sábado, 4 de fevereiro de 2012

A canalhice terceirizada. E de como uma sociedade privatista e selvagem maltrata seus idosos.

São Paulo, sábado, 04 de fevereiro de 2012Ilustrada
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Bilheteria do Theatro Municipal restringe assentos para idosos



Ao acompanhar mulher de 76 anos, Folha presencia restrição de gratuidade a setor com visão comprometida

Secretaria Municipal de Cultura de SP diz que demais entradas já tinham sido entregues, mas investigará o caso
MATHEUS MAGENTA
DE SÃO PAULO
Depois de passar a infância em uma granja com quase 400 galinhas, a bióloga aposentada Tsugui Nilsson, 76, achava que não conviveria mais com um poleiro (vara onde aves pousam e dormem). 

Mas anteontem, ao tentar obter ingressos para espetáculos no Theatro Municipal de São Paulo, foi informada na bilheteria de que o benefício para pessoas com 65 anos ou mais era restrito ao "poleiro", como é conhecida a área da plateia com visão comprometida do palco. 

"Comecei a assistir espetáculos no teatro quando tinha 16 anos. Assistia no poleiro porque não tinha dinheiro. Agora acabarei minha vida lá de novo? Nunca houve restrição de lugar antes", afirma. 

Ontem, a Folha acompanhou Nilsson à bilheteria do teatro. Uma funcionária do local informou que as entradas gratuitas eram no "poleiro" por "determinação da produção do espetáculo". 

Para a ópera "Magdalena", de Heitor Villa-Lobos, por exemplo, ela recebeu um ingresso para o setor três da galeria, penúltima área de assentos em relação ao palco. 

O decreto municipal nº 30.730/91 estabelece uma cota de 8% de ingressos gratuitos para pessoas com 65 anos ou mais em eventos promovidos pela Prefeitura de São Paulo em locais fechados. 

Segundo o artigo 3º do decreto, os ingressos serão reservados, seguindo a proporção descrita acima, "em cada setor da sala de espetáculos". 

Frequentadora assídua do Theatro Municipal, Neuza Guerreiro de Carvalho, 81, esteve anteontem com a amiga Tsugui no local e diz que é a primeira vez em que é informada sobre essas restrições. 

"Foi uma atitude no mínimo preconceituosa e desrespeitosa para com os idosos, que, num lugar desses, não ouvirão nem verão quase nada do espetáculo." 

Ela, que é professora aposentada e blogueira, disse que protestou no Twitter e no Facebook, mas ainda quer entregar uma carta ao secretário municipal da Cultura de São Paulo, Carlos Calil. 

Em nota, a Secretaria Municipal da Cultura de São Paulo disse que lamenta, que investigará o ocorrido e que "reforçará a orientação para a empresa terceirizada responsável pela operação da bilheteria, a Ingresso Rápido". 

Ainda segundo a pasta, no caso da distribuição gratuita de ingressos, os assentos localizados nos setores de melhor visibilidade já tinham sido distribuídos e só restavam entradas grátis para os idosos no setor 3 da plateia.