federal, obteve uma senha privativa de um funcionário
do Ministério da Educação para alterar dados financeiros de uma
faculdade de sua família.
A mudança dos parâmetros financeiros serve, em tese, para a faculdade
conseguir mais recursos do governo em programas como o Pro-Uni, de
bolsas para estudantes pobres, e o Fies, de financiamento de
mensalidades.
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A conversa foi gravada pela Polícia Federal em 24 de março deste ano,
quando Aloizio Mercadante já assumira o ministério --Fernando Haddad
saiu em janeiro.
O interlocutor de Vieira no MEC é Márcio Alexandre Barbosa Lima, da
Secretaria Especial de Regulação do Ensino Superior. É a ele que Vieira
pede: "Eu tô querendo entrar aqui no MEC (...) com sua senha. Me fala
seu CPF". Lima entrega todos os dados.
A família de Vieira é dona da Faculdade de Ciências Humanas de Cruzeiro,
cidade de 77 mil habitantes no Vale do Paraíba, interior paulista.
Numa conversa entre Vieira e uma funcionária da faculdade chamada
Patrícia, ela conta que já alterara os dados de 2009 para 2010. "Você
pediu para eu alterar em 15% todos os números que aparecessem", diz ela,
sobre o passado. "Aumenta agora 20%", ordena Vieira.
Um outro funcionário do MEC foi apanhando pela Operação Porto Seguro da
PF. Trata-se de Esmeraldo Malheiros dos Santos, que era consultor
jurídico, um cargo de confiança do ministro.
Ambos foram afastados ontem.
Santos, que trabalha no ministério de 1983, ajudava o grupo de Vieira a
obter pareceres internos da pasta que seriam usados por faculdades que
corriam o risco de ter cursos descredenciados.
O MEC descredencia cursos quando a faculdade é reprovada em avaliações.
No caso de Santos, a PF interceptou um e-mail de dezembro de 2010 no
qual Paulo Vieira escreve: "Peça para a sua amiga fazer um bom relatório
e logo (...)", referindo-se a um parecer do Inep (Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais), órgão que coordena a avaliação de
instituições de ensino.
Ele conclui o e-mail de maneira enigmática: "Há 20 exemplares da obra à
sua disposição na minha casa na próxima semana. É para a suas leituras
de férias".
"Exemplares da obra", segundo a PF, era a maneira cifrada de o grupo falar de dinheiro. Vinte exemplares seriam R$ 20 mil.
O próprio Paulo Vieira foi funcionário do MEC. Era gestor de controle
interno na gestão de Tarso Genro (2004-2005). Em conversa em 4 de maio
deste ano, ele gaba-se: "Tinha acesso direto ao gabinete. Dava parecer
sobre tudo porque estava dentro do gabinete".
Esmeraldo Santos teve também conversas com Rubens Vieira, irmão de Paulo
que era da Anac (Agência Nacioanal de Aviação Civil) e está preso em
Brasília. Num dos diálogos, ele diz que Santos lhe deve R$ 1.250.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
OUTRO LADO
O Ministério da Educação afastou ontem os servidores Marcio Alexandre
Barbosa Lima e Esmeraldo Malheiros dos Santos, que tiveram conversas
interceptadas pela Polícia Federal na Operação Porto Seguro. Santos foi
também exonerado do cargo de confiança que exercia na assessoria
jurídica do órgão.
Como são servidores, os dois só podem perder os cargos no ministério
depois da decisão de uma comissão de sindicância e investigação
instalada pela pasta.
Pierpaolo Bottini, que defende Paulo Rodrigues Vieira, preso sob acusação de tráfico de influência em órgãos do governo federal, não quis comentar as acusações porque não havia conversado com seu cliente sobre o caso até a noite de ontem.
Pierpaolo Bottini, que defende Paulo Rodrigues Vieira, preso sob acusação de tráfico de influência em órgãos do governo federal, não quis comentar as acusações porque não havia conversado com seu cliente sobre o caso até a noite de ontem.
Ele disse, no entanto, que fez um pedido de reconsideração da prisão de
seu cliente à Justiça. Ele alega que, como Vieira foi afastado do cargo
que ocupava no governo, não oferece mais riscos.
Editoria de arte/folhapress | ||
FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/poder/1191773-grupo-investigado-pela-pf-usou-senha-do-mec-para-alterar-dados-de-faculdade.shtml