Profeta Gentileza pode se tornar 'patrimônio afetivo' no Rio
Artistas propõem nova categoria para instituto que preserva cultura carioca; é um tributo ao homem que escrevia nas pilastras
21 de novembro de 2012 | 2h 03
HELOISA ARUTH STURM / RIO - O Estado de S.Paulo
Talvez poucos conheçam José Datrino. Mas não há, no Rio,
quem já não tenha ouvido falar, ao menos uma vez, no profeta Gentileza.
Ele já foi tema de filme, livro, música. Agora, recebe homenagem da
Companhia Crescer e Viver de Circo, que transformou sua história em show
circense. Se "existe amor em São Paulo", no Rio o que estampa camisetas
e adesivos é "Gentileza gera Gentileza".
Profeta Gentileza, José Datrino, conhecido pela frase: "gentileza gera gentileza".
Passados mais de 15 anos de sua morte, a figura de túnica branca e
longas barbas e cabelos continua no imaginário carioca. Para que não se
perca, organizadores de Univvverrsso Gentileza querem que ele vire
"patrimônio afetivo do Rio". Na pré-estreia do espetáculo, no início do
mês, fizeram o pedido a Washington Fajardo, presidente do Instituto Rio
Patrimônio da Humanidade.
Fajardo disse que essa categoria de patrimônio ainda não consta na
lei municipal e prometeu estudar o assunto. A peça mostra a trajetória
do homem nascido em Cafelândia, interior paulista, que se mudou ainda
jovem para o Rio e teve a vida transformada em 1961, após o incêndio
criminoso no Gran Circus Norte-Americano, em Niterói, que deixou
centenas de mortos. Datrino abandonou empresa, mulher e filhos e foi
montar um jardim sobre cinzas do circo. Considerado louco por uns e
poeta por outros, viveu anos como andarilho, fazendo pregações pela
cidade, distribuindo flores e deixando mensagens de amor e solidariedade
nas pilastras do Viaduto do Gasômetro, no centro do Rio. Apesar de o
governo planejar a remodelação da área, com o fim da Perimetral, todas
as pilastras com escritos serão preservadas.
Segundo um dos coordenadores da companhia circense, Vinícius Daumas, a
ideia da montagem foi inspirada na leitura do livro UNIVVVERRSSO
GENTILEZA, de Leonardo Guelman. "A gente hoje faz com o circo aquilo que
ele fez durante muitos anos sozinho, tentando passar mensagem de
gentileza, de amor. Parece um ciclo que se fecha, é a volta do profeta
ao circo, mas não um circo queimado, e sim vivo", disse Daumas. Trata-se
da segunda montagem da peça, encenada pela primeira vez em 2008.
Vida. No palco, 15 artistas fazem referência a esses
e outros episódios do "profeta", como internação em hospitais
psiquiátricos e restauro de seus escritos após a Companhia de Limpeza
Urbana "limpar" o viaduto em 1997. Muitos dos jovens artistas são
provenientes de comunidades carentes da capital e litoral fluminense que
participam do Programa de Formação do Artista de Circo, da Crescer e
Viver.