Um sistema de
informação para o Biota
Pesquisadora sistematiza dados, promovendo a integração do conhecimento ecológico
Grande
parte do conhecimento científico sobre a biodiversidade e ecossistemas
brasileiros encontra-se dispersa, mal documentada e inacessível aos
interessados, quando a integração das informações poderia orientar a
tomada de decisões para conservação, gestão ambiental e para novas
descobertas. A tese de doutorado de Debora Pignatari Drucker vem nesta
direção, ao desenvolver um sistema de informação para o Projeto Temático
Biota Gradiente Funcional da Fapesp, liderado pela Unicamp. A pesquisa,
desenvolvida no Programa de Doutorado Interdisciplinar em Ambiente e
Sociedade, sediado no Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam),
teve a orientação do professor Carlos Alfredo Joly, do Instituto de
Biologia (IB), e coorientação da professora Leila da Costa Ferreira, do
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH).
“Já
vinha trabalhando nesta área de gestão da informação sobre
biodiversidade no INPA [Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia,
MCTI], em Manaus, quando conheci o professor Joly”, recorda Debora
Drucker. “Como ele foi um dos responsáveis pela criação do Sinbiota
[Sistema de Informação Ambiental do Programa Biota], conversamos sobre a
possibilidade de uma parceria. O Sinbiota tem enfoque maior nos
desafios de se gerenciar dados taxonômicos e identificamos a
possibilidade de complementar essa abordagem com um estudo que
envolvesse também dados ecológicos”.
A
pesquisadora explica que os dados ecológicos comumente contemplam
atributos quantificáveis de organismos e de ecossistemas, bem como de
suas interações, e não necessariamente relacionados com entidades
taxonômicas determinadas. “O professor Joly manifestou interesse em um
estudo para o Biota Gradiente Funcional – um projeto de grande porte
envolvendo estudiosos das mais diferentes temáticas da biodiversidade e
de diferentes instituições, o qual revelou-se como um estudo de caso
interessante para testar novas ferramentas. Para isso, tivemos a
parceria de José Augusto Salim, na época aluno Faculdade de Engenharia
Elétrica e de Computação, na parte de desenvolvimento de software.”
Para
dar uma ideia da dimensão do projeto, Carlos Joly informa que o mesmo
gerou 33 mestrados e 25 doutorados, reunindo pesquisadores do
Departamento Biologia Vegetal da Unicamp, do Instituto Agronômico de
Campinas (IAC), Instituto de Botânica (IBt), Instituto de Biociências da
Unesp (Rio Claro), principalmente da área de taxonomia; do Centro de
Energia Nuclear na Agricultura (Cena/USP), na área de isótopos de
carbono e nitrogênio; do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências
Atmosféricas (IAG/USP), nas trocas de CO2 entre a floresta e a
atmosfera; bem como da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da
Universidade de Taubaté (Unitau), do Instituto Florestal e da Fundação
Florestal.
Joly explica que as
pesquisas focaram a mata Atlântica, na vertente entre Ubatuba e São Luís
do Paraitinga, onde estão localizados os núcleos Picinguaba e Santa
Virgínia do Parque Estadual da Serra do Mar. “Pelo conjunto de pessoas e
instituições envolvidas, havia a necessidade de um sistema para
organizar toda a informação que foi e ainda está sendo gerada. Isso
porque o projeto, embora já tenha terminado enquanto temático, continua
sendo desenvolvido com auxílios à pesquisa, por mim e por outros
pesquisadores do grupo”.
Visualização espacial
No
propósito de contribuir para a criação de uma infraestrutura de
informação que sirva como ponte entre a ciência e os processos de tomada
de decisão em conservação e gestão ambiental, a autora procurou
ferramentas de gerenciamento de dados já existentes, visando promover a
integração do conhecimento ecológico. E também desenvolveu uma
ferramenta nova, que permite a visualização espacial dos dados.
“Conseguimos visualizar todos os indivíduos arbóreos coletados nas
parcelas, sobrepostos a imagens do Google.”
Debora
catalogou levantamentos de 30 subprojetos de pesquisa do projeto
temático, a fim de obter detalhes e dados das pesquisas em andamento e
finalizadas. “Apesar de não haver acordos prévios quanto à
disponibilização dos dados, muitos se dispuseram a colaborar. Este
compartilhamento de informações representa uma nova cultura e o contato
com os pesquisadores proporcionou um enorme aprendizado: tanto sobre o
amplo universo das pesquisas desenvolvidas, quanto sobre a relação das
pessoas com seus objetos de pesquisa e, consequentemente, com os dados
por elas levantados.”
Em
sua tese de doutorado, a pesquisadora conclui que o sistema se mostrou
eficiente para gerenciar os dados e metadados fornecidos pelos
pesquisadores. “Foi possível recuperar a informação por consultas tanto
ao catálogo de metadados, pelo uso de palavras-chave, quanto à base de
dados, pela seleção de variáveis e de parâmetros temporais e espaciais. A
possibilidade de consultar qualquer variável de interesse,
independentemente da associação com uma entidade taxonômica, configura
um sistema de informação sobre biodiversidade original e inovador”,
escreve.
Debora Drucker admite que
quando iniciou o trabalho, supôs que teria o sistema rodando
perfeitamente no final, até perceber a importância de se assegurar um
arcabouço institucional que permita perpetuar a iniciativa no longo
prazo. “O sistema ainda está muito artesanal. Atualmente, se algo
acontece com o servidor, sou eu que verifico o problema, mesmo não tendo
mais vínculos com a Unicamp [hoje é analista da Embrapa]. O sistema
deve estar sob um guarda-chuva institucional maior, como do Biota Fapesp
ou da Unicamp, que possibilite a manutenção adequada e o amadurecimento
e integração de novas funcionalidades.”
Uma possibilidade a ser negociada, de acordo com o professor Carlos Joly, deriva da contrapartida oferecida pela Unicamp ao Biota Fapesp, que envolveu um acordo com o Cenapad-SP (Centro Nacional de Processamento de Alto Desempenho, sediado no campus) para armazenamento das bases de dados. “O ideal é que o sistema fique neste arcabouço, com toda a segurança oferecida pelo Cenapad em termos de capacidade técnica, equipamentos e infraestrutura”, afirma o docente.
Uma possibilidade a ser negociada, de acordo com o professor Carlos Joly, deriva da contrapartida oferecida pela Unicamp ao Biota Fapesp, que envolveu um acordo com o Cenapad-SP (Centro Nacional de Processamento de Alto Desempenho, sediado no campus) para armazenamento das bases de dados. “O ideal é que o sistema fique neste arcabouço, com toda a segurança oferecida pelo Cenapad em termos de capacidade técnica, equipamentos e infraestrutura”, afirma o docente.
Na linha de frente
A
própria autora da tese, por seu lado, já mantém uma interface com o que
está sendo desenvolvido na linha de frente da gestão da informação
sobre biodiversidade e ecossistemas, na Universidade da Califórnia
(EUA). “Uma equipe do NCEAS (National Center for Ecological Analisys and
Synthesis, de Santa Bárbara), em conjunto com outras instituições
americanas, desenvolveu algumas das ferramentas que implementamos aqui.
Agora, essa equipe faz parte de uma iniciativa de maior porte, chamada
DataONE (Data Observation Network for Earth), que pretende integrar
dados de biodiversidade e ecológicos com outros dados relevantes para a
compreensão e monitoramento do sistema terrestre, como dados climáticos,
socioeconômicos e de agropecuária, inclusive aqueles obtidos por
sensoriamento remoto.”
Debora
esclarece que dentro do universo da informação sobre o sistema terrestre
coexistem muitas iniciativas de gestão da informação, mas de forma
fragmentada, havendo a necessidade de que se conversem – e ferramentas
utilizadas por ela estão sendo aprimoradas pela rede DataONE na busca
desta conexão. “Nosso sistema está apto a se conectar com iniciativas
pioneiras e de grande porte – daí termos adotado normas mundialmente
consagradas. Mas ressalto na tese que uma infraestrutura de informação é
composta também por regras e acordos, com ênfase na importância das
pessoas em todas as etapas, envolvendo o pessoal de desenvolvimento,
curadoria, pesquisadores e usuários.”
Segundo
Carlos Joly, o trabalho de sua orientada tem contribuído tanto com o
PPBio (Programa de Pesquisa em Biodiversidade), do MCTI, e com o PELD
(Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração), do CNPq, como para a
estratégia nacional envolvendo o Sistema de Informação sobre a
Biodiversidade Brasileira (SiBBr), que está sendo desenvolvido pelo MCTI
e do qual Debora é membro do Comitê Técnico Consultivo. “Temos um
conjunto grande de iniciativas bem-sucedidas no país, mas falta
interação. O MCTI busca isso, ao trazer profissionais do INPA, Jardim
Botânico, RNP, MMA, IBGE, EMBRAPA, do LNCC e da Politécnica da USP, com
diferentes experiências, para subsidiar decisões visando formar um
conjunto integrado. No cenário internacional, o Brasil tornou-se
recentemente participante do Global Biodiversity Information Facility
(GBIF), que reúne dados de biodiversidade do mundo inteiro.”
Publicações
Tese: “A integração da informação sobre biodiversidade e ecossistemas para embasar políticas de conservação”
Autora: Debora Pignatari Drucker
Orientador: Carlos Alfredo Joly
Coorientadora: Leila da Costa Ferreira
Unidades: Instituto de Biologia (IB) e Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH).
Autora: Debora Pignatari Drucker
Orientador: Carlos Alfredo Joly
Coorientadora: Leila da Costa Ferreira
Unidades: Instituto de Biologia (IB) e Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH).